Capítulo 6 - Conte-me um segredo

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Dias sem aulas. Essas parecem as palavras chaves para o Senhor do Tempo acelerar os mecanismos e assim fazer o tempo andar mais rápido. Bufo olhando para meu teto decorado. Além de super vilão de quadrinhos antigos... Antigaços! Agora o Senhor do Tempo resolveu entrar na vida real e fazer meu recesso se reduzir ao mínimo.

Levanto com esse pensamento na sexta-feira. Sexto dia de recesso, véspera de um almoço em família. Argh!

Não, eu não estou com grandes expectativas sobre esse período sem aulas, afinal, o que poderia se esperar de recesso de uma pré-adolescente em uma cidade sem amigos? Vários nadas, apenas. Ou, bom, é isso que eu espero. Porém, também não quero voltar ao meu último ano de Ensino Fundamental e ver o Médio batendo a porta, tão rapidamente. Pode soar dramático, no entanto é assustador.

Sigo diretamente para cozinha, no caminho, vejo o céu nublado, parece que vai chover, no entanto, BH é famosa por enganar a previsão do tempo. Meus pais já saíram e então percebo quão tarde acordei. Já passa das onze da manhã, porém opto por tomar café da manhã.

Minhas férias anteriores sim, foram dignas de grandes momentos e expectativas – e também fotos –, primeira viagem sem os pais, um estado novo e todas essas coisas. Contudo, esse mês de julho não está em sua totalidade ruim.

Ainda temos um almoço em família para ir..., lembra minha Consciência, rolando sobre a linha temporal do meu cérebro, que ela fez de cama.

Nem me lembre disso, Consciência!

Balanço a cabeça e vou para a sala com um cacho de uvas em uma vasilha, após o café. Ligo a TV e pego meu celular. Há algumas mensagens do grupo, mas entro no Skype. Vejo que Luís está online e logo abro com ele numa chamava de vídeo.

Demora alguns minutos para a imagem dele focar, entretanto, logo depois, seu rosto meio bronzeado e com bochechas magras surge, com ele jogando o cabelo para trás.

— Bom diaaa, Luís, como você tá? Novidades? — questiono pegando uma uva e colocando na boca.

Sasá, ótimo dia! Tô bem, dá uma olhada nisso aqui! Já ia te mandar uma foto! — Luís afasta o celular e mostra o mar, ao fundo. Ele parece estar no alto, mas já consigo ver muito dali e imaginar várias fotos tiradas daquela altura. O rosto de Luís então volta a ocupar o ecrã. — Saímos ontem a noite e por isso ainda estamos no apartamento do meu pai. Hoje deixamos para ir para o mar mais tarde. Mas fala aí, sô, como estão as coisas em BH?

— Um super tédio. Bom, tirando a parte de ficar um pouco sozinha em casa, pelo menos até ir para Sabará, e o grupo no Whats, que é uma ótimaaa distração. E claro, já acabei o maldito trabalho do Cianeto, então tô contente comigo mesma! — Sorrio para ele, que devolve o sorriso. Noto que ele começa a andar e vejo também que está saindo de uma espécie de varanda. Clico na tela e viro a câmera, para mostrar a imagem da televisão. — Diga olá para o Bob Esponja, meu fiel companheiro das manhãs.

Ouço Luís gargalhar e retorno a câmera para focalizar meu rosto. Ele já está em um ambiente mais escuro, parece um quarto, a julgar pelo teto de gesso e pelas cortinas escuras que ele passou.

Bob Esponja, incrível, uai! — Ele ri mais contido e logo a câmera ganha um novo foco. Parando bem na cara de André, que está deitado, ou melhor, jogado, sem camisa, numa cama e parece dormir. — Meu companheiro de night está de ressaca, e das bravas! E sobre o grupo, acho que você me deve um obrigado.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora