seventy-eight

4.1K 377 129
                                    

abby

eram nove horas quando a campainha tocou. apressei os passos até estar de frente para a porta, meu corpo todo em choque.

tudo parecia fantasioso demais. shawn estava atrás daquela porta, só esperando eu abri-la para podermos aproveitar sozinhos.

shawn: eu tô aqui na porta, abby. venha abrir!

foi quando abri finalmente. lá estava ele. eu não tenho como descrever a sensação, mas tudo parecia melhor agora. ele estava num moletom cinza e skinny, suas bochechas um pouco coradas pelo frio.

"satisfeito, gafanhoto?" indaguei ao que ele me olhava, estático.

shawn sorriu, rugas se formando no canto de seus olhos. uma mistura de ansiedade e alegria me percorreu, me fazendo pensar no quanto isso era bom.

"eu tô com frio, posso entrar?"

então nós entramos. a sala tinha um ar mais leve, embora eu tenha ficado parada a pensar durante um bom tempo. shawn me olhou com os olhos brilhando, tirando seu moletom logo em seguida.

"você quer assistir alguma série? ou comer alguma coisa, sei lá." convidei. "a mamãe deixou panquecas no forno, mas nós podemos pedir uma pizza."

ele riu. meu corpo todo gelou na hora, pensando que eu havia falado algo de errado. quer dizer, eu estava nervosa. nunca algum garoto havia vindo até a minha casa.

"eu só quero deitar e assistir qualquer coisa. você sabe, eu tô meio machucado." ele caçoou, passando a ponta dos dedos nos cortes do braço.

eu sorri. segui em direção à escada e fiz um gesto para que me seguisse, então ele pegou na minha mão. estava fria, um tipo de aspereza que eu não tenho como descrever.

"eu juro cuidar de todos os machucados, tudo bem?"

"todos?" perguntou. "os de dentro e os de fora?"

"todos que forem precisos."

era lindo ver shawn com os olhos marejando. havia algo estranho com ele. não era uma coisa passageira, essa dor vinha de algum tempo. eu sentia. eu via. não era só pelo cameron. a tristeza que ele demonstrava era tão nítida que, mesmo ele tentando esconde-la, ela continuava ali. visível. deixando com que ele fosse ainda mais frágil.

nós deitamos na minha cama. as cobertas estavam todas emboladas, então resolvemos deixa-las dessa forma. shawn resmungou algo em seguida, mas eu não dei atenção.

"tem uma coisa peluda na minha perna." disse assustado.

nós vimos as orelhinhas felpudas de shabby apontarem para fora do cobertor, com uma carinha de piedade. shawn sorriu, pegando a bolinha de pêlos no colo.

"olá, shabby!" acariciou as orelhinhas beges do gatinho, que ronronou baixinho.


shabby se desvencilhou dos braços do pai e encolheu-se entre ele e eu. ru liguei a televisão e me aconcheguei no braço esticado do moreno.



And it's alright
Calling out for somebody to hold tonight
When you're lost, you'll find a way
I'll be your light
You'll never feel like you're alone
I'll make this feel like home

shawn acariciou meus cabelos, sorrindo como um bobão. o barulho da televisão servia como o único som feito pelo quarto. nem uma voz. nem uma palavra. só o toque.




"nós poderemos ser o suficiente?"



"você é o suficiente para mim, abby. isso basta."


foi quando shabby saiu do meio, parecendo saber o que viria a seguir.



nos minutos que se prolongaram, nós viramos um só. com sons, toques e promessas sussurradas ao pé do ouvido, nós mesmos admitimos para si mesmos:


um curaria os machucados do outro.


artwork ♍ shawn [book one]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora