Capitulo Nove

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Eu havia me tornado uma garota de vidro. Estilhaçando em mil pedaços quando em mãos descuidadas. Trincando diante de palavras malditas. Mal ditas. Havia me tornado uma garota de vidro, mas sem a transparência. Eu só estava sempre trincando, partindo, estilhaçando e cortando os que se aproximam. O tempo e a vida haviam me transformado em uma garota de vidro: fácil de quebrar e de cortar.

Empurrei a porta do quarto e me joguei sobre minha cama.

Estava lenta e pesada. Como se estivesse no fundo de uma piscina, com pedras amarradas aos meus tornozelos, me esforçando ao máximo e ainda assim sem conseguir voltar a superfície para tomar fôlego.

Puxei o ar com força e afundei meus dedos na cama, ouvindo meu celular vibrar debaixo do travesseiro. Normalmente eu mal me lembrava da existência dele.

Agarrei-o e me sentei, empurrando meu cabelo para trás. Eu adorava ver o tom azul nas ondas do meu cabelo, era como se aquele tom — puro e divertido — pudesse resgatar uma parte de mim. Como se ele pudesse me tornar alguém diferente.

Examinei a mensagem pela barra de notificações. Era curta e vazia, apenas dizia "Festa hoje. Se estiver livre aparece aqui. Beijos, Rafa."

Era bem a cara dele organizar uma festa em plena terça-feira e bem a minha não perder.

—Posso entrar? —Math perguntou, entrando e fechando a porta.

—Você é inacreditável. —falei rindo.

Ele se sentou ao meu lado e passou o braço por meus ombros.

—Não gosto de brigar com você. —murmurou.

—Você me conhece tem mais de uma década e ainda acha que aquilo foi um briga? —perguntei. —Levanta aí, vou te mostrar como eu brigo!

Matheus riu e fechou os olhos, encostando sua cabeça na minha:

—Eu amo você. —sussurrou.

—Eu sempre soube. —devolvi, erguendo minha mão para tocar seu rosto.

—Posso dormir aqui?

—Ninguém vai dormir! Rafa acabou de me convidar para uma festa. —contei animada.

—Céus. Ele tem essa queda gigantesca por você há quanto tempo?

—Humm. Dois anos? —arrisquei.

Houve um momento em que eu parei de contar os dias. Apenas decidi que não importava, que eu não precisava saber e que saber não mudava absolutamente nada. Nessa mesma época, eu parei de levantar da cama e desisti de tentar fingir que estava viva. Só era cansativo e inútil.

—Eu não aguento mais vocês. —Layne reclamou, invadindo o quarto com os irmãos Ryan a tiracolo.

Ao que parece, eles conseguiam irritar até mesmo ela.

—Mas você já pensou em como vamos sair? Quer dizer, você machucou o pé e estamos meio fora de mão. Inclusive, tia Edna exagerou dessa vez. —resmungou, revirando os olhos.

—Eu não preciso pensar, tenho a fuga perfeita. —falei, fechando os olhos.

—Vocês vão fugir? —eles perguntaram juntos.

—Sim e vocês vão junto. —Matheus declarou animado.

—E para onde exatamente nós vamos? —Daniel perguntou curioso.

—Aish. Para o inferno, talvez. —resmunguei.

—Uma festa. —ele disse ignorando meu comentário.

S.O.S Internato: A Marrenta tá na área!!!-DEGUSTAÇÃO ||LIVRO ÚNICO||Onde as histórias ganham vida. Descobre agora