Dezanove

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A cabeça marca o agitado bater do coração. O som rítmico causa confusão a nível das minhas ideias, já baralhadas. Abro os olhos, sendo primeira coisa que vejo um teto branco constituído por umas manchas pretas. A visão desfoca tornando tudo num grande borrão feio. Levanto a cabeça da superfície abaixo desta, uma dor persistente borbulha na nuca e eu paro-me e pouso a cabeça de novo. Imagens brilham descordealmente em pequenos flash's. O rosto degradado do sinistro homem faz-me machucar fortemente o papel debaixo do meu corpo. Passos apressados ouve-se num local próximo, quanto mais se aproximam mais difícil é aguentar a dor acumulada.

-Estas bem? Vou chamar a enfermeira para te observar.- a voz que tanto tem sido presente fala e eu sinto-me aliviada.

-Não é preciso, estou bem só me doi um pouco a cabeça.- a dor física nunca vai ser superior a psicológica. A dor de cabeça é o menor dos meus problemas.

-É melhor chamar a enf--

-Harry já disse que estou bem, se continuares a falar só vais piorar a minha dor de cabeça.- massajo a extremidades da minha testa em busca de uma diminuição da dor.

-Nós temos que falar Mia.- suspiro e fecho os olhos. Não sei quanto tempo dormi, o suficiente posso prever não ter sido, sinto-me exausta.

-Quero descansar.- atiro. Sei que ele vai aceitar esta desculpa. Não quero descansar, mas quero dormir com esperança de deixar de sentir as mãos nojentas daquele homen na minha pele.

-Descansas depois, o que aconteceu é serio e eu preciso que me contes cada detalhe. Eu vou matar esse merdas.- ele sibila. Ergo-me quase automaticamente e miro no seu rosto sério. Uma tontura desnorteia os meus sentidos e sento-me enconstada a parede de cimento. Achei que a minha desculpa o desmedia.

-O que sabes?- eu digo.

Ele desvia o olhar e esfrega os olhos fechados. As olheiras debaixo dos seus olhos mais escuros grita falta de descanso. Não quero que ele saiba dos acontecimentos nos chuveiros, iria sentir-me mais desconfortável e suprimida nas perguntas que sei que vão explodir em breve.

-Eu sei que um filho da mãe qualquer tentou abusar de ti. Quero saber quem foi e tudo o que ele te fez.- ele cospe amargamente, as sobracelhas franzidas e o maxilar tenso saliente.

-Não quero falar disso.- murmuro.

-Vais falar quer queiras quer não. Esse.... nem tenho palavras para a imunda pessoa que esse gajo é.- leva as mãos a cabeça que abana negativamente ao som das suas palavras.

-Chegas aqui como tivesses algum poder sobre mim e atiras perguntas despropositadas.- pauso sentindo a dor de cabeça a espalhar raios pelo corpo.- Eu não vou responder a nada.- digo mais calmamente e tento acalmar o meu coração descompassado.

-Tens razão desculpa... não devia ter falado assim. Podes por favor contar o que se passou ontem?- ele pede e eu estou farta da sua atitude.

Ontem? Dormi mais tempo do que o deduzido. Olho em redor vendo o escasso consultório com armários brancos. Lembro-me de chorar nos braços da amável senhora que me salvou, o resto é uma nuvem branca e enevoada. Se aquela senhora não me tivesse salvado o que teria acontecido? Ele iria...

-Mia estas a ouvir-me? Fala comigo eu posso ajudar-te.- o Harry interrompe o meu raciocínio e eu agradeço por isso.

-Ajudar em que? Não há nada para ajudar e tu só trazes problemas sem soluções.

-É isso que pensas?- o olhar enfraquece e eu sinto-me horrível. Ele esta a tentar ajudar-me e nem assim eu sou agradável. Os maus momentos que ele já me fez passar não se vão varrer facilmente, as palavras duras da sua mãe também não. Isso influência a minha frieza.

Brave {H.S}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora