Capítulo 12 - As três grandes brigas

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- E então? - Pergunta Brenda. Estamos voltando para casa, a pé. Quando estou nervosa ou agitada, me manter parada é um sufoco, então não quis pegar um táxi. - Quando será a entrevista?

- Ah, sexta-feira! Às nove da manhã.

- Cecilia sabe? - Brenda morde um pedaço enorme de sonho, que compramos numa parada em um café bem perto do trabalho.

- Não. - Respondi, de pronto. - Acho que ninguém contou a ela que estava se candidatando a outro emprego. Como ela está nessa de demissão, todas nós seríamos demitidas.

- Ainda bem que eu não fui aprovada, então.

- Mas se candidatou.

- Não importa! - Brenda responde imediatamente, mas logo interrompe o passo. Ela olha vidrada para uma vitrine, e eu sigo seu olhar. Quando eu penso que ela estaria olhando para sapatos, sou surpreendida ao ver gorros de bebê do outro lado do vidro.

- Brenda? - Chamo sua atenção. Ela vai até a vitrine e continua olhando.

- Não são lindos? - Pergunta, com a voz embargada. O que está acontecendo?

- Os gorros? São, lindinhos. Estranho pensar que tem seres que cabem nessa coisa, não é? - Indago, distraída.

Brenda me olha como se eu tivesse acabado de vomitar num bebê recém-nascido, e só então me dou conta de que.... Oh, ela está grávida.

- É... Mas, mas... São lindos! - Me aproximo da vitrine sem olhar para Brenda. Ela continua me encarando, posso sentir, mas logo me ignora e passa a fitar os itens de bebê novamente.

Brenda suspira pesadamente, com as mãos encostadas na vitrine e o rosto entre elas. Toco em seu ombro, oferecendo um pouco de conforto através do gesto, mas falhando debilmente, quando ela se volta para mim, e diz:

- Eu sei que não estou sendo a melhor mãe do mundo, até porque não me sinto uma ainda, mas... quando vejo essas coisas, a consciência grita, sabe?

- Hm-Rum. - Assinto. - Você ainda tem muito tempo para se acostumar com a ideia de ser mãe. Oito, mais ou menos.

- Menos. Estou com quatorze semanas.

- Ah.

Não sei mais o que dizer. A única pessoa que esteve grávida enquanto eu estava por perto foi minha prima, Lana, quando eu ainda morava com meus pais. Eu tinha 13 anos e não soube lidar com nada. Lana ficou grávida aos dezessete, e era bastante minha amiga. Como foi considerada "má influência" (pura besteira), eu deixei de "brincar" com ela, e só acompanhei as coisas de longe. Quando eu a via, não sabia como agir, pois estava proibida de passar mais de uma hora em sua presença. Além disso, não tinha ideia do que poderia acontecer quando "a hora chegasse". As pessoas continuavam usando esse termo relacionado à dor e sangue. E eu não queria estar lá quando a hora chegasse.

Mas é claro que eu estava. Não literalmente na hora, mas pude ver coisas que me deixaram com medo, muito medo.

E mesmo com esse medo, convidei Brenda a morar comigo, pois não tinha pensado na possibilidade de estar lá na hora.

E eu vou estar lá na hora.

Sou a única pessoa que mora com ela, a única alma que está em sua presença por pelo menos quinze horas ao dia.

Afasto as lembranças de Lana da cabeça e sorrio para Brenda, que está me perguntando o que tem de errado comigo.

- Está tudo bem. Só estou pensando que, daqui há alguns meses, teremos uma pequena mascote.

Brenda gargalha.

- Sim, acho que teremos. - Voltamos a andar, ainda conversando sobre questões da gravidez. - Juro que vou me comportar, de agora em diante.

- Muito obrigada. - Sorrio agradecida.

- Mas só uma taça de vinho, pode, né?

