Conto 05 - Dia das Bruxas

796 80 35
                                    

                  

No dia 31 de Outubro a lua se encontra com sua energia espiritual no auge, já que é nessa noite que os espíritos vagam pelas ruas sem um rumo, tornando-se o melhor momento para roubar uma parte da energia da lua sem destruí-la. A noite é uma longa comemoração, onde varias bruxas saem à caça de crianças que tenham uma boa quantidade de energia dentro de si para darem como troca pela energia espiritual. Muitas falam que é uma forma de vingança contra os humanos pela caça as bruxas que começou no século XV e resultou na morte de mais da metade da sua espécie.

    Conhecido como Rituale Spiritalem Vigorem, o ritual é realizado na floresta do Norte, já que lá é o ponto mais alto do continente e o cemitério de seus antepassados, o tornando o melhor lugar para fazer a troca das energias.

    Todo ano o circulo que participa do ritual se torna mais forte com a energia roubada e cada vez mais é necessária aumentar a quantidade de sangue humano.

⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰⊰

Jane olhou para a lua e suspirou, esta noite ira participar de sua primeira caça. Sua mãe ficou horas lhe arrumando e ela se sentiu culpada por não estar nem um pouco animada com tudo isso. Não conseguia parar de pensar em todas aquelas crianças que seriam mortas por suas mãos e estava apavorada em não poder ficar em casa, como todas às vezes. Não concordava com os ideais da mãe, mas também não queria a deixar decepcionada com sua recusa, já que ela sempre demostrou seu orgulho pela filha em conseguir ser uma das melhores nos treinamentos. Como ela poderia jogar fora seus anos de treinamento? Não conseguia nem falar não para a mãe, imagina recusar todo seu futuro planejado? Não, ela nunca conseguiria tal feito.

-Precisamos ir querida - a mãe da menina gritou lá de baixo.

-Estou indo - Jane gritou em resposta e fechou a janela.

Terminou de amarrar os longos cadarços de seu novo par de botas e se encarou no espelho. Vestia o vestido antigo da mãe, a mesma falará que era uma tradição de família e que seria uma falta de respeito ir sem ele, mas já não aguentava mais ter seus pulmões sendo esmagados pelo espartilho.

-Deveria o ter jogado na lareira enquanto tinha tempo - resmungou baixinho, pegando seu chapéu pontudo e o jogou por cima de seu longo cabelo escuro.

Desceu correndo as escadas e encontrou a mãe olhando para o relógio impaciente. Sua outra mão balançava de um lado para o outro, fazendo a pobre gata da garota ser arrastada no ar com seu balanço.

-Está machucando Luz - Jane reclamou e pegou a gata no colo. A gata estava toda arrepiada e se assustou com o toque da dona, mas foi relaxando aos poucos.

-Cadê sua vassoura? - perguntou a mãe se levantando.

-Achei que não iria ser necessária - mentiu e voltou para seu quarto. Ela sabia que usariam a vassoura, mas detestava ficar carregando aquela coisa velha e esperava que a mãe percebesse apenas quando chegassem à casa de Judy, tornando impossível elas voltarem para pegar.

-Elas são essenciais - ouviu a mãe gritar enquanto tirava a vassoura da estante.

A vassoura era de sua vó e sua mãe achou que seria um grande gesto lhe presentear com ela em vez de comprar uma nova, o que foi totalmente ao contrario, já que a vassoura estava tão velha que na maioria das vezes que a garota tentava levantar voo, ela a empurrava para o chão. Era humilhante ter que sair da aula mais cedo, por causa da vassoura que teimava em não subir. Desceu correndo as escadas e mãe já estava a sua espera do lado de fora da casa.

-Vamos nos atrasar - falou enquanto a menina corria até ela.

A rua estava lotada de pessoas fantasiadas de tudo quanto é tipo, Jane achou engraçada uma garota que usava um vestido bem curto e segurava uma vassoura, nunca que a garota conseguiria voar com aquele vestido. Quando estivesse subindo, todos teriam uma visão privilegiada de sua calcinha e por mais que risse, por dentro sentia vontade de chorar. Jane sempre quis ser uma garota normal, para poder ter amigas e se divertir nessas noites fingindo ser um ser que não era por diversão. Ela sempre reparava no sorriso que essas pessoas carregavam quando batiam de porta em porta, falando a tradicional frase "Doces ou travessuras?'' e sempre se imagina no lugar delas, ali se divertindo. Seria bem melhor não ter que carregar tantas coisas em suas costas por um futuro que não queria para si mesma.

Halloween - Contos 2015Onde as histórias ganham vida. Descobre agora