Bônus

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Depois da briga, tanto eu como Aura ficamos alguns dias em casa. Apesar do choque inicial, Tia Victoria insistiu que nós precisávamos de um descanso, e ela não estava errada.

Apesar dos meus pais estarem muito menos irritados, as coisas na minha casa ainda estavam um pouco estranhas e na casa de Aurora não era diferente. Além do clima tenso e pesado que a volta de Theo gerou, Evangeline e eu estávamos estranhos, estranhos demais. A irmã de Aurora mal me olhava, me ignorava boa parte do tempo e eu não conseguia entender o porquê dela estar chateada, mas sabia que aquilo não era só por causa da briga.

Então, decidi deixar que Eva viesse falar comigo quando estivesse pronta, apesar de estar me corroendo por dentro, completamente nervoso com a possibilidade da garota que eu gostava de verdade decidir nunca mais falar comigo de forma decente, já que tudo o que trocamos nos últimos nove dias se resumiam a cumprimentos secos e sem vida.

— Será que você pode pelo menos fingir que gosta do filme? — Aura perguntou, me acertando com algumas pipocas cobertas por açúcar.

— Não é tão fácil me concentrar num filme que já assistimos, no mínimo, cinco vezes — reclamei, jogando algumas pipocas nela. — Que tal variar o repertório? Assistir "The Duff" está começando a ficar entediante.

Minha fala fez a morena ao meu lado abrir os lábios, incrédula com minha audácia, afinal, aquele era um de seus filmes favoritos. Mas, antes que Aura voltasse a brigar e a listar vários e vários motivos para que aquele filme fosse a melhor comédia adolescente já produzida pelo cinema, os passos vindos da escada me chamaram atenção.

Estávamos na grande sala, o local estava mergulhado numa penumbra já que havíamos fechado todas as persianas, e o frio que fazia naquele dia me obrigou a ficar completamente agasalhado e a por pantufas ridículas com carinhas de unicórnios, já que eram as únicas que haviam na casa que não deixavam metade do meu pé para fora.

Quando me virei para olhar quem estava descendo, vi Eva, que tinha uma mochila nos ombros e parecia pronta para sair. A loira ainda mantinha a mesma cara amarrada de dias atrás, mas não havia muito o que eu pudesse fazer.

— Para onde vai Eva? — Aura perguntou, se levantando para levar a bacia de pipoca quase vazia para a cozinha, pronta para enchê-la novamente.

—Preciso terminar um trabalho com algumas amigas —ela respondeu ainda parada no fim das escadas. — Mas até agora não consegui um táxi ou a droga de um uber.

Ela parecia genuinamente estressada e, talvez, a urgência fosse motivo suficiente para que ela aceitasse uma carona e, quem sabe, eu pudesse falar com Eva sem que ela fugisse para longe.

— Se quiser, eu te levo, estou com o jepp — me pronunciei, recebendo seu olhar, que era um misto de alívio e, talvez, irritação.

— Não precisa , eu vou... — ela iniciou, sendo interrompida pela irmã, que ainda estava na cozinha.

— É melhor do que ir a pé! — Aura tentou ajudar, rindo levemente e voltando para a sala. — Clay aproveita e compra um pote de sorvete novo, o nosso acabou.

Eva suspirou, contrariada, porém, mesmo assim, somente assentiu e eu aproveitei para tirar aquelas pantufas ridículas antes que ela desistisse. Calcei meus sapatos e, rapidamente, peguei minhas chaves, seguindo com ela para fora e não demorando para entrar no jipe.

O céu estava completamente nublado e o frio me fazia tremer levemente, então, assim que entramos, liguei o aquecedor, girando a chave e dando a partida, seguindo o trajeto que ela havia colocado no JPS, silenciosamente. Eva não falou nada, seus olhos estavam fixos na estrada e eu não sabia o que fazer. Estavamos quase na casa de uma de suas amigas quando eu encostei o carro, desligando o motor e tirando meu cinto, me virando para ela, que me encarava com certa confusão.

— Vamos conversar, dessa vez eu não quero ser ignorado, Eva — falei suspirando, vendo-a revirar os olhos. — Qual o problema?

— Conversar sobre o que, Clay? — ela também tirou o cinto, se virando para mim e me encarando. — O que você quer que eu diga?

—Por que está tão chateada comigo? Eu achei que já tínhamos resolvido isso e...— parei de falar a encarando por algum tempo antes de voltar a falar, inspirando profundamente. — E eu quero fazer isso dar certo, Eva, mas, se você não falar comigo, eu não consigo entender!

— Clay, eu quero isso tanto quanto você! ela começou—, jogando a mochila para o lado e me encarando, parecia realmente irritada. — Mas como espera que eu lide com o fato de que nunca vou ser prioridade para você? Você e minha irmã são incríveis juntos, a dupla perfeita e eu sei que você iria deixar qualquer coisa que estivesse fazendo para ajudar Aurora! Acho isso muito bonito, mas não quero me relacionar com alguém que não vai me...

Antes que ela continuasse a falar, fechei a distância entre nós, segurando sua nuca com certa força e a beijando intensamente, o beijo que, infelizmente, não conseguimos dar na noite do baile. A boca de Eva era macia e quente, e tinha gosto de chiclete de menta, algo que eu sabia que ela adorava.

De início, a loira ficou completamente travada, seus músculos estavam tensos e sua boca se manteve fechada por alguns segundos, algo que, para mim pareceu uma eternidade. Então, quando minha língua pressionou seus lábios, pedindo passagem, ela voltou a si.

O beijo foi lento, sem pressa, os dedos delicados dela se afundaram em meus cabelos enquanto eu a puxava mais para perto, sentindo meu peito querer explodir com todos os sentimentos que aquele toque espalhava por mim, era como uma corrente elétrica que se iniciava na junção dos nossos lábios e se espalhava por todo meu corpo.

Era perfeito.

Nos beijamos até que eu já não tivesse fôlego, até que não conseguíssemos mais manter nossos lábios grudados um no outro e, quando me afastei, deixando alguns selinhos lentos e carinhosos sob os lábios macios e avermelhados dela, sorri erguendo meus olhos para a loira e falando:

— Não precisa ter medo, Eva — sussurrei, subindo meus dedos delicadamente de sua nuca até sua bochecha. — Eu gosto de você, minha amizade com sua irmã não influencia em nada isso que existe entre nós. Eu gosto de você há mais de um ano e não pretendo te deixar de lado, é você, Eva, não duvide disso.

Naquela tarde, Eva não foi fazer o trabalho na casa das amigas.

Depois do beijo, ela enviou uma mensagem para as colegas e, em seguida, fomos para o centro da cidade, assistimos um filme no cinema, tomamos seu sorvete favorito e caminhamos juntos como um casal, mas quando o sol se pôs e o dia acabou, eu não sabia o que fazer.

Evidentemente eu gostava dela, mas como contar que, agora, eu estava namorando a irmã mais nova da minha melhor amiga?

O que os pais dela iriam achar?

Mesmo querendo disfarçar, percebi que, enquanto voltávamos para a casa dela, Eva também estava nervosa. Sabia que aquilo era ainda mais novo para ela, ainda mais confuso, apesar da pouca diferença de idade que tínhamos, logo Eva e eu seriamos de mundos completamente diferentes.

Será que saberíamos lidar com isso? 

A conselheira Amorosa Onde as histórias ganham vida. Descobre agora