Capítulo um - Rebecca Moore

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Atenção! 

Essa história ficou disponível para leitura até 10/09, foi retirada para revisão, sendo deixado apenas alguns capítulos para degustação.


***


Podia ser pior.

Era o que eu sempre dizia a mim mesmo. Minha vida podia ser pior. Porém, isso nem sempre me convencia.

Por algum motivo, mesmo em meio a um planeta com oito bilhões de pessoas, todas separadas em seis continentes, sempre me senti como a pessoa mais sem sorte do mundo.

Começava pelo fato de ser uma das poucas louras que eu já vi a terem sardas sobre o nariz. Tudo bem que nem todas eram louras legítimas, mas mesmo assim. Minhas sardas pipocavam no meu rosto como os fogos de artifício fazem no céu no quatro de junho. Nada menos que isso.

Depois, vinha o fato de que eu era praticamente uma anã. Pode pensar que seria um exagero meu, mas constantemente você me via indo para a ala infantil do exército da salvação, porque, sim, eu não tinha muito dinheiro para ir a um shopping de verdade. Eu era tão pequena, que se houvesse algum trabalho para ser gnomo de jardim, nem sequer pensariam duas vezes em me contratar. E pode apostar que eu faria um inferno de trabalho bem feito.

Com minha altura, ou, bem, a falta dela, e minha pele tão branca como papel, eu poderia até mesmo me passar por uma caríssima boneca de porcelana. Mas com a falta de sorte que eu tinha, uma anã de jardim seria o máximo que eu conseguiria.

Nem com a minha falta de sorte eu tinha sorte.

A lista de prós e contras da minha vida, que tragicamente tinha muito mais contras do que eu gostaria, era quilométrica. E por mais que eu repetisse esse mesmo mantra em minha cabeça por pelo menos umas cinco vezes ao dia, ele não funcionava muito bem. Mas, hey, desde quando algo dava certo para mim?

Nunca. Nunca mesmo.

Isso me faz lembrar de uma vez, quando estava na segunda série, que eu havia sido, milagrosamente, escolhida para ser a rainha das fadas do recital de primavera. Já naquela época a minha falta de altura e palidez eram minhas rivais. Sei que isso deveria ser um motivo para ficar feliz, e eu fiquei! Contudo, quando chegou minha vez de entrar no palco, uma das estúpidas árvores me fez o favor de pisar na barra do meu vestido de encenação.

Eu era tão pequena. Tão miserável. E com nada mais que seis anos, já estava pagando calcinha para todos os meus colegas, e os pais deles.

Para o meu tormento, ninguém se esqueceu disso. Quatorze anos se passaram, e ainda havia algumas pessoas que me reconheciam. Como algum tempo atrás, quando fui ao Wal-Mart para algumas compras, um cara com provavelmente a mesma idade que eu, aproximou-se de mim dizendo:

- Hey. Eu te conheço de algum lugar?

- Não. - respondi.

- Mas você me é tão familiar...

Ignorando-o, continuei a pegar os itens da minha diminuta lista de compras. Ele não pareceu se incomodar com isso, e quando tentei sair de perto dele, ele me seguiu, olhando para mim de um jeito assustador, até que solucionou sua incógnita:

- Ah! Você é a garota da calcinha! Como é mesmo o seu nome? Renée?

- Não sei do que está falando. - eu respondi, fingindo um falso sotaque britânico e sorrindo amarelo para ele e me afastando o máximo possível.

Colidindo em Você (DEGUSTAÇÃO!)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora