Capítulo 18 - O Grande

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P.O.V Nico

Acordei com uma baita dor de cabeça. Olhei ao redor e estava deitado em uma cama rústica, em um quarto mediano. Os móveis eram muito... Estranhos. Algumas coisas eu nunca vi e não tinha ideia de para que serviam.

Próximo a mim, tinha um biombo, aqueles trocadores de roupa antigos. No pé da cama tinha um tipo de toga romana, mas bege. Não que eu achasse normal aceitar roupas de estranhos em um lugar mais estranho ainda, e quente, por Hades, como fazia calor ali.

Ah, claro... Eu estava... Hã... Sem nenhuma das minhas roupas.

Sem nenhuma outra opção que não fosse receber quem quer que fosse meu anfitrião pelado, fui me trocar e, quando terminei, me senti como se estivesse a caminho de uma reunião do senado em Nova Roma. Odeio togas.

Antes que eu pudesse sair para explorar o lugar, uma garota entrou.

Era morena, baixa, com olhos puxados e se vestia parecida comigo (o que foi meio vergonhoso), mas o tecido de sua toga parecia mais simples (como se eu fosse especialista em togas). Ela entrou e se curvou, e disse algo em uma língua que não entendi.

- Eu não te entendo.

Ela tentou mais uma vez e suspirou. Respirou fundo umas cinco vezes, tempo suficiente para eu procurar pelo quarto qualquer coisa que pudesse ser usada como arma. Não me leve a mal, mas hospitalidade demais só pode significar duas coisas: um deus ou um monstro. Não que um cabideiro (aquilo tinha que ser um cabideiro) fizesse frente a uma hidra, ou coisa assim... Mas nunca se sabe.

A garota olhou para mim e disse pausadamente, apontando para si mesma.

- Eu, Padawni. Aqui, casa Akoma. Você entender?

Balancei lentamente a cabeça. Apontei para ela.

- Seu nome é Padawni.

Ela acenou, sorrindo timidamente. O sorriso dela era bonito, não que isso tivesse importância. Acabei para mim.

- Eu sou Nico.

Ela acenou novamente.

- Nico, filió Hades?

Me assustei um pouco, mas depois sorri.

- Sim, sou filho de Hades.

Ela se curvou novamente. Levantou e se aproximou devagar. Fiquei tenso, esperando que nascesse mais seis cabeças ou sei lá no que.

- Filiós deuses enviados honrar casa Akoma.

Hum... Será que eles se sentem honrados por estarmos aqui? Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu novamente. Um homem baixo, careca e com a barba volumosa entrou no quarto. Usava um manto negro. Seus olhos negros eram bondosos, e as rugas ao redor deles diziam que ele sorria bastante.

Padawni ajoelhou com o rosto em terra e murmurou uma única palavra.

- Grande.

O homem falou algumas palavras em um tom gentil com ela e a ajudou a levantar. Ela olhou para mim novamente, sorriu timidamente (e por mais que eu quisesse não pude evitar meu coração de bater mais rápido), curvou-se para nós dois e saiu.

O homem olhou para mim e sorriu. Senti um imenso poder nele, algo só comparado à presença dos deuses. Mas ele era mortal, tinha certeza disso.

- Olá Nico - disse ele em uma voz grave e gentil. - Seja bem vindo à Tsuranuanni.

- Tsura... Deixa pra lá. Obrigado. Mas, você é?

Ele ponderou minha pergunta por um tempo.

- No meu mundo, me chamam de Pug, o mago. Aqui, sou conhecido como Milamber, o Grande. Mas pode me chamar apenas de Pug.

Tentei entender o que ele disse. Já tinha visto magos por aí, mas ao menos que fosse um deus da Magia, como Hecate ou os egípcios, nunca era algo relevante. Este Pug por outro lado...

- Você é tipo... Um deus, aqui?

Ele se assustou, e depois riu. Não pude deixar de sorrir também.

- Não, de jeito nenhum - então ficou sério de repente. - Mas pelo que seus amigos me contaram, você é filho de um, em seu mundo. Certo?

- Sim...

Fiquei na defensiva. Eu sabia que havia outros mundos... As mitologias nada mais eram que histórias dessas outras faces da realidade da Terra, que os mortais não conseguiam ver.

Mas esse mago na minha frente, Pug... Eu tinha certeza de que ele não era da Terra. Ele disse que ali era Tsuranuanni, e que o mundo dele era outro. Acho que estava entendendo.

- Você disse que não é deste mundo, mas também não tinha conhecimento do meu mundo.

Pug apenas balançou a cabeça.

- Pelos jardins de Perséfone. Quer dizer que existe mesmo outros planetas habitados... E ligações entre eles?

- Sim - confirmou Pug. - Se não existisse, eu não poderia viajar do meu mundo para este. Usamos portais para a viajem entre Tsuranuanni e o Reino das Ilhas, meu lar. Mas o que me intriga é como vocês conseguem fazer essas viagens, já que aparentemente não sabem construir portais.

- Eu... Eu não sei. Fomos para Asgard, lar dos deuses nórdicos, buscar ajuda para a batalha travada em nosso mundo. Asgard é uma... Faceta, pode-se dizer assim, uma dimensão do nosso mundo, governada por seres poderosos.

"No caminho fomos pegos por uma tempestade. Nosso barco voador estava se quebrando, e uma escuridão tenebrosa veio sobre nós. Acordei no meio do nada, um eterno nada, escuro, com água negra até quase os joelhos. Andei sem parar procurando alguém, sem ter noção do tempo."

"Então, encontrei um garoto e... O garoto! Ele está bem?"

- Sim - respondeu Pug. - Hector está dormindo. Dorme mais que qualquer outra coisa, mas... Parece bem.

Seu tom de voz mostrava um certo receio, mas mesmo assim fiquei aliviado do garoto estar bem.

- Então - retomei a narração -, quando estava tentando ajudar o garoto, meus amigos surgiram do nada e me salvaram. A última coisa que me lembro é de estar em uma caverna com formigas voadoras com bunda brilhante, e depois acordar aqui.

Então eu parei. Porque estava falando tudo para um estranho, assim, sem mais nem menos? Olhei para Pug. Ele era mago...

- Você... Me enfeitiçou?

Uma sombra de um sorriso passou pelos labios dele.

- Por Hades, você me enfeitiçou. Me fez contar tudo o que aconteceu... Mas para que?

- Para saber se são confiáveis - disse uma vez feminina.

Uma mulher baixa entrou no quarto. Era bonita, devia ter uns vinte e poucos anos. Vestia uma toga como a minha (muito legal...) e tinha os cabelos presos em um coque cheio de pedras preciosas.

Ela se postou ao lado de Pug. Ele se encarregou de apresenta-la.

- Nico, está é Mara, a senhora dos Acoma e Serva do Império. Goza só privilégio de ser chamada de amiga pelo próprio Imperador.

Mara virou os olhos para mim.

- Vocês se dizem enviados dos deuses. Bem, não podia ser em melhor hora.

- Porque? Perguntei.

Ela olhou para fora e seus olhos se encheram de água.

- Porque nossos deuses estão morrendo.

Sagas presentes: A saga do Mago, A Saga do Império, Os Heróis do Olimpo.

O legado dos deuses - Os Heróis do Olimpo, Crônicas dos Kane, Magnus ChaseOnde as histórias ganham vida. Descobre agora