Capítulo 7 - Encontro inesperado

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Mesmo quando se é um mago, acostumado a feitiços, monstros e deuses incorporando sua família, algumas coisas inusitadas acabam acontecendo, sendo surpresas agradáveis ou, infelizmente, desagradáveis.

Voar no dorso de um dragão, em uma bolha mágica, em uma ponte luminosa com todas as cores do arco-íris, sem dúvida alguma se incluía na categoria estranho quase desagradável. Ainda mais quando o dragão em que você está montado era a menina mais linda que você já viu.

A bolha mágica de Rhiaana nos permitia respirar no fluxo de espaço tempo, conversar e, o mais importante, evitava que fôssemos destruídos pela pressão atmosférica da ponte luminosa. Tudo seria ótimo, excluindo o fato de ter que ouvir Nara e Kisha conversando por toda a viagem.

Já faziam horas que estávamos viajando, umas cinco pelo menos. O tédio tomava conta de minha mente, pois os assuntos das meninas variava entre o mais gatinho da escola e a nova tendência de cores de esmaltes teen. Té-di-o.

Em determinada altura, senti algo cutucando minha mente. Automaticamente Ergui barreiras mágicas na mente, e fui contemplado por um olhar irritado do dragão.

Só então percebi que Rhiaana queria falar comigo, e pelo jeito, sem que minha irmã e minha prima ouvissem. Mesmo me sentindo exposto, abaixei as barreiras recém erguidas e ouvi a voz de Rhiaana em minha mente, bem mais profundas do que em sua forma humana.

>> Carter, estou tentando falar com você a algum tempo.

Envergonhado e sem saber como responder, só murmurei umas desculpas mentais. Ela pareceu satisfeita e continuou.

>> Assim que pousarmos em Xanandu, gostaria que me fizesse algo.

>> E o que seria? Perguntei curioso. Não conseguia imaginar o que alguém como eu poderia fazer para um ser tão poderoso como ela.

>> Quero formar um vínculo com você.

Olhei intrigado para ela.

>> Mas... Vínculos só podem ser feitos por deuses, não? E o animal deve ser criado por ele ou ter uma profunda ligação com a essência do deus. Então o animal passa a ser seu animal sagrado, não?

Rhiaana fez um som que só poderia ser um riso de dragão.

>> Vocês mortais são realmente estranhos e primitivos. Não, tolinho, qualquer ser poderoso pode estabelecer um vínculo com um mortal. Os deuses o fazem com animais, pois são deveras parecidos com humanos para que um vínculo entre as espécies funcione.

>> Mas as feras místicas, como os dragões, podem acrescentar coisas aos humanos que eles não tem, e vice-verso. Mesmo eu, posso estabelecer tal vínculo.

>> Como assim, até você?

Ela se calou, e vi que acertei em um ponto sensível. Antes que piorasse a situação, mudei de assunto.

>> Hum... Certo, deixa pra lá. Mas então, porque quer estabelecer um vínculo comigo.

Ela pareceu ponderar um pouco antes de responder.

>> Quando um dragão está no ovo, ele escolhe com quem estabelecerá um vínculo, ou se nascera sem estabelecer nenhum. Antigamente, se um dragão não estabeleceria um vínculo ao nascer, não podia mais ter um vínculo com humanos. Mas hoje em dia, com as mudanças feitas por dois poderosos urdidores de feitiços, um dragão pode estabelecer um vínculo com um mortal enquanto for adolescente. Este é meu último ano como adolescente, e não quero ficar sem um vínculo.

Entendi o que ela queria dizer. Pelos estudos que fiz, vínculos abriam portas para tipos específicos de magia impossíveis ou muito difíceis de serem realizadas por apenas um ser. O vínculo serviria para que a capacidade mágica do outro ser fosse somada a do primeiro, aumentando consideravelmente o poder mágico empregado com bem menos desgaste mágico. E isso era só uma das vantagens.

Porém, ao fazer isso, as implicações seriam imensas. Eu não sabia o que um vínculo proporcionaria para um humano. Como mago, ao sincronizar com um deus, automaticamente eu assumia os vínculos do deus em questão.

No caso de Hórus, seu vínculo com os falcões era tão forte que sua cabeça em modo falcon bem mais conhecida que seu rosto normal. O que eu não sei é se Hórus já era assim e criou os falcões, ou se o vínculo o transformou aos poucos.

Estava tão concentrado na voz de Rhiaana em minha mente que me assustei quando ela falou em voz alta.

- Preparem-se. Estamos entrando no portal de Xanandu.

Assim que ela disse isso, uma luz intensa brilhou por todo lado. Até com os olhos fechados víamos a intensa luz branca. Então, tão rápido como começou, terminou.

Estávamos sobrevoando uma floresta infinita. Sério, para todos os lados que olhava havia árvores, montes e rios. O ar era tão limpo que meus pulmões sentiram falta da poluição do Brooklyn.

- Que lugar lindo... Disse Kisha.

Realmente, era lindo.

- Vamos descer naquela clareira - disse Rhiaana, indicando com a cabeça o lugar. Ficava ao lado de um pequeno lago formado por uma cachoeira.

Bem mais suave do que eu achava possível, Elela pousou na clareira. Usando nossa magia, flutuamos até o chão. Assim que virei para Rhiaana, ela há era uma linda garota ruiva usando roupa igual a nossa.

- Ok - disse Nara -, pra que isso?

- Minha espécie é tida por muitos como extinta. Se as pessoas erradas me encontrarem, tentarão me matar para extrair meus ossos, dentes e pele. Então, vou me passar por uma maga da Casa da Vida, já que posso fazer magia - e, com um sorriso irônico e uma sombrancelha levantada, continuou -, bem melhor do que algumas magas que conheci.

E nesse exato momento, antes que Nara e Kisha pudessem tentar fazer churrasco de dragão, um brado ecoou na floresta. Instintivamente nos colocamos de costas e nossas armas vieram do Maat para nossas mãos.

Com o canto do olho vi as unhas de Rhiaana crescerem. Ela segurava uma espada de lâmina azul, com uma gema de safira no punho. Kisha e eu tínhamos nossas kosheps nas mãos, enquanto Nara estava com sua varinha e cajado.

Nara uniu seus instrumentos de magia e gritou um feitiço de proteção. Uma barreira se formou a nossa volta, mas eu sabia que duraria apenas o primeiro ataque, pois depois ela teria que desfazer para não ficar sem energia.

Em nossa volta surgiram guerreiros. Homens e mulheres, garotos e garotas e... Cara, por Hórus, era um centauro. Eles pararam a corrida quando nos viram. Começaram a conversar uma língua que nunca ouvi.

- Olimpianos - disse Nara. - Eles são olimpianos.

- Como você sabe? Perguntei.

- Estão falando na língua do Olimpo - disse Rhiaana.

Quando conversamos, eles se viraram para nós. Eram uns trinta ao total. Um cara de uns 19 anos deu um passo a frente. Tinha os olhos verdes e altura mediana. Nos observou por um tempo antes de soltar uma gargalhada.

- Pelos deuses, são magos da Casa da Vida.

Nos olhamos sem saber o que fazer. O garoto olhou bem para Kisha.

- Pelas barbas de Poseidon, você é filha da Sadie.

Olhou então para minha irmã e para mim.

- Nara e Carter, suponho - e apontando para minha prima concluiu. - E você... Kisha, certo?

Nara desfez a magia de proteção, já que os outros todos relaxaram.

- Quem é você? Como sabe quem somos?

O garoto me deu um sorriso sincero. Ele parecia normal, mas tinha uma... Aura de poder, mas que transmitia paz.

Ele ofereceu a mão e eu apertei. Os outros olimpianos se aproximaram, relaxados.

- Prazer Carter, você se parece muito com seu pai, mas tem um que de sua mãe no olhar. Eu sou Percy Jackson, filho de Poseidon.

O legado dos deuses - Os Heróis do Olimpo, Crônicas dos Kane, Magnus ChaseWhere stories live. Discover now