Capítulo 39 - Conte a sua história (Parte I)

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Eu já tinha visto algumas centenas de vezes aquelas fotos, ainda mais quando alguém da família vinha aqui para um feriado qualquer ou alguma visita. Fora isso, essas fotos foram minhas primeiras ligações com o mundo da fotografia. Haviam muitas fotos anteriores ao meu nascimento. Meus pais em suas respectivas formaturas no ensino superior e no casamento deles, uma da tia Rafaela grávida com o tio Daniel e das duas vezes em que minha mãe esteve grávida. Algumas, menos desbotadas, eu e meu irmão estávamos presentes. Fotos de festas de aniversário, inspiradas no Rei Leão, nos Incríveis e tantas outras, mesmo que fossem só um bolinho para os amigos. Tinha uma que eu até mesmo me lembro de quando foi tirada.

O senhor Ricardo possuía a mesmíssima mania minha de tirar fotos até mesmo em situações inconvenientes. Houve então um dia em que eu e o Luís resolvemos fazer uma espécie de tarde de filmes, pedimos meu pai para alugar algumas animações, comédias e sci-fi naquelas locadoras que hoje em dia nem existem mais e preparamos alguns lanches. Por fim, acabamos, eu e Luís, jogados no chão da sala, com barrigas estufadas de comida, e os dedos sujos de sal por causa da pipoca. É, meu pai chegou a achar que seria um bom momento para uma foto.

Vendo todas aquelas fotos eu decidi que queria contar exatamente aquilo. Do auge da infância até agora. Os momentos mais inusitados ou mesmo os mais comuns para uma foto, mas que guardariam uma lembrança eterna. Tem uma direta referência com o primeiro amor, como o Donny tinha citado, eu não esqueceria. A ideia central era reproduzir, agora mais velha, tudo que me fez feliz - ou mereceu uma foto - há alguns anos e o que me fez feliz atualmente também. É isso que quero mostrar para Pilar Góes e seus avaliadores.

Já possuo três momentos da Sabrina criança os quais quero reproduzir. Um deles foi o momento na árvore com o Eduardo.

Depois de passar por toda a estradinha de terra, chego ao casarão, porém por ver Erik em uma das árvores, desvio da entrada e vou direto para os fundos. Erik está com as costas apoiadas na árvore com um violão no colo. Aproximo-me lentamente, disposta a fazer uma surpresa, mais alguns passos e consigo identificar qual música ele está tocando:

(...) Não adianta fugir
Não adianta chorar
E se um dia ela sumir
Nada mais irá sobrar

Sonhar, viver
E todo dia agradecer
E rezar, pra você ser a última a morrer

Podem tentar me atingir
Podem me mandar, pra onde for
Enquanto ela estiver aqui
A vida ainda tem valor

Sonhar, viver
E todo dia agradecer
E rezar, pra você ser a última a morrer

Uma gota de você vale mais que tudo
Quando a solução não pode resolver
Eu fico com você, esperança...

Eu fico com você.¹

Seus dedos dedilham rápido e firme dando a impressão que ele está usando toda sua força nisso. É como se deixasse, seja lá o que está prendendo-o ou atormentando-o, se libertar, livrando-o disso, através das cordas do violão e por sua boca.

É então que sua voz falha. Ele deixa o violão de lado junto com um caderno que parece conter partituras com alguns escritos adicionais nas bordas, como anotações. Vejo-o puxar as pernas até os joelhos estarem abaixo do seu queixo. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, estou vendo Erik chorar. Quando percebe que cheguei, ele me encara por um segundo antes de se virar, ficando de costas para mim, dá indício de que iria pegar suas coisas e correr, mas não sai do lugar.

- Ei, não fica assim. - Tiro a bolsa das minhas costas, jogando-a na grama, onde me sento logo depois. Tento puxar Erik para um abraço, mas ele volta a se afastar. Suspiro pesadamente. - Erik...

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora