Capítulo 1

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Prefiro acreditar que esse dia nunca aconteceu. Que ele não se foi, mas se eu fizer isso terei que apagar 10 anos da minha vida. Não posso fazer isso, mas também não quero conviver com essa dor no coração.

-Oh, filha, não fica assim. - Diz minha mãe entrando no meu quarto e me abraçando como ela fazia quando eu era pequena e me machucava.

- É tudo minha culpa mãe. Se eu tivesse impedido ele de atravessar a rua, nada disso teria acontecido. - Falo em meio de lágrimas e soluços.

- Posso fazer alguma coisa por você?

- Pode.

- O quê? Faço qualquer coisa que estiver ao meu alcance.

- Me deixa sozinha um pouco.

- Tem certeza?

- Sim.

- Tudo bem. Qualquer coisa estamos lá em baixo.

Assim que ela saiu do meu quarto, comecei a chorar ainda mais. Para abafar o som do choro enfiei a cabeça no travesseiro e acabei caindo no sono.

Sonho que estou com o Luiz andando na rua e de repente aparece um carro na nossa frente. O carro para e o Luiz apenas fala "corre". Não dou ouvidos a ele e continuo onde estou, mas o carro começa a andar e vem acelerando na nossa direção, então ele grita "CORRE". Dessa vez eu obedeço e começo a correr. Depois de um tempo decido olhar para trás pra ver se o Luiz está perto. Como não o vejo paro de correr e olho em volta, mas nada dele. Percebo que o carro esta parado e que tem algo embaixo dele. Ao me aproximar vejo que é uma pessoa. O motor do carro é ligado novamente e eu penso em correr, mas quero saber quem esta debaixo do carro e preciso achar o Luiz por isso fico onde estou. O carro da ré revelando quem esta debaixo dele. Quando vejo que é o Luiz eu fico em pânico. Procuro pelo carro, mas ele já sumiu. Solto um grito que me desperta.

- HEILEY! - Meu pai entra no meu quarto assustado. - O que foi filha?

- Nada, foi só um pesadelo.

Ele se acalma.

- Ata, você me assustou. Quer conversar sobre isso?

Apenas balanço a cabeça de um lado para o outro negando.

- Tudo bem então, vou voltar a dormir. Qualquer coisa pode me acordar.

Assim que ele saiu do meu quarto pego meu celular para ver as horas e vejo que são 03:40h da manhã. Dormir não vou conseguir tão cedo e como não comi nada desde que cheguei do enterro decido descer e comer alguma coisa. A casa está toda silenciosa e escura (não é pra menos são três da manhã). Vou andando pela casa com o flash do celular ligado. Posso morar nessa casa há cinco anos, mas quando o assunto é escada não me dou bem com ela. Já perdi as contas de quantas vezes já cair dessa escada. Abro a geladeira e vejo que tem bolo, iogurte, um resto de pizza (acho que minha mãe não fez janta essa noite), refrigerante, algumas verduras, suco e mais algumas coisas. Decido comer a pizza e tomar um copo de suco.

Termino de comer e volto para o meu quarto. Decido tentar dormir novamente. Demoro acho que meia hora mas caio no sono. Quando acordo já são 10:30h. Não sei como minha mãe não veio me acordar, pois para ela à partir de 10 da manhã já está tarde. Vou em direção ao banheiro, escovar os dentes e tomar um banho. Quando estou perto do banheiro, meu pai me chama:

- Heiley, você está bem?

- Estou sim. Eu acho.

Então ele veio em minha direção e me abraçou. Tive vontade de chorar, mas eu segurei. Quando ele me soltou e olhou pra mim eu estava com os olhos cheio de lágrimas só esperando para se libertarem. Olhei para o meu pai e vi que ele estava com uma cara de preocupado e triste ao mesmo tempo.

-Vou tomar um banho. - Disse depois de um tempo

- E eu vou terminar de limpar o quarto, pois se sua mãe chegar e ver que o quarto esta do jeito que estava na hora em que saiu ela me mata. - Então era por isso que minha mãe não me acordou mais cedo. Ele agora estava sorrindo. Dei um sorriso (forçado) e entrei no banheiro. Ao me olhar no espelho eu estava péssima. Minha cara estava inchada, meus olhos estavam vermelhos e com olheiras e meu cabelo estava todo bagunçado. Escovei os dentes e entrei no banho, chorei tudo que tinha que chorar pelo resto do dia.

Ao sair estava me sentindo um pouco melhor. Fiquei o resto da manhã no meu quarto lendo. Eu estava completamente conectada ao mundo do livro que eu estava lendo, nem vi a hora passar, até me assustei quando minha mãe bateu na porta.

- Vem almoçar, você deve estar morrendo de fome já que não jantou ontem e tenho certeza de que não tomou café da manhã hoje.

- Tudo bem já estou descendo e eu comi sim um pouco de madrugada. - Ela me olhou com uma cara de repreensão, mas logo voltou ao normal. - Só vou terminar de ler esse capítulo e já desço. - Disse por fim.

Acho que eu comi uma quantidade de comida que eu comeria em 3 dias, pois meus pais ficaram surpresos pela quantidade de comida no meu prato.

Ao terminar eu resolvi entrar no twitter e no facebook, estava desde de antes de ontem sem entrar. Ao abrir o facebook a primeira coisa que apareceu na minha timeline foi a noticia do acidente do Luiz fechei imediatamente. Então fui para o twitter, mas aconteceu a mesma coisa os meus seguidores todos estavam me mandando pessames e até subiram a hashtag #LutoLuiz e #ForcaHeiley. É hoje não seria o dia em que eu ficaria o dia inteiro na frente do computador ou do celular. O estranho é que nenhum dos meus amigos tinha me mandado uma mensagem, vindo me visitar para me distrair, me telefonado pra saber como eu estava, nada. As vezes eu acho que eles não são meus amigos de verdade. Eu sinto como se eles não se importassem comigo. Eu sinto falta dos meus amigos de Lagoa Rosa. Mas eu não os vejo há 5 anos desde que me mudei para Torente que é onde moro hoje. Decido para de pensar nisso e voltar a ler o livro que estava lendo. Quando eu abro o livro meus pais entram no meu quarto, logo atrás deles estão minha tia Magda e meu tio Roberto os pais Luiz.

- Heiley, querida... - Depois que li um livro odeio que me chamem de querida.- Agora que você esta mais calma você poderia nos contar como foi que tudo aconteceu? - Minha tia disse com o maior carinho na voz. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e ela logo percebeu.

- Viu Valter, eu falei que que ainda não era uma boa ideia pra falar sobre isso. - Disse minha mãe com cara de brava pro meu pai. - Tudo bem filha, não precisa falar agora se não quiser, mas nós precisamos saber o que realmente aconteceu, ontem você não estava falando coisa com coisa.

- Não, mãe, tudo bem, é melhor eu falar agora pois eu pretendo esquecer que isso aconteceu.

- Tudo bem, pode começar quando quiser. - Disse ela por fim.

- Foi assim:



Você se lembra de mim?Where stories live. Discover now