Part. 8

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Fui atrás de Pedro.

- Fala, Pedro.

- Para com isso, Diego.

- O que você fez?

Perguntei, então Pedro parou e ficou olhando para o quarto do medo.

- Aconteceu alguma coisa, Pedro?

- Desiste disso, Diego, eu não vou contar o que aconteceu ontem.

- Tô falando de agora, por que ta olhando assim pra solitária?

- Nada não...

Pedro abaixou a cabeça e continuou andando, fui junto dele, fomos para a sala e nos sentamos no sofá e ficamos vendo TV junto com Letícia. Pedro colocou sua cabeça em meu ombro, então coloquei meu braço em volta de seus ombros e continuamos vendo TV.

- Vocês estão namorando? - perguntou Letícia

- Não, por quê? - respondi

- Vocês não saem de perto um do outro desde que se conheceram, já transaram na sala de filmes, dormiram juntos essa noite e agora estão ai abraçadinhos, vendo TV.

Letícia era de longe a pessoa mais normal daquele hospício, se não fossem os surtos que ela tem de vez em quando, eu diria que ela é uma enfermeira ou uma médica do hospício.

Algum tempo...

Pedro estava dormindo no meu ombro, enquanto eu e Letícia víamos filme, mas acordou assim que os gritos começaram, olhamos para trás assustados para saber o que estava acontecendo. Era Madalena gritando e se arranhando, pedindo ajuda, dizendo que estava sendo queimada.

- Alguém me ajuda, faz essa dor parar. - ela gritava desesperadamente.

Eu e Letícia já vimos isso acontecer tanto que nem nos surpreendíamos mais, mas para Pedro tudo aquilo era novo demais, ele olhava assustado e com pena, para Madalena, que se atirou no chão gritando por socorro. Pedro não sabia o que fazer, então gritou para os enfermeiros que estavam caminhando calmamente até Madalena, como se nada estivesse acontecendo.

- Ajudem ela! Vão logo, façam a merda do seu trabalho. - os enfermeiros olharam um para o outro, um deles sorriu, assentiram e correram até Madalena, a colocaram na camisa de força e a levaram de lá. Eles nunca faziam aquilo, tinha certeza que algo ruim aconteceria, Pedro não devia ter feito aquilo.

- Por que eles não fizeram nada? Por que ninguém ajudou ela? - perguntou Pedro.

- Madalena passa muitas vezes por isso, é psicológico, nada para se preocupar, Pedro, os enfermeiros foram de vagar porque ela não estava com nada que pudesse ser perigoso, além do mais, eu já te falei, ninguém se importa com os pacientes daqui. - respondi.

- Você viu a reação dos enfermeiros, Pedro? Você não devia ter gritado com eles, agora pode ter certeza que algo vai acontecer, provavelmente vão te mandar para o quarto do medo. - disse Letícia.

- Se for só isso, não é nada demais.

- Eles podem te deixar lá quando tempo quiserem, você fica sem comida e sem água, Pedro. - disse Letícia.- Pessoas já saíram mortas de lá. Eu tomaria mais cuidado.

Pedro engoliu seco e assentiu, sentou-se para frente da TV e voltou a ver o filme, eu e Letícia fizemos o mesmo, estava tudo bem, até que um dos enfermeiros chegaram até nós e falou.

- Pra solitária, Pedro! - Pedro suspirou, se levantou e olhou pra mim, eu assenti e falei.

- Vai ficar tudo bem, você vai sair logo de lá. - ele assentiu e andou com o enfermeiro, que o segurava pelo braço, como se Pedro fosse seu filho.

Em seguida Madalena voltou para a sala e se sentou junto de mim e Letícia.

- Como foi hoje, Madalena?

- Depois que me colocaram na camisa de força, me levaram para a enfermaria, me deram um daqueles calmantes com dose grande e esperaram uns minutos. Adoro esses calmantes.

- Como você consegue? O gosto é horrível! - disse Letícia.

- Eu não ligo pro gosto, esses calmantes fazem a dor passar rápido...

Horas depois

Eu estava preocupado com Pedro, se ele estava bem, se haviam feito algo com ele, preocupado com a quantidade de tempo que ele ficaria ali...

- Espero que ele saia logo de lá e bem... - pensei.

Tentei dormir, mas não consegui, não parava de pensar no Pedro, me levantei e fui até a solitária, torcendo para que não tivesse ninguém no caminho que me impedisse de ver Pedro. Sei que eu não poderia tirar ele da solitária ou entrar nela e acalmar ele, se ele estivesse nervoso, mas pelo menos poderia ver e conversar com ele, já que a porta não era o tipo de porta que bloqueava sons e tinha uma janela nela, para que os enfermeiros pudessem ver se algo acontecesse.

Como se fosse novidade, não tinha ninguém por perto da solitária, estavam todos tomando conta de suas vidas, eu olhei pela janela e vi o Pedro deitado de costas para a porta, bati na porta e falei meio baixo.

- Pedro, sou eu, o Diego. Vim aqui pra saber se você está bem.

Ele se virou para a porta, estava meio longe ainda, mas deu pra perceber que ele estava chorando, senti algo estranho quando vi aquilo. Ele se levantou e foi até a porta, ainda chorando e falou baixo.

- Me tira daqui, por favor.

- Se eu tivesse como te tirar, eu tiraria. Te falaram quanto tempo você vai ficar aqui?

- Disseram que eu saio daqui amanhã, mas não aguento mais ficar aqui, estou com medo.

- O que aconteceu, Pedro?

Ele balançou a cabeça negativamente e falou:

- Nada, eu só não estou me sentindo bem, vai dormir, eu vou ficar bem.

- Eu não vou sair daqui.

- Você tem que dormir, Diego. - ele disse, limpando suas lágrimas.

- Eu vou, mas não vou sair daqui.

- O quê? Vai dormir no chão? - ele perguntou rindo, eu assenti com a cabeça.

- Não vou te deixar sozinho. Vou te proteger. - respondi.

- Sério?

- Sério!

Ele sorriu, agradeceu e disse que ia tentar dormir, que ia ficar dormindo ao lado da porta para ficar mais perto de mim, então se abaixou, eu fiz o mesmo, dormi sentado ao lado da porta, até amanhecer e tirarem ele do quarto do medo.


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