CAPÍTULO 18 - A BANHEIRA

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Orocovis, Campo de treinamento, 29 de junho de 2020, 07:02 AM.

Ao recobrar a consciência, percebi que estava presa a uma cama em um quarto inteiramente branco. Minhas pernas e braços estavam acorrentados, e a sensação de desespero tomou conta de mim. Gritei por ajuda, e após alguns minutos um rapaz adentrou o quarto. Ele tinha cabelos castanhos escuros e curtos, com um aspecto selvagem e desgrenhado, seus olhos negros me fitaram com frieza, enquanto um sorriso desprovido de emoção se estendia em seus lábios. Seu corpo era forte, com músculos definidos, e ele usava um moletom verde que delineava seus braços e peito, intensificando a sensação de aprisionamento.

—Onde estou? O que está acontecendo? —Todas as minhas perguntas foram ignoradas. Ele me soltou das correntes.

—Não tente fazer nada. Venha! —Pediu ele. Levantei-me e o segui.

Caminhamos por um corredor longo e estéril, suas paredes brancas e lisas refletiam a luz fria das lâmpadas fluorescentes. Ao fundo, ouvimos a multidão ensandecida, gritando e se aglomerando em torno de algo que parecia ser o centro das atenções. Conforme nos aproximávamos, pude ouvir os gritos estridentes de uma apresentadora anunciando o evento do dia. A porta de aço que nos levou ao campo de futebol era robusta, com travas grossas e pesadas, denotando a importância do que estava por trás dela. O rapaz digitou sua senha e a porta se abriu com um rangido metálico. O campo era enorme e a multidão parecia ter vindo de todos os cantos do mundo. Pude ver Sara no meio do campo, cercada por homens armados, todos usando roupas brancas. A multidão foi dividida em três grupos distintos, cada um vestindo uma cor diferente. Os espectadores na parte inferior das arquibancadas usavam moletom amarelo, os do meio vestiam vermelhos e, no topo, todos eram pretos. Pessoas uniformizadas de cor verde e branca eram as grandes aliadas de Sara.

—Atenção! —Sara exigiu com autoridade no microfone, fazendo com que a multidão presente emudecesse instantaneamente. Fiquei surpresa e curiosa sobre como ela conseguiu reunir tantas pessoas em um só lugar. Aos poucos, caminhei em direção ao centro do campo, onde notei mais alguns jovens com as cabeças cobertas por sacos. Sara, então, aproximou-se de mim com uma expressão fria e determinada. Notei que estes no meio do campo ainda estavam com roupas comuns como eu.

—Estes são os novos iniciantes do campo de treinamento. Dante, Ethan, Victória, Yan e Yanne... —Ao citar os nomes ela arrancou os sacos da cabeça de cada um. Havia mais de cinquenta jovens ali com idades entre oito e vinte anos. Fiquei surpresa e feliz ao perceber que Ethan estava vivo, isto significa que possivelmente Nicolas, Alana e Alice também. Ele também ficou muito contente em me ver e queria aproximar-se, mas o guarda não deixou de verdade. Notei que John estava bem vivo ao lado de Sara, fiquei enfurecida com meus erros. Retornei meu olhar para Ethan que tentava me dizer alguma coisa, mas estava muito barulhento. Todas aquelas pessoas me faziam acreditar que Sara poderia mesmo colocar seu plano em ação, era estranho, mas muito engenhoso. Lembrei-me de Emily dizendo sobre matar Sara futuramente. Passei os olhos imediatamente pelo campo procurando por mamãe e a vi próximo aos guardas também com roupas brancas.

—Neste campo, estamos nos unindo para lutar contra o maior mal que já ameaçou a humanidade. Todos vocês foram escolhidos para fazer parte dessa missão de salvar a humanidade. Vocês são a nossa esperança e juntos somos fortes o suficiente para derrotar esse grande inimigo. —Nesse momento, uma televisão de tela gigante foi ligada e começaram a surgir fotos de Ester, a inimiga pública número um. As imagens eram chocantes, mostravam o estrago causado por ela e seu exército de zumbis. As pessoas presentes no campo ficaram em silêncio, observando as imagens com terror e desespero.

—Toda a informação que possuímos sobre a peste não passa de uma grande conspiração, uma farsa bem arquitetada. Possuo provas irrefutáveis de que o vírus foi criado em laboratório com um objetivo obscuro: dizimar 80% da população humana. O governo americano, de forma astuta e meticulosa, vem se preparando para esse cenário há anos, realizando simulações e estudos secretos em suas bases. Após o surto da pandemia, eles selecionaram criteriosamente cientistas e outras pessoas essenciais para a sobrevivência da espécie humana e armazenaram recursos e armas em quantidades suficientes para garantir a sobrevivência em um bunker por dois anos. Tenho motivos para acreditar que existe uma cidade subterrânea dentro dessas bases, uma espécie de refúgio para os escolhidos.

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