4. Briga entre irmãos

Start from the beginning
                                    

Abri os olhos e vi Kile, ele estava com uma colher de pau numa mão e uma panela na outra, ele batia um no outro, provocando um som agudo.

- Para, seu louco.- falei lhe dando um leve soco no braço.

- Parei. Parei. - ele falou se rendendo.- Você está com uma cara péssima.

Ele cutucou meu rosto como se tivesse algum animal extraordinário no mesmo.

- "Cê" tá inchado. - pausou.- Espera! Você estava chorando?- ele questionou.

- Visível demais? - perguntei.

- Demais! Minha mãe falou que você me ligou. O que se passa?

- Lua...

- Uuhh, aí vem bomba.

- Para.

- Ok, mas o que tem a Lua?

- Brigamos.

- Sério? Cara, "cê" conhece suas brigas, num momento estão como cão e gato e depois estão que nem... Ahn...Sei lá ... chiclete.

- Mas dessa vez... Foi diferente.

- Já tentou falar com ela?

- Já, bati na porta, gritei e nada.

- Sério?

- Sim. O que eu faço?

- Eu não sei, cara! O que é que você fez ?

- Meio que ... Falei que ela era estranha.

- Hum.

- Hum.

- E aí? Só isso?

- É!

- Ela sabe que é estranha.

Lancei um olhar mortal para ele.

- Calei.

- O que eu faço?

- Você só disse que ela é estranha.

- Mas ... Mas eu entendo ela. Eu aceito isso e eu não vejo mal nisso. Eu sou irmão dela, devo apoia-la, cara. Ela sofre com todo mundo chamando ela de estranha, mas ... O próprio irmão? Não! Ai já é demais.

- Vendo deste angulo ... É cara, você pisou na bola.

- Cara, eu já percebi isso, vai ficar esculachando isso na minha cara?

- Calma. Uau, ok, entendi.

- Vou falar com ela, ou pelo menos tentar.

- Boa sorte.

- Valeu.

Já estava subindo as escadas quando me lembrei de algo.

- Ei.

- Hum? - Kile disse deitado no sofá e ligando a TV.

- Como você entrou aqui?

- A porta estava aberta.

- Hum, acho que ... Tenho que me lembrar de trancar a porta.

- Isso foi uma indireta?

Dei de ombros.

Continuei a subir as escadas e parei diante daquela porta. Por um instante aquela porta negra onde havia escrito DANGER, parecia tão... Distante, parecia que a qualquer momento ela iria explodir. Bati na porta 3 vezes e ninguém respondeu. Ou ela me ignorava, ou ... Estava dormindo.

Prefiri acreditar na segunda opção. Encostei na maçaneta e o ferro estava frio. Girei, mas a porta não abriu. Pensei em empurrar e arrombar, mas lembrei que eu tinha uma chave extra de seu quarto, assim como ela também tinha uma do meu.

Corri até meu quarto e abri umas das gavetas, onde encontrei a chave extra. Abri a porta depois de destranca-la e vi Lua. Ela estava dormindo - como eu havia previsto -, a coberta estava bagunçada acima de seu corpo, o cabelo tampava uma parte do rosto,um braço perto do rosto e o outro estava dobrado em baixo da cabeça.

Ela tão serena. Observei a sua barriga subindo e descendo por causa da respiração.

- Lua? - chamei.

Ela se mexeu, mas não acordou.

- Lua? - chamei novamente.

Quando Lua acordasse, iria explicar tudo a ela, se ela deixasse.

A última coisa que eu queria, era ficar brigado com ela.

- Lua! - chamei mais alto.

Dessa vez ela abriu apenas uma parte dos olhos, mas os fechou rapidamente, como se ainda estivesse inconsciente.

- Lua.- falei com um tom de lamento na voz.

Novamente Lua abriu os olhos, mas agora por completo e assim que se deu conta de onde estava e quem estava na sua frente - no caso eu - ela se sentou e me olhou.

- Lua.

Seus olhos se encheram, como se por um segundo tivesse esquecido tudo, e depois, no outro segundo, tivesse se lembrado.

Estranha o suficienteWhere stories live. Discover now