Epílogo - Brent

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Santa Fé, Minas Gerais. 05 de Agosto de 2011, 09:23 h.

-Eu insisto, tio. Todos os outros estão ocupados com a festa... Eu só quero ajudar.

-Mas você vai estar no trabalho, Brent... Não precisa faltar...

-Não será problema para mim. Já tenho algumas horas extras feitas, tenho um saldo. Além do mais, não vou poder estar no começo da festa, então queria ao menos buscá-la no aeroporto. Não seria nada complicado para mim, porque preciso mesmo passar por Belo Horizonte pra comprar umas coisas que estou precisando. E, já que eu estou indo para aquelas bandas, não vejo porque não posso ir.

-Você quer mesmo ir, não é? - Vi um brilho indistinto nos olhos de Alberto e limpei a garganta. Olhei à minha volta e vi a mãe de Sara parada, sentada numa perna do sofá, analisando-me. Ela parecia perdida em si mesma, concentrada em mim. Voltei a olhar meu tio e aquiesci para sua pergunta, em forma de resposta. - Pois bem, ficamos aqui nos preparativos da festa e você vai buscá-la. Mas é melhor ir logo, porque o voo dela não deve demorar, e ela deve estar cansada.

-Estarei lá quando ela chegar. - Fiz um aceno sutil de cabeça para os pais de Sara e desviei meu caminho para a saída da casa, com as mãos nos bolsos do jeans.

Minha cabeça zonzeava em pensamentos pelo tempo que dois meses significavam para mim. Saí pela porta da frente e desci os degraus da entrada, na direção do carro estacionado na calçada da casa. Ouvi uma voz feminina chamar-me às costas e olhei por cima do ombro. Lá estava a mãe de Sara, esguia, alta e loira, com os cabelos presos e o rosto perfeitamente isento de expressão. Os olhos dela pareciam vislumbrar além de mim.

-Sim, tia. - Previ que ela daria recomendações para cuidar de sua filha, mas ela desceu os degraus e andou até mim, se tornando menor a cada passo para perto.

-Brent, não sei se devia ir. - Ela falava sem qualquer sintoma em sua face, e eu franzi a testa.

-Por que?

-É somente um conselho. Você sabe quem ela espera ver lá. - Ela se referia, claramente, a Rodrigo. Eu passei uma mão pelo rosto, esfregando um dedo no olho. - Não é uma boa ideia você ir.

-Mesmo assim eu vou.

-É só um conselho. - A voz dela era segura e veemente.

-Obrigado. - Toquei seu ombro e o apertei. Ela meneou a cabeça ligeiramente e seus lábios se franziram, como se ela quisesse falar algo que nunca disse antes, e que nunca diria.

Porque, depois de um momento de silêncio, eu me despedi e caminhei até meu carro. Em poucos minutos eu estava na estrada, no caminho de casa, para tomar um banho e comer alguma coisa, antes de ir. Minha mente elaborou planos para todas as fases do dia e eu já enumerara todos os itens para completá-los durante as horas seguintes. Já havia ligado para Melissa e dito que iria a festa de boas-vindas de Sara, e que a veria à noite. Já havia calibrado os pneus do carro, enchido o tanque de gasolina, trocado o óleo. Já havia falado com Alberto sobre buscar Sara no aeroporto, com meu pai sobre a viagem e com minha professora sobre a falta no plantão. Eu já havia pago, antecipadamente, o dia de falta, inclusive.

Só faltava falar com Rodrigo e perguntar, uma última vez, se ele não iria buscá-la também. Minha mente fervilhava dividida entre lembrá-lo ou não da chegada dela, porque parte de mim queria vê-la sozinho, e outra parte que sabia que ela só ficaria plenamente feliz se Rodrigo estivesse lá.

Desfiz a teia confusa do binômio Sara/Rodrigo de minha mente e foquei minha atenção e meus esforços em trazê-la para casa. Começamos a retomar nossa amizade tal qual ela existia em um tempo anterior, antes do ressentimento, da dúvida, da dor. Antes de fazer com que uma camarada dos tempos de criança se transformasse em um amor, ou um incômodo desconfortável para ambos.

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⏰ Last updated: Jan 11, 2016 ⏰

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