Capítulo 29 - Ritual pela manhã

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Alguma coisa está tocando muito perto do meu ouvido, sei disso. E o som é tão alto que me faz querer explodir a casa só para que o barulho pare. Não parece ter fim, e à medida que vou despertando, vai ficando mais elevado.

- Que porra? - Me pergunto, só para levantar a cabeça do travesseiro e enxergar a luz do telefone piscando. Só pode ser brincadeira. - Alô? - Atendo, sonolenta. Consigo ver a hora no visor do aparelho antes de leva-lo ao ouvido. Seis e meia da manhã.

- Eu sei que eu disse que você só deveria falar comigo quando tivesse uma resposta, mas eu tive uma ideia.

- Brandon? - Bocejo - Que tipo de pessoa liga às seis da manhã? - Jogo a cabeça de volta no travesseiro, desejando voltar a dormir.

- O tipo de pessoa ansiosa, que não consegue esperar uma manhã inteira para contar boas notícias. E já são seis e meia.

- É, grande diferença. - Outro bocejo - Veja, estou dormindo.

- Fatos comprovam que não, você não está dormindo. E tudo bem, só ter lhe contado que tenho uma boa notícia já me alivia. Você não fica curiosa para saber o que é?

- Hã... - Esfrego os olhos e acabo sentando-me na cama. - Eu não estava pensando no que poderia ser, antes. Mas você fez o favor de me acordar, agora conte.

- Não.

- Não? Assim, somente? Um Não seco, rude, desnecessário?

- É. Não.

- E o que você propõe? - Agora que já estou totalmente acordada, consigo dar corda à conversa.

- Venha até meu apartamento. - Ele diz, de repente. Fico um tempo sem responder. Sem saber o que responder.

- Eu não sei onde é seu apartamento. - Estabeleço o óbvio.

- Eu te perdoo por ter acabado de acordar. Tudo bem. Vou lhe dizer o endereço. Venha de táxi, é rápido.

Brandon dita o endereço e pede que eu esteja lá em menos de uma hora. É difícil acordar com alguém me pressionando para fazer coisas que não estão programadas.

Ritual pela manhã

· Acordar, mas não realmente acordar;

· Fitar o chão e não pensar em nada;

· Ocasionalmente lembrar daquele sonho confuso em que o cenário mudava a cada instante;

· Voltar a dormir sem realmente ter voltado a dormir; isso também pode se chamar: enganar o cérebro para ter "mais cinco minutos" de sossego

O ritual dura em média quinze minutos. Já se foi um quarto do meu tempo.

***

- Eu disse em até uma hora, e não duas horas depois. - Resmunga Brandon.

- Você está exagerando. - Olho no relógio só para ver que ele está certo. Já são oito e quinze. Vejo seu olhar interrogativo e resolvo ignorar. - Então! O que você quer que eu faça aqui, tão cedo?

- Primeiro, bom dia, Ellen. - Ele beija o alto da minha cabeça, e eu não sei porque isso é tão comum. Não sou tão baixa, embora perto de Brandon qualquer pessoa se sinta um duende; mesmo assim.

- Bom dia. E então? - Bato palmas, me convencendo de que estou animada.

- E então, vamos entrar.

Reviro os olhos, mas concordo.

Brandon caminha em minha frente, me guiando por um corredor estreito. Tudo é muito branco e parece muito limpo. Me pergunto quem cuida da limpeza de um lugar tão minunciosamente assim. Brandon ocasionalmente vira-se para trás, se certificando de que ainda estou aqui. O que ele espera que eu faça? Pule a janela no meio do corredor, tentando fugir?

As Listas de Ellen [versão wattpad]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora