Capítulo 3

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Já havia se passado quatro semanas que Dorothy estava instalada na casa de Tobias e sua família, seus ferimentos foram muitos e a jovem precisaria de tempo para se recuperar, mesmo que ela já não sentisse dores, alguns não haviam cicatrizado.

Os acontecimentos vividos por ela ainda eram muito recente, então, às vezes ela pegava-se lembrando do inferno que era viver com seu padrasto. Assim como se lembrava da noite antes de ser resgatada por Tobias, esses pensamentos perturbavam seus sonhos.

Mesmo relutante e quase impossível, ela afastava as lembranças que tanto a assombrava e forçava a lembrar dos tempos felizes, quando era apenas ela e sua mãe. Mesmo que as lembranças eram vagas, ela se agarrava a elas.

Por perder seu pai quando ainda tinha um ano, sua mãe sentava-se ao seu lado, depois de leva-la a uma praça próxima a casa delas, e lhe contava histórias dos dois, sempre animada em ouvir o que a mãe tinha a dizer, ela se apegava a essa lembrança.

Dorothy sempre ajudava Margareth nas tarefas de casa, iam para a igreja onde o pai de Tobias era pastor. Algumas pessoas olhavam torto para Dorothy, se perguntavam quem seria a moça. Margareth dizia ser a filha de uma prima, Adrian sempre a reprendia por mentir, mas ela não poderia dizer toda a verdade, poderiam colocar a vida da jovem em risco.

Depois do culto, Dorothy foi ajudar Margareth a fazer o almoço, no entanto, o cheiro da azeitona a deixou bastante enjoada, correu imediatamente para o banheiro. Margareth e Tobias ajudaram Dorothy, preocupados com ela, temiam que ela estivesse doente novamente. Mesmo sem perceber, Dorothy havia se instalado no coração de ambos, e ela era importante para eles.

— Dorothy, o que foi? Você está bem? — perguntou Tobias, enquanto segurava o cabelo da moça.

— Não sei o que houve, o cheiro da azeitona me deu uma vontade de vomitar. — falou, recuperando a respiração. Margareth buscou para Dorothy um xarope natural, que iria ajudar a parar a vontade de vomitar. Depois de toma-lo, ela escovou os dentes.

Durante o almoço, Dorothy conversara com eles normalmente, como se nada tivesse acontecido. Mas Margareth e Tobias continuaram preocupados com o estado da jovem. Depois do almoço, Margareth chamou seu filho para que conversassem, enquanto Dorothy lavava a louça. Adrian estava fora, havia ido visitar alguns membros da igreja que estavam doentes.

— Meu filho, mas que nunca devemos levar Dorothy para fazer alguns exames, essa não foi à primeira vez que a vi correr para o banheiro. O problema, é que ela está sem documentos. Em uma das nossas conversas, ela me disse que ela nunca mais teve acesso a eles depois da morte da mãe, já que o padrasto os tomou dela. — ela explicou — Estou pensando em um meio de fazermos isso sem precisar dos documentos, acho que vou falar com alguns dos colegas do hospital no plantão de hoje e amanhã levaremos ao hospital.

— Mas isso não trará problemas para a senhora? — Tobias perguntou, preocupado com a mãe.

— Não filho, podemos fazer formar experimental, no laboratório, tem essa opção. Não se preocupe, falarei com o pessoal. — Margareth falou, tranquilizando o filho e passando a mão em seu cabelo.

O dia passou tranquilo, sempre no final da tarde, Dorothy ficava na varanda lendo um dos vários livros que Tobias a emprestara. Quando Dorothy estudava, ela sempre arrumava um tempo para ir a biblioteca. Mas depois que acabou o ensino médio, ela perdeu o costume. Já que Filip odiava que ela perdesse seu tempo com baboseiras. Quando Tobias soube disso, ele tratou de leva-la na pequena biblioteca que tinha e, deu a total liberdade de pegar qual ela quisesse quando quisesse, mas ela nunca fazia isso, por vergonha. Ele era quem ia e a entregava os livros para ela.

Quando Tobias chegava, de seu trabalho temporário, antes de entrar, ele sempre ficava conversando com Dorothy por um longo tempo. Quem não gostava nem um pouco da aproximação foi Adrian. De fato, ele não tivera gostado de saber que ela era prostituta.

— Você percebe quem você colocou dentro de nossa casa? — ele dissera, quando sua esposa contou que tipo de vida ela levava. — E você acha mesmo que ela foi obrigada a fazer tal coisa? Faça-me o favor, Margareth. Quando ela corromper o nosso filho, não diga que eu não avisei.

Quando ele dissera isso, Margareth não acreditou. No entanto, não o respondeu. Com a aproximação dos dois, os comentários começaram a ficar frequentes, perguntando quando Dorothy iria embora, se ela não tinha nenhum familiar, Margareth, com sabedoria levava tudo para o lado cristão, questionando-o as coisas que ele pregava na igreja, deixando o marido sem ter o que falar.

No dia seguinte, os três foram ao hospital, Margareth solicitou uma bateria completa de exames de laboratório.

Demorou duas semanas para os exames ficarem pronto, os resultados haviam sido perturbadores. Dorothy pelas dificuldades da vida, tinha anemia, deficiência de ferro, dentre outras tantas deficiências de vitamínicos e minerais. Margareth, sensibilizada com a situação da garota, comentou com o filho que iria conversar com o marido para adotarem Dorothy oficialmente. Tobias não entendia o porquê, mas ele não havia gostado da ideia de ter Dorothy como irmã. Ele não queria vê-la como irmã.

Faltava apenas um exame para saber se estava tudo certo, mas não deram muita importância, era o de gravidez. Quando o resultado chegou nas mãos de Margareth, ela abriu e se assustou com o resultado. Dorothy estava gravida de cinco semanas de gestação. Ela se alegrou, no entanto, ficou apreensiva com a reação da jovem. Quando deu a noticia, a reação de Dorothy foi pior do que imaginada.

— Eu não quero essa criança! É filho daquele monstro. Não posso e nem quero levar essa gestação à frente. Não quero nenhum laço com aquele monstro. — Dorothy falou em lágrimas, assustando Tobias e Margareth.

— Dorothy, é seu filho também, ele não tem culpa do que esse homem fez com você. Filhos são sempre uma benção. Talvez, Deus tenha enviado essa criança para testar a sua fé. — Margareth falou, enquanto consolava a moça em seus braços. Não poderia deixar que ela fizesse isso com um ser inocente, mesmo sendo concebido da forma que foi, ela não acreditava que abortar seria o certo.

— Vamos te ajudar, não vamos deixa-la sozinha nunca mais. Você vai amar seu filho, se lembra, quando você disse para mim, que pediu a Deus que você tivesse a chance de achar uma família que te amasse? Talvez essa seja a chance, aceite seu filho. — Tobias disse, passando a mão nas costas da garota a consolando.

— Eu não conseguirei ama-lo. Sempre que olhar para essa criança, vou lembrar de tudo o que eu passei. Ele não será feliz e nem eu.

— Pense melhor nesse assunto, mas eu gostaria que você soubesse, eu não gostaria que você abortasse, mas não impedirei de você fazer isso, se for a sua decisão final. Nós estaremos do seu lado.

— Tudo bem. Se eu não abortar, quando ele nascer, irei entrega-lo para adoção. — ela falou, um pouco mais calma

— Vem, vamos fazer um exame para ter certeza, uma transvaginal, minha amiga já esta nos aguardando. — falou Margareth, tentando distrair a moça.

No consultório, tanto Dorothy quanto Margareth tentaram fazer com que Tobias saísse do consultório, mas o mesmo se recusou. Então, a obstetra o expulsou, dizendo que ela precisava de privacidade.

A Dra. Jones conseguiu localizar o pontinho de feijão e mostrou na tela, depois de alguns instantes, já se ouvia o som do coração do feto. Margareth e Dorothy se emocionaram, mas a jovem, tentou não demonstrar. Não importava se ela estava emocionada ou não, apenas se emocionou pelo fato que sempre sonhou em ser mãe, mas não naquelas circunstâncias.

Iriam continuar indo ao hospital, todas as semanas para saber como o bebê estava e fazer o pré-natal, se caso Dorothy resolvesse continuar com a gravidez, é claro. O mais difícil, seria convencer a Adrian a aceitar a jovem órfã e agora, grávida.

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