Trinta e Nove - Corpo e Alma

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Ou talvez fosse seu coração.

O responsável por seu encantamento dormia na cama de campanha encostada à parede. Tinha um travesseiro fino sob a cabeça. O corpo estava enrolado precariamente em um cobertor insuficiente para a cruel baixa temperatura. Melissa entrou, para sentir aquele aperto no coração ao perceber que ele dormia, mas o corpo estava trêmulo devido ao frio.

Melissa deu um passo atrás do outro com calma, evitando o máximo de barulho possível. Não queria assustar Corey, e, com certeza o faria se não fosse cuidadosa o bastante. Ao se aproximar da cama, ela não conteve o sorriso nos lábios. Apesar da situação adversa, ele estava lindo.

Ela não queria acordá-lo, mas não resistiu ao impulso de lhe tirar algumas mechas do cabelo que caíam sobre a testa. Corey se remexeu incômodo e Melissa se ajoelhou ao seu lado.

— Shiu. — Ela sussurrou, acariciando-lhe o cabelo — Sou só eu, está tudo bem.

Como se fosse mágica, a voz dela voltou a acalmar Corey, e então ele adormeceu novamente.

Velar pelo sono de Corey por um tempo era uma boa ideia, afinal. Ou seria uma boa ideia, se eles tivessem tempo para momentos como tal.

Contrariada, Melissa se obrigou a despertar Corey de seu sono aparentemente bem aproveitado. Uma vez fora do St. Marcus, a hora do sono possuía diversas conotações mais positivas.

— Corey? — Chamou, em um sussurro baixo e calmo. A mão continuou o carinho na cabeça dele, que parecia estar sendo desfrutado.

Ele se remexeu e resmungou, mas não acordou.

— Corey?! — Melissa chamou novamente, levantando o tom de voz. A outra mão chacoalhou o corpo dele.

Então Corey abriu os olhos de uma vez, assustado. Deu um pulo para trás e só se acalmou quando, em meio à escuridão, foi capaz de reconhecê-la. Melissa sorriu.

— Bom dia. — Foi o que ela disse.

— Nunca mais faça isso, doutora. — Corey levou uma mão ao peito arfante.

— Isso porque eu acordei você com jeito... Se tivesse chegado aqui gritando teria feito o quê?

— Provavelmente te matado.

— Não é a recepção que eu esperava. — Melissa franziu os lábios e cruzou os braços. Ainda estava ajoelhada ao lado da cama.

— Nunca se deve acordar um homem que dorme. — Corey lhe respondeu, com uma expressão entendida.

Então sentou na cama, desenrolando-se das cobertas, e a puxou pelo braço, para que Melissa sentasse ao seu lado.

Ela quis relutar por um instante, mas a força que a mão dura de Corey fazia em seu braço, aliado ao característico formigar da pele, a fez desistir. Melissa subiu na cama e recostou as costas contra a parede de madeira mofada da cabana.

O braço forte de Corey imediatamente a envolveu e a trouxe para mais perto. Ele estava quente. E o seu cheiro característico impregnou as narinas dela como sempre fazia. Melissa sorriu e deixou que sua cabeça usasse o ombro largo dele como apoio. Corey beijou o topo de sua cabeça em seguida.

— Posso saber o que faz aqui uma hora dessas? Ainda nem amanheceu...

— Tem um horário certo para ver você agora?

— Não... — Corey negou calmamente, e a leve risada que deu fez sua voz reverberar de um jeito gostoso nos ouvidos de Melissa. Ela fechou os olhos. 1 Mas eu acho que deve ter alguma coisa errada... Você está tensa, doutora.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now