Instantâneo

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  Te vi pela primeira vez no final de um dia muito longo. Não estavaprocurando. Não estava prestando atenção. Estava cansada, frustrada,rezando pro dia acabar logo, imaginando que todas as outras pessoas ali sesentiam da mesma forma – exaustas, desejando descanso e nada mais. 

Foi aí que te vi. 

O mundo em câmera lenta, vi seus olhos sobressaindo entre um mar derostos. Gravei cada detalhe numa fração de segundos. Da cor do seu olhar,quando ele cruzou com o meu, até as pequenas sardas no seu rosto. Um lindorosto. Um daqueles rostos que a gente vê uma vez e não esquece. Um rostoque eu seria capaz de reconhecer em qualquer multidão, que eu reencontrariamesmo depois de anos. 

Quando bati meus olhos em você naquela tarde, eu soube. Soube quepassaria a vida inteira te olhando, se pudesse. Soube que era quem euprocurava, e soube que você, olhando pra mim fixamente, sabia disso também. 

Aqueles minutos foram os mais longos da minha vida. Fui empurrada emmil direções tentando te alcançar. Eu nem sabia direito onde estava indo, oupor quê queria tanto chegar lá – mas sabia que precisava. Olhos focados emvocê, sabendo que aquela era a minha chance. Minha única chance.O alarme soou. Tentei ser rápida, mas as portas se fecharam. Estaqueionde estava, o olhar perdido, grudado em você, conforme o trem entrava emmovimento. 

Você foi pra Vila Prudente. Eu fui pra Vila Madalena. Nunca mais te vi.Os minutos se perderam junto com a imaginação de uma longa vida ao seulado. Outros trens foram e vieram, e outros tantos amores platônicos com eles,mas de você, meu primeiro... ah, de você eu nunca vou esquecer.  


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