CAPÍTULO 06 - ALGUNS REFLEXOS

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Orocovis, 22 de junho de 2020, 05:31 AM.

Na madrugada a família estava reunida discutindo meu aparecimento.

—Pai quando vai trancar ela? Eu sou a única humana aqui! Não estou me sentindo segura. —Reclamou Alana.

—Falem baixo. —Pediu papai.

—Você precisa fazer alguma coisa antes que seja tarde demais.

—Ela tem razão Ryan. Pense bem, o teste da Ayla deu negativo como o nosso, você sabe que ela está contaminada. —Informou tia Sophia batendo com sua ponta da unha na jarra.

—Vamos esperar! Ela está assustada e confusa, não quero ser muito firme agora. Por favor! Só mais um pouco! —Alana saiu brava da cozinha e todos decidiram se deitar.

Orocovis, 22 de junho de 2020, 08:01 AM.

Algumas horas haviam se passado desde que despertei e, no entanto, meu corpo estava em um estado de inquietação incontrolável. Meus membros tremiam, minha testa estava coberta de suor e a luz que entrava pela janela me causava uma dor excruciante nos olhos. De alguma forma, eu sabia que algo estava terrivelmente errado comigo. A fome que sentia era como nada que já tivesse experimentado antes, uma espécie de desejo insaciável e animal que me consumia por dentro. Fui até a cozinha, procurando alguma forma de acalmar minha voracidade, e encontrei um pão em uma tigela. Comecei a comê-lo com avidez, fatia por fatia, mas a fome não diminuiu nem um pouco. Então, abri a geladeira e vi um suco de caixinha ali. Sem pensar duas vezes, bebi tudo de uma vez só, como se fosse água em um deserto. Quando percebi o que tinha feito, me assustei e corri para o quarto, buscando desesperadamente por respostas.

Liguei o computador e comecei a pesquisar sobre os sintomas que estava sentindo. Logo descobri que era uma doença, uma infecção que me transformaria em algo completamente diferente do que eu era antes. Era uma regeneração que me mudaria de forma irreversível, algo que me causava medo e, ao mesmo tempo, fascínio.

A visão do sangue e da carne me atraía de uma forma que me deixava assustada, mas, ao mesmo tempo, ansiosa. A fome dentro de mim parecia aumentar a cada instante, como se estivesse me consumindo por dentro. Minha respiração ficou ofegante e minha pressão caiu repentinamente, fazendo com que meus joelhos batessem no chão. Tentei me levantar, mas minhas pernas