Capítulo 39 - Conte a sua história (Parte I)

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- Finge pegar uma fruta! - digo para Eduardo enquanto me acomodo em um galho firme e posiciono a câmera dando o efeito que quero com todos os equipamentos no chão ajudando. Eduardo faz o que instruo, sorrindo. Dois, três clicks. - Ótimo, ficaram demais!

Analiso mais uma vez as imagens na câmera, meu irmão lá em cima, se apoiando nos galhos; além dele, as folhas da mangueira mesclando com o céu azul da manhã. As fotos ficaram exatamente no conceito que eu queria, como se meus olhos fossem a lente da câmera, acompanhando uma cena que via muito quando mais nova e até hoje, meu irmão pegando manga direto do pé. O efeito de piscar de olhos, como eu queria. Um momento, uma história.

Desço do pé primeiro e pego minha agenda depois de deixar a câmera sobre a mesa da varanda. Penso em qual legenda colocar. O que me animou nessa etapa do concurso foi essa nova regra. Eu já estou acostumada a sempre legendar minhas fotografia feitas a partir da minha polaroid, meu varal é uma verdadeira linha do tempo cheio de registros feito a mão. E agora eu posso replicar isso para o concurso.

Anoto a frase e a indicação sobre a imagem tirada.

"Foram muitos joelhos ralados, blusas manchadas de amarelo e escaladas nessa grande árvore. Uma infância um tanto rural, no meio da cidade grande.

Eduardo, pé de manga."

- Valeu mesmo, maninho. - Afago os cabelos de Eduardo depois que ele também desce da árvore.

- Tô indo na tia Ju, você vem?

- Hm... não - Aquele momento que você pensa na melhor forma de ocultar seus planos de passar a tarde toda com o crush. - Vou na rua debaixo, tenho que comprar mais post it.

- Sei... - Eduardo ri sapeca.

- Oxê, é verdade! - retruco guardando minha câmera e a agenda numa bolsa.

- Só se for pra colocar mais legendas nas fotos que tirar daquele seu namoradinho. - Tira sarro de mim depois de buscar uma bola do outro lado da varanda. - Mas eu nem ligo. Ah, vê se aprende tocar violão com ele, pra me ensinar depois.

- Pra que você quer aprender a tocar violão? - indago e cruzo os braços, curiosa.

- Sei lá, o Lipe, aquele primo branquelo do Erik, disse que as meninas gostam de garotos que sabem tocar. - Dá de ombros e acena. - Até mais tarde, maninha.

Então vejo meu irmão correndo, deixando-me sozinha e com os olhos arregalados.

Meu Deus, Felipe não está nem há um mês na cidade e já está corrompendo o Edu.

Balanço a cabeça e entro dentro de casa apenas para guardar meus equipamentos e fechar as janelas. Em seguida, saio novamente agora em direção ao mercadinho do bairro. Porque eu realmente preciso comprar mais post it, e é só uma coincidência os avós de Erik morarem nessa direção. Depois de pedir um verde, um laranja e um roxo saio da pequena venda e vou em direção à rua sem asfalto que leva ao casarão azul.

No ônibus, voltando de mais uma aula no Belô Fotografias, eu havia ficado todo o trajeto - cerca de meia-hora - diante do meu caderno de anotações sem saber como traçar um caminho pelo qual eu seguiria para tirar as fotos da final. A ideia de Donny, de recriar foto a foto minha história com Erik, era incrível, mas não só de primeiro amor se fez uma Sabrina. Eu queria algo meu, que me representasse e não algo que me lembrasse apenas como uma romântica incorrigível - ainda que eu, de certa forma, fosse isso também. Foi então que, depois de desistir de tentar trás traçar qualquer plano, em casa, encontrei numa das estantes da sala uma caixa com diversas fotografias reveladas naqueles álbuns antigos.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora