QUATORZE

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Toda essa mudança de ares me deu vontade de encontrar o Isaque. Vou levar a Julie como álibi, assim não fica na cara que fui lá só para vê-lo.

E não é que dou de cara com ele? Está de camiseta branca, um pouco justa, calça jeans e tênis, os cabelos jogados para o lado direito. Ele ainda não me viu, de dentro do quiosque, onde está trabalhando. Não sei como faço para chamar sua atenção. Acho que vou soltar a coleira da Julie e deixá-la correr atrás das pombas, ele irá reconhecê-la. Mas, nada! Ele nem levantou a cabeça. Será que devo ir até lá e dar um "oi"? Ele vai me achar oferecida? Já sei, vou mandar uma mensagem!

"E aí, como está o dia de trabalho?". Ele pega o celular e digita alguma coisa. "Estaria melhor se você aparecesse".

"Que tal olhar pra frente então?". Eu vi! Seu rosto se iluminou! Acho que ele também gosta de mim!

− Engraçadinha!

− Pensei que você não fosse me ver nunca!

− Por que não foi até lá me chamar?

− Sei lá, fiquei com vergonha.

− Quer dar uma volta?

− Claro! JULIEEE VEM!

E lá vamos nós três andar em volta da lagoa.

− E aí, o que fez no feriado? Você está vermelha do sol.

− Fui à praia com meus pais... – Será que eu devia contar que o Doug foi também? – E com o Doug.

Melhor falar a verdade, ele é só meu amigo mesmo.

− Esse carinha aí vai com você para todos os lugares?

− Mais ou menos, somos muito amigos, desde pequenos.

− Hum, entendi. E foi legal?

− Foi sim. – Droga, não sei mais o que falar. – E o movimento aqui?

− Foi grande, vendemos bastante!

− Que bom! – Lá vem mais um espaço de silêncio. Pensa rápido, Sophie. – Você me contou da sua mãe, mas não me contou do seu pai. Como ele é?

− Meus pais são separados. Meu pai casou novamente e teve outros filhos. Ele é químico, não o vejo muito, mora em Santa Catarina. E o seu?

− O meu pai fugiu no mundo, abandonou a minha mãe quando estava grávida, mas eu ganhei outro pai. Ele tem uma loja de materiais de construção e era professor do curso de engenharia.

− Que história! Você teve muita sorte!

− Sim, eu tive. E a sua mãe não conheceu outra pessoa?

− Ah, conheceu, mas eu nunca me dei muito bem com eles. Agora ela está sozinha.

− Que pena! Acho que todos merecem uma história de amor.

− Não sei se acredito em amor. Acredito em duas que pessoas que se dão bem e queiram passar a vida juntos.

− Isso chama amor!

− Pode ser. Mas é como ganhar na loteria.

− Será? Será que nós não podemos fazer dar certo?

− Nem tudo mundo está disposto.

− Mas tem muita gente que está. Que tal um sorvete?

− Boa ideia, eu pago!

  ~♡~ 

Volto para casa e fico lembrando o que vi hoje de manhã, na escola. A Gabi acompanhada de seus pais entrando na sala daquela mulher, a tal da Leila. O que será que está acontecendo? Será que a Gabi está encrencada? Será que ela aprontou e chamaram seus pais para alertá-los? Será que descobriram os riscos nas paredes? Mas eles não pareciam bravos, e a Gabi parecia bem, bem até de mais.

Tenho que parar com isso, não dá para ficar o tempo todo investigando a vida da Gabi. Pego o celular e resolvo mandar uma mensagem para o Doug.

"Estudou para a prova?"

"Claro que não. Já planejei um esquema para você me dar às respostas"

"São 17 horas. Você tem até a meia noite para estudar. Boa sorte!"

E agora? Com quem eu posso conversar? Vou mandar uma mensagem para o Isaque.

"Sinto muito pela Julie ter comido o seu sorvete"

"Na hora não pareceu, você engasgou de tanto rir... kkkkk"

"Sorry... kkkkk"

Ele que me desculpe, mas foi muito engraçado mesmo, com ela não dá para bobear, sua boca é mais rápida que o nosso cérebro.

Chega essa hora da tarde eu me sinto um pouco sozinha, sem ter com quem conversar. Será que meu pai está ocupado? Vou ligar para ele.

− Oi, paiiiii.

− Oi, filhaaaa.

− Vamos ao shopping?

− Não vai dar, querida, o feriado atrasou todo o meu trabalho. Por que não chama o Doug?

− Não dá, ele tem de estudar para a prova.

− Você já estudou?

− Mais ou menos, mas eu li os exercícios que estão feitos no caderno, acho que sei tudo, vou tirar 9 de novo.

− Aiaiaiai, que feio essa falta de modéstia!

− Ninguém mandou você me passar a sua memória fotográfica!

− É a genética, né, FILHA?

− Sim PAI, a nossa genética!

Adoro quando ele diz isso! Mesmo sabendo que não é verdade...

− Agora preciso desligar, Sôfi, beijos.

− Beijos.

E a minha mãe, será que está ocupada? Ligo para ela.

− Aconteceu alguma coisa, Sophie?

− Calma mãe, não aconteceu nada, só queria dar "oi".

− Nossa, que susto, você nunca liga durante o plantão.

− Desculpa, atrapalhei?

− Não, não, pode falar.

− Só queria saber se você vai demorar pra chegar hoje.

− Sim, filha, hoje está bem corrido aqui. Você precisa de alguma coisa? Seu pai não pode te ajudar?

− Não era nada, mãe, não se preocupe, depois nos falamos, beijos.

− Beijos, Sôfi.

Certo, não tenho mais opções, o jeito é pegar um livro para ler...

Quem Narra a Minha Vida Sou EU (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora