Capítulo Seis

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Helida

Tudo está perfeito, o que seria um dia de caminhada finalizando nossa, enfim, lua de mel, foi interrompido pela chuva, mas para mim, tudo bem, estou ao lado do homem que amo, aquele que fez com que eu me sentisse linda, mesmo quando todos diziam o contrário. Caio sorri e segura minha mão a levando até os lábios, depositando beijos suaves em cada um dos meus dedos, sua brincadeira de sempre.

— Sabia que eu te amo, Lim? — Ele fala, de repente sério demais, fazendo com que eu olhe rapidamente para seu rosto, não querendo desviar a atenção da estrada.

— Também amo você, querido!

Saindo de uma via de acesso lateral, um carro nos atinge em cheio do meu lado, o impacto faz o carro girar e girar desgovernado barranco abaixo, antes que pare capotado. Minha cabeça dói, sinto um liquido quente escorrer pela lateral do meu rosto. "Droga bati com a cabeça em alguma coisa, aparentemente só está sangrando, menos mal!".

Pisco meus olhos algumas vezes tentando enxergar, porém está tudo escuro, escuro demais para ser normal. Tateio em meio ao caos atrás do Caio, minha mão encontra seu corpo mais ainda não enxergo, droga! Não vejo nada com essa droga de escuridão.

— Caio? Fale comigo, por favor, me responda, não consigo ver, está tudo escuro! — O chamo na esperança de que me escute, mesmo minha voz estando tão distante aos meus ouvidos.

— Lim... — Sua voz está fraca, tão longe, muito baixa, quase inaudível. — Amor... vai ficar tudo bem, eles logo nos acharão, há luzes em toda parte... — Não vejo luz alguma, devo ter sofrido uma concussão e como efeito perdi a visão, só pode ser isso, uma dor alucinante toma conta do meu crânio, como se milhares de agulhas fossem enfiadas uma a uma através do meu couro cabeludo repetidas vezes, então o escuro se fecha de vez ao meu redor, já não há dor, som, já não há Caio, nem eu...

— Nãooooo! — Esperneio desesperada.

Sento-me suada e tremendo, pavor, desespero, impotência, todos os tipos de emoção sufocantes, correm pelo meu sistema nervoso, sinto ânsia de vomito, curvo-me para fora da cama, mas nada além de ar sai da minha boca, não consigo controlar a reação do meu corpo ante aos pesadelos, ou melhor dizendo, a recordação do pior momento da minha vida, onde sinto o carro dar voltas e voltas no ar, até ficar completamente irreconhecível.

Isso não é o pior, a pior parte, é olhar para o lado e não ver nada, chamar pelo Caio e só ouvir um 'Lim' sair dos seus lábios quase sem vida, ao meu lado, ainda tentando acalmar-me em meio ao caos que estávamos vivendo.

Olho para o lado e vejo o meu pai vindo ficar comigo na cama, já segurando minha mão.

— Filha, você está bem? — Apesar de já conviver com este mesmo pesadelo por mais de cinco anos, meu pai sempre vem me ver, noite após noite.

Ficamos na mesma posição protetora de sempre, com ele segurando minha mão, esperando pacientemente que os espasmos causados pela ânsia incontrolável passem.

— Está tudo bem, pai, ao menos acho que vai ficar, algum dia. — Ele percebe que não estou bem, conhece-me melhor que eu mesma, o choro incontrolável que sobe pela minha garganta, me entrega.

— Oh, minha menina, como eu queria poder tirar essa dor do seu coração e vê-la sorrir como antes, minha princesa. — Seus braços circulam meu tronco, puxando-me até que estou segura no seu peito.

— Eu também, papai, mas parece só aumentar. Será que um dia essa dor vai melhorar? Sei que ela nunca vai passar, mas gostaria de poder respirar e me sentir menos incompleta. — Aninho-me ainda mais no seu colo, isso tem sido a única coisa que ajuda.

Voltando À Amar - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora