Insônia

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Ele abrira os olhos novamente naquela noite. Não conseguia pegar no sono e já havia perdido a conta da quantas vezes já tentara. Havia tentado de tudo. Contar ovelhas, ouvir músicas calmas, tomar leite morno e até já havia tomado outro banho. Mas sempre que fechava os olhos, ele lhe vinha à mente.

Pensamentos e mais pensamentos o rondavam. Lembranças e mais lembranças o perturbavam. E, pela centésima vez naquela semana, ele se encontrava pensando nele.

Toda vez que encarava o teto, seu rosto se formava naquele espaço plano e branco. Seu rosto sorridente aparecia, e se formava um nó em sua garganta. Ele fecha os olhos outra vez, a fim de tirar a imagem de sua cabeça, mas novamente, como se estivesse gravado em suas pálpebras, as lembranças retornam. Era como se um livro se abrisse no meio daquela escuridão silenciosa de seu quarto.

O livro deles.

Ele fechara os olhos com força, sentindo-os arderem. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda o atormentava. Não conseguia esquecer o garoto de olhos tão negros quanto seus cabelos. Seus sorrisos doces e infantis estavam gravados em sua mente, como todos os detalhes daquele corpo pequeno e delicado. A personalidade bipolar e manhosa, que adorava lhe atormentar. Os traços infantis de seu rosto, que combinavam perfeitamente com seu corpo pequeno. Todos os minúsculos detalhes estavam gravados em sua mente e não saiam. Ele tentara de tudo para poder tirar o garoto de sua mente, mas, por mais que conseguisse, ele não sairia de seu coração. Mas, por mais que sofresse, ele não queria esquecer. Não queria que as lembranças dos dois juntos sumissem. Não queria que seu sorriso doce desaparecesse. Não queria o esquecer. E por mais que não admitisse na frente de seus amigos, ele ainda o amava com todas as suas forças. O amava incondicionalmente, tanto que chegava a odiá-lo.

Desistindo de pegar no sono ele decidira se levantar, caminhando a passos pequenos até a cozinha. Observava a casa totalmente silenciosa e escura e inconscientemente se lembrou do tempo em que o garoto ainda morava consigo. Do tempo em que a casa não parava quieta, tudo era motivo de festa para o mais novo, que sempre deixava a casa animada com sua personalidade hiperativa. De como o garoto inventava brincadeiras bestas ou o fazia correr atrás dele por toda a casa, para quando o alcançasse, entrelaçar os braços seu pescoço e roubar-lhe um selinho. Era sempre assim.

Sorrira minimamente ao se lembrar das brincadeiras manhosas do garoto. Quando ele estava carente e fazia de tudo para chamar a sua atenção, o tirando dos estudos, só para poder ficar abraçado no mais velho sentindo o cafuné que o mesmo fazia em si. Ele parecia uma criança.

A sua criança.

Fechara os olhos adentrando pela porta da cozinha suspirando frustrado. Andou até a geladeira a abrindo e pegando uma garrafa de leite para logo em seguida, encher um copo com o liquido. Encarou o copo em suas mãos e novamente, se lembrou de como o mais novo adorava beber leite logo de manhã e ficava adoravelmente fofo quando um bigodinho de leite se formava em cima de seus lábios. E quando sorria toda vez que ele comprava um de seus doces favoritos e o Jeon comia tudo em segundos, ficando com o rosto e as mãos lambuzadas de creme e chocolate e que no final, ele sempre acabava por limpar o mais novo de toda aquela sujeira. Soltou um sorriso soprado sentando-se a mesa. Encarou o copo com o liquido branco em suas mãos e permaneceu assim por um tempo, perdido em pensamentos.

Já faziam seis meses desde que ele saíra de sua vida. E nem sabia o porquê. O que ele fizera de errado? O que tinha acontecido com ele e o Jeon? Mas principalmente, por que resolvera terminar com ele tão de repente? Algo estava errado, Jimin sabia disso. Ele sentia. O brilho dos olhos do mais novo quando lhe falou todas aquelas palavras, que lhe cortavam o coração, estavam denunciando que tudo aquilo que falara, era mentira. Mas, mesmo sabendo disso, o Park decidira deixa-lo em paz.

Não, ele não tinha desistido tão facilmente assim. Nas primeiras semanas Jimin correra como louco atrás dele. Queria alguma resposta sincera por parte do garoto, mas sempre era ignorado. Passou a ser evitado. O maior sempre fugia quando Park entrava no mesmo ambiente, sempre corria com a cabeça baixa segurando os cadernos e livros entre os braços, os apertando contra o peito. Sabia que não seria tão fácil assim conseguir conversar com o garoto, ele era teimoso, e quando colocava alguma coisa na cabeça, não desistia tão fácil.

Não seria agora que isso iria mudar.

Olhara no relógio na parede da cozinha.

23hrs17min.

Voltou sua atenção ao copo em suas mãos e bebera o leite com calma, ainda era cedo para ele. Imaginava que já tivesse passado da quatro da manhã, mas, quando o assunto é Jeon Jungkook, parece que o tempo passa mais devagar, só para torturá-lo mais.

Largou o copo na pia logo após terminar de beber e se dirigiu a sala ligando a TV em qualquer canal que o chamasse a atenção. Era tedioso ficar ali sentando assistindo a um programa qualquer, mas era isso que ele queria. Tédio. Talvez o tédio o fizesse dormir, era a melhor forma de pegar no sono, não tomaria remédios, sabia que poderiam lhe fazer mal e ele não gostava nenhum pouco de qualquer medicamento. Por isso, optava pelo modo natural, por mais que demorasse as vezes e o fizesse lembrar ainda mais do pequeno garoto, ele ainda preferia assim.

E assim ficou, por alguns minutos, até ouvir batidas em sua porta.

Ele encarou o corredor - que dava acesso a porta de entrada do apartamento - confuso. Estaria ouvindo bem? Quem em plena consciência iria bater na casa de uma pessoa a essa hora da noite? E ainda mais, logo na sua!

Ainda encarava o corredor, se perguntando se estava ficando louco por começar a ouvir coisas, mas acabou por ouvir mais três batidas na porta e suspirou cansado. Quem quer que fosse, estava o incomodando, apesar de não estar fazendo absolutamente nada - a não ser pensar no outro - ele queria continuar sozinho. Se ele não tivesse o mais novo consigo, mais nenhuma presença o importava.

Caminhou a passos lentos até a porta, ouvindo pelo cominho mais batidas - dessa vez impacientes - na porta. Ele murmurava um "Já vai, já vai. ", e continuava o seu trajeto. Ao chegar a porta segurou a maçaneta com uma das mãos usando a outra para destranca-la. Estava com preguiça para olhar pelo olho mágico, e sabia que ninguém teria coragem de lhe roubar ou fazer qualquer outra coisa do gênero, porque, o que alguém iriam querer com uma pessoa como ele? Não tinha nada mais do que o seu apartamento - que ganhou de presente dos pais- e seus pertences. O bem mais precioso dele já havia ido embora, e nada se comparava. Fechara os olhos e abrira a porta calmamente, já começando a reclamar.

-Seja quem for, está me atrapalhando, eu não estou afim de papo e quero ficar sozinho. Não tem o porquê vir a essa hora na minha casa então, vá embor... - Sua voz morreu e ele paralisou ao ver quem estava a sua frente.

Estava sonhando novamente? Delirando? Ou ele estava realmente ali?

- K...Kook?

Caffeine Ξ JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora