Primeiro Amor

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  Estacou em frente à vitrine daquela loja qualquer. Ignorou o movimento,as pessoas, os manequins, os tecidos coloridos – olhos fixos num único rostoloja adentro. 

Quanto tempo já havia se passado desde a última vez que o vira? Dezanos? Onze? Talvez menos, ela não se lembrava. Sabia apenas que faziatempo, muito tempo, tempo o bastante pra alterar a fisionomia de alguém. Praenvelhecer os traços, alterar a estatura. Mas os olhos... aqueles olhos elaconhecia. Aqueles olhos ela reconheceria em qualquer rosto, em qualquerlugar. 

Não soube exatamente porque, mas emocionou-se ao rever aquelesolhos, que sequer a miravam de volta. Um misto de nostalgia com coraçãoacelerado, rubor com olhos marejados, sorriso no rosto e pernas trêmulas.Como se nem um segundo tivesse se passado, como se seu coração nuncativesse se partido, como se o adeus nunca tivesse existido. Como se tivessevoltado no tempo, pra bem longe, pra quando pela primeira vez olhara pra ele. 

Tinha vivido todos aqueles anos, tinha conhecido tantas pessoas, tinhase apaixonado tantas e tantas vezes, e nenhuma delas superou aquele únicosentimento, rápido como um relâmpago. A euforia do primeiro amor,recuperada como se nunca tivesse cessado. Sufocava-a, inebriava-a.

 Então ele saiu, sem notá-la. Estava acompanhado de uma mulher e umacriança. Ela sorriu, mesmo que não pudessem vê-la, e divertiu-se com adeliciosa sensação de voltar no tempo através de seu coração. 

Os anos passam, a vida muda, mas o primeiro amor... ah, este é prasempre.  


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