Capítulo 24

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Não, Laura! Você sabe que nada vai acabar... só vai piorar... Era a voz do meu Rafa. Aguente, Laura... Por nós... Por um futuro eterno e feliz...

Pressionei os ouvidos com as mãos para não escutar mais nada. Eu não queria ouvir nem a voz do Rafa. Ele também era culpado pelo que aconteceu aos meus avós. Por que ele não os salvou?

Uma onda alta me cobriu. Mergulhei, mas voltei a emergir. Eu ainda não estava com coragem suficiente para sucumbir ao desejo de minha carne atribulada.

Vai, Laura... só mais um pouquinho pra lá e todo o sofrimento chegará ao fim...

E se a voz bonita estivesse certa? Eu não tinha como saber sem tentar... Será que consigo? Morrer afogada não era a menos dolorosa das mortes certamente, mas foi assim que meus avós morreram.

Foi quando eu estava prestes a obedecer a voz, que senti o sopro frio em meus ouvidos e me virei para olhar... Vi uma coisa asquerosa, demoníaca, e me assustei. Voltei para a areia depressa. Como um ser tão horrendo pode ter uma voz tão bela?

Haviam outros deles na minha cola. Corri sem olhar para trás, apanhei minha bolsa... Cheguei na moto ofegante, mas não parei para descansar. Subi nela e fui embora, deixando minha sandália e minha coragem para trás. Sou uma covarde! Nem me matar eu consigo!

Acordei me sentindo pesada. Minha cama estava forrada pela areia da praia. Me lembrei do que havia acontecido na noite anterior. Eu nem havia tomado um banho antes de desabar, ali mesmo onde acordei.

Meu estômago roncou e doeu corrosivamente. Nem me lembrava da última vez que colocara algo lá. Fui até a cozinha ver se havia algo comestível, mas não encontrei nada. Vi os exames dos meus avós em cima da mesa, mesa esta que ainda estava arrumada do jeitinho que minha avó deixara.

Levei a mão a boca para engolir o choro. Voltei para o quarto procurando o celular, afim de ligar pro Seu Manoel. Se eu ficasse ali sozinha, do jeito que estava, ia voltar a ver aqueles demônios asquerosos que vi na noite anterior logo logo...


Comecei a trabalhar no mesmo dia. Lise nem disfarçou a cara de "você está péssima" ao me ver. Eu não estava nem aí para minha aparência... eu não estava nem aí para nada pra dizer a verdade.


Alguns meses depois...


Nada mudou. Eu ainda tinha pensamentos suicidas e não sentia vontade de ligar para o Lu. Não nos falávamos há meses, mas ele ia na padaria de vez em quando. Quase sempre, para dizer a verdade. Ficava lá me olhando com a maior "cara de pena". Mas ultimamente, eu só conseguia sentir pena de mim mesma.

Ele também costumava me seguir quando eu saia de casa. Outra garota ficaria assustada, mas eu não. Eu não estava nem aí se ele resolvesse virar um psicopata. No máximo, me mataria, me picaria em pedacinhos para dar aos cachorros comerem. Dane-se! Desde que minha alma ficasse liberta finalmente, ele estaria me fazendo um favor.

O Rafa eu nunca mais vi. Dele eu sentia saudades...

A igreja era meu único refúgio. Pena que o culto acabava tão rápido e era só sair de lá para minha mente voltar a ficar turbulenta.

O tão odioso final de semana chegou mais uma vez. Fui dormir pensando se cortar os pulsos seria doloroso demais...


#Ponto de vista do Rafa

Tá certo que o tal de Luís parecia estar mesmo sofrendo pela Laura, mas eu ainda estava muito intrigado com ele. Sempre o observava dormir porque ele falava enquanto dormia e podia acabar me entregando algo.

Anjo Meu Onde as histórias ganham vida. Descobre agora