IV.

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Sinto um medo irracional a tomar conta de mim. Tento abrir a porta mas nada feito, estava realmente trancada e eu duvido que se gritar alguém me venha acudir. Só pedia aos santinhos a quem todos rezam quando em apuros que me abrissem a porta por magia, que me deixassem sair. Observo as sombras negras a passarem pela pequena frecha que existia entre a porta negra e o chão de mármore. Belas amigas ahn? Agora decidem deixar-me para trás. Parecia um incêndio, via-se fumo rasteiro ao chão a passar por baixo da porta, uma imagem que de alguma forma me parecia familiar... Sento-me no mármore frio ao lado ao lado de tudo isto a olhar para o infinito. Continuava a rezar aos anjinhos que me ajudassem a sair, estava cada vez mais inquieta e nervosa. Odeio estar trancada. Odeio estar entre quatro paredes.

Oiço por fim o estalido proveniente da porta que me aprisionava ao desconhecido.

Esta abre-se vagarosamente. Estendo o meu corpo ficando com a cabeça de fora como se estivesse de sentinela a verificar o perímetro. Na verdade era isso mesmo que estava a fazer. Observava cuidadosamente o longo e infinito corredor amplo. Vejo as sombras a passarem por mim ignorando a minha existência mais uma vez. Seguiam sozinhas pelo corredor a fora despertando uma certa curiosidade em mim. Apoio as minhas mãos no chão e vejo que estão negras. Abafo o grito com elas. Tenho as mãos negras. Podia ver as minhas veias arroxeadas com um tom de cinzento-escuro por cima como se tivessem cobertas de cinzas. Levanto-me num só movimento de forma a não ter que encarar as minhas mãos com receio de as ver novamente naquele estado. Sigo as sombras por entre passos pequenos. Passo por portas semelhantes aquela que me trancava, mais portas do que posso contar. Não sabia para onde me dirigia mas sentia que estava a fazer o que devia. Observo as sombras paradas como se por mim esperassem a frente de uma sala. Sala 1.09.35. A porta abre-se sozinha. Mas agora estas abrem portas ahn?

Observo Hannah ao fundo da sala a um canto sentada encolhida sobre si mesma.

- Hannah? - Pergunto hesitante. Toda esta situação era muito esquisita.

- Kaya! - Diz correndo para mim. - Tu estás bem? Como vieste até aqui?

- Hum sombras... - Quis abraça-la, finalmente via uma cara que reconhecia. Debrucei-me sobre ela contudo Hannah recuou.

- Não me toques! - Exclamou fitando as minhas mãos. Também eu as fitei, continuavam acinzentadas, tinha a extremidades dos dedos ainda mais negras.

- Hannah eu não sei o que é isto, ajuda-me. Eu estava sozinha numa sala e apareceu uma mulher perguntou-me se me sentia diferente e eu neguei e ela saiu e eu quis sair mas não conseguia e depois - suspirei, recontinuando a longa e apressada explicação - a porta abriu-se e eu segui as sombras e vim até aqui e tenho as mãos assim e eu não sei como por não andei a pintar paredes, juro.

A rapariga de cabelos negros e olhos claros observou-me. Observou o meu peito que subia e descia freneticamente, as minhas mãos negras que tremiam e por fim os meus olhos.

- Está a acontecer. Temos de sair daqui, mexe-te.



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