Caminhamos até a beirada da piscina naquele final de tarde. O Lu queria ver o sol se pôr. O ajudei a se sentar, sentei em uma cadeira ao seu lado e segurei em sua mão.

O céu estava tão lindo que meus olhos chegaram a ficar marejados quando olhei... Uma camada branca tentava invadir o espaço do rosa claro, que por sua vez, disputava espaço com o amarelo alaranjado. A única cor que se sobressaia as outras e conseguia invadir parte de seus espaços, era o amarelo claro disseminado pelo sol.

Apertei fortemente a mão do Lu, que também admirava o espetáculo da natureza diante de nós. Ele me olhou com ternura e sorriu para mim. Senti um aperto forte no peito ao ver aquele sorriso tão cansado que outrora fora tão luminoso e cheio de vida.

- Eu te amo! Nunca se esqueça disso, Laurinha... - Ele me disse.

- Também te amo, Lu!

Acariciei seu rosto, deixando uma lágrima escapar de meus olhos. Quanto tempo mais eu ainda o teria? E depois que ele partisse, o que seria de mim?

O negror da noite invadiu o céu, expulsando todas as outras cores de lá. O Lu passou os dedos em meu rosto também, sem atrapalhar o curso de minha lágrima tão solitária quanto eu ficaria depois que ele partisse. Ela molhou meus lábios. Fechei os olhos tentando me concentrar para expulsar aquela dor que parecia vir da alma. Eu não podia transmitir sentimentos ruins a ele.

Ele tocou meus lábios com os dedos.

- Não fique triste por mim, Laura! Por favor! Me promete?

Olhei em seus lindos e cansados olhos verde esmeralda...

- Eu não sei se posso prometer isso, Lu. Já tive muitas perdas na vida, não posso aceitar perder você também. Fique comigo...

Ele abriu a boca para falar algo, mas o ar o faltou. Gritei por socorro...

Em minutos, ele já estava dentro de uma ambulância a caminho do hospital. Seus olhos clamavam por ajuda enquanto seus pulmões tentavam captar algum ar. Foi muito doloroso vê-lo naquele estado e não poder fazer nada para ajudar.

Dona Rose, mãe do Lu, me abraçou, chorando desesperadamente depois que levaram seu filho para longe de nós. Só nos restava esperar e orar para que ele voltasse vivo de lá.

Tentei me manter forte o quanto pude, mas eu estava a beira de um colapso interno. Depois de horas de espera sem notícias, deixei dona Rose dormindo no sofá da sala de espera e saí... A noite estava fria, tão quanto minha alma. Eu não podia aguentar mais uma perda! Não podia... Não posso!

Resolva isso de uma vez, Laura... – A voz bonita soprou em meus ouvidos.- Você sabe que só tem uma saída para você... Libertação, Laura... Liberte-se desse corpo carnal...

Sai andando sem rumo pela calçada. Nem me atentei para onde minhas pernas me levavam. Eu só não queria estar ali quando a notícia da morte do meu amigo chegasse.

Abracei a mim mesma tentando me livrar do frio ao meu redor. Era o frio da morte que me cercava, me chamando... Venha, Laura... Apenas eu posso resolver seus problemas... O vulto de uma bela mulher com vestido branco me chamou a segui-la. Eu obedeci, encantada com aquela moça, que parecia até um anjo. Talvez ela fosse mesmo resolver meus problemas.

Eu não queria ficar sozinha novamente, como havia ficado depois que meus pais foram tirados de mim. Eu queria partir junto com o Lu. Quem sabe encontrar o Rafa do outro lado.

Você não vai me encontrar se fizer o que está pensando em fazer, Laura... Me escuta! – Era a voz do Rafa em meus ouvidos agora.

Parei quando o vulto da moça parou também. Só então percebi que estava em frente ao meu prédio. Entrei e subi, ainda a seguindo.

Sai do elevador sentindo o vento gelado levantar meus cabelos. A moça havia desaparecido e eu estava novamente ali, de pé naquele parapeito, sozinha com as vozes e meus conflitos.

Encarei a profundidade abaixo dos meus pés, como já havia feito um dia, mas dessa vez eu estava mais amarga. Sequer tinha lágrimas para deixar escapar por minha vida que estava prestes a ser abandonada por mim. Eu estava tão cansada...

- Me perdoe, Rafa. - Disse, mesmo sem conseguir vê-lo.

Eu sabia que ele estava ali.

- Não posso mais aguentar isso, então não me empeça dessa vez, por favor. Eu te amo para sempre, Rafael! - Digo o que pensava ser minhas palavras finais, apreciando a última brisa fria que tocava minha pele.


°Ponto de vista do Lu

Eu estava morrendo naquela cama de hospital!

- Parabéns, Luís! Você conseguiu! Laura está a caminho do prédio dela novamente e virá para nós de uma vez por todas. - Escuto a voz do mestre.

Laura iria se matar por mim!?

Estranho, mas não me senti feliz com a notícia. O que senti foi um pesar desmedido. Percebi ali que não queria aquilo. Sei que finalmente a teria perto de mim para sempre, que estava ganhando daquele anjo, mas ela nunca seria feliz ao meu lado. Ela nunca seria feliz tendo a alma condenada ao lugar asqueroso que estava reservado para ela ao lado do pai.

Laura era boa demais para mim e merecia o céu, eu sabia disso. Lembrei de seu olhar doce apreciando o pôr do sol mais cedo e meu coração se encheu de amor por ela. Por mais que eu tivesse levado tantos males a sua vida terrena, não podia permitir essa maldade absoluta e eterna.

Decidi ali, naquele momento, pela primeira vez em minha existência, fazer algo bom a alguém. O que decidi fazer, na verdade, não era apenas uma bondade genuína e sem interesses, era mais do que isso. Era um ato de altruísmo, no qual eu sabia que poderia pagar caro por ele pelo resto de minha eternidade.




Anjo Meu Where stories live. Discover now