Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade

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— O que é isso? — perguntou em um sussurro, sendo impedida de analisar o objeto que jazia no chão, queimando lenta e desapercebidamente o pavio.

Kate a puxou pelo braço e a obrigou a continuar.

— Um tipo de bombinha que meu irmão me ensinou a fazer. — Kate explicou, fazendo Melissa acelerar o passo. — Você vai querer estar longe quando aquilo começar a pegar fogo.

— Você não acha que vai ficar meio óbvio o que causou o incêndio quando eles encontrarem aquilo na grama? — a voz de Melissa se exaltou uma oitava.

Kate rolou os olhos e acendeu outra bombinha, soltando-a mais uma vez no gramado, depois de verificar a câmera de segurança próxima.

— Ela queima sem deixar vestígio nenhum. Estamos seguras. — Kate piscou com inteligência, e então sorriu. — Bem, estaremos seguras assim que estivermos longe o bastante delas.

Kate soltou mais duas daquelas misteriosas bombinhas pelo gramado. Melissa sentia o cheiro de queimado crescer à medida que se afastavam na direção do prédio B. Seu olhar subiu quase que automaticamente até a janela que sabia ser a do quarto de Corey. A luz estava acesa, as cortinas fechadas. Por um instante ela desejou poder vê-lo mais uma vez, tocá-lo mais uma vez, beijá-lo mais uma vez, antes que tudo desse errado.

Se desse errado...

Melissa precisava deixar aquele insistente lado pessimista para trás.

— Quando o fogo começar e a rebelião estourar... — Kate a chamou de volta à realidade, então ela deixou a análise da janela de Corey para voltar o olhar à outra.

Pela primeira vez Kate estava séria, aparentando preocupação. Já não era sem tempo, pensou Melissa, enquanto assentia e engolia em seco a saliva que de repente parou de ser produzida e fez sua boca secar. Toda a água de seu corpo pareceu ser transferida para suas mãos, que começaram o processo de suor nervoso no instante seguinte.

— Você vai ficar bem? — Melissa perguntou.

Sua voz falhou ridiculamente, mas ela não estava preocupada com a demonstração de suas fraquezas.

— Claro que vou... Um super guarda alto e forte vai vir me proteger. — Kate voltou a sorrir, daquele modo maternal que costumava deixar o coração de Melissa mais calmo.

Costumava...

Melissa e Kate continuaram o passeio pelos jardins, escondendo suas más intenções pelos passos lentos e ritmados que davam pelo gramado. Os músculos rígidos, o coração acelerado ansiosamente, esperando o momento em que tudo aconteceria... Poderia ser em cinco minutos, cinco segundos... A qualquer instante o pandemônio se instalaria no St. Marcus Institute, então a sorte de todos estaria entregue nas mãos de Deus. Melissa esperava que ele tivesse um cuidado especial com a sua, de Corey e de Kate. Principalmente de Kate, que fora envolvida nessa confusão por seu próprio altruísmo. Se algo acontecesse a ela, Melissa jamais se perdoaria.

Então ela começou a rezar, e quando o fim do padre nosso se aproximava, o "não nos deixei cair em tentação" ficou preso em seus pensamentos.

Foi um grito de alerta de um guarda lá no alto dos portões que anunciou que o inferno finalmente havia aberto seus portões e libertado seus demônios.

Melissa e Kate já estavam longe o bastante do foco de incêndio, mas as chamas crepitavam com tal intensidade, que as cinzas faziam arder os olhos, a fumaça fazia tossir e o calor era incômodo, mesmo de tal distância.

Melissa ainda esperou alguns segundos para encarar a bagunça que Kate havia aprontado no belo jardim. E quando se voltou para onde o fogo provocava sua característica destruição, sem dó nem piedade, a boca se escancarou automaticamente. As chamas se espalharam com tal velocidade, que já se aproximavam do prédio A, lambendo as paredes e deixando seus tijolos chamuscados. O gramado sempre tão verde e bem cuidado virava cinzas. O vermelho das chamas era tão forte, que clareava o gramado quase como se fosse dia. E à medida em que iam se espalhando, tornavam-se mais altas, mais perigosas.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now