Enquanto eu estava com Max, havia pensado em ter um bebê uma vez ou outra. No começo do relacionamento, Max era quem queria um bebê e lutava para me convencer que precisávamos de um. Sempre fui um pouco dura nesta questão. Ter um filho, tão nova, como minha prima ou até minha mãe - que me ganhou aos vinte anos - fizeram, não me agradava em nada.

Gosto de estar ali com uma pessoa, manter um relacionamento e ser feliz à dois, mas não gosto da ideia de ter um filho me privando de tanto, assim, de repente.

As insistências de Max, sempre tão obcecado, me fizeram pensar no assunto, depois de algum tempo, e por um minuto de ilusão, eu fiquei feliz com a ideia de ter alguém por aí, no mundo, saído de mim. Comecei a tentar engravidar, mas só durou uma semana. Esse foi o tempo em que a ideia me fez feliz. Depois, morri de medo de estar realmente grávida. Quando soube que não estava, minha felicidade foi tão grande, que bebi duas garrafas de vinho sozinha, ao som de Garbage, e isso gerou a primeira grande briga entre mim e Max.

Foram Três Grandes Brigas:

· Não Vamos Ter Um Bebê Agora, como eu disse.

· Você não me apoia em nada: quando eu disse que a carreira de produtor musical de Max não ia dar em nada, afinal - e ainda acho que estou certa nessa.

· Nosso relacionamento é uma merda, não vamos mais ficar juntos: a briga que causou a separação.

Não foram tantas brigas, se comparados a outros relacionamentos, onde há muita briga por motivos idiotas, como: ciúmes, família, sexo ou atenção. Nunca tivemos um ataque de ciúmes ou uma briga por conta da mãe dele. Meu temperamento calmo quanto a outras pessoas ajudou nessas questões, pois eu simplesmente dava de ombros e deixava para lá.

Pensar nesse tipo de coisa me deixa com medo do que posso enfrentar em outros relacionamentos.

Com medo de me deparar com homens super ciumentos, e o pior: aqueles que acham que estão certos, que estão sendo protetores, e PIOR AINDA: os que acham que são donos das namoradas.

Ter um relacionamento sério com alguém que só quer ter uma namorada para mandar em alguém é a coisa que mais me aterroriza atualmente, seguida por perder o emprego ou ter um bebê de alguém que não está nem aí para mim.

Puxa, eu não queria ser a Brenda agora.

Depois que Markus terminou o relacionamento conturbado que tinha com Brenda, ela descobriu a gravidez e, logo depois, descobriu que o emprego está indo por água abaixo. E depois, a perda do apartamento. Não me pergunte como ela consegue.

Chegamos ao apartamento depois de andar por vinte minutos, e Brenda logo caiu no sofá. Andrew chegou depois de cinco minutos, ou menos. Ele ligou para meu celular e eu fui até a porta. Já sabia que ele estava lá, sem sombra de dúvidas.

Contei a Andrew sobre a resposta positiva da Social Feminin e ele vibrou comigo, começando a dançar no meio da sala, com os móveis arrastados para a parede e Brenda ainda jogada no sofá. Me senti numa cena de um musical, onde todo mundo de repente está feliz com a situação do mundo.

Andy, sempre otimista, me confessou que estava sentindo-se diferente em relação à algumas coisas. Disse-me que Nathan parecia ser um cara legal, que era divertido e parecia apaixonado. Depois de tudo, ainda disse que acreditava que as coisas mudariam para mim. Que a fase ruim, depois do término com Max, iria começar a se dissipar agora e eu só terei felicidade na vida.

Não sei se gostei 100% do Pai de Santo que baixou nele. É ótimo pensar positivamente, mas ele quase leu minha mão, viu meu futuro. Fiquei com medo de ser cobrada, depois. Quanto seria a consulta?

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Gente! Gostaria que vocês comentassem nesse capítulo o que vocês estão achando da estória! Faz um tempinho que as postagens começaram e eu adoraria saber como está sendo aceita :3

BEIJÃO ♥♥

xoxo

As Listas de Ellen [versão wattpad]Where stories live. Discover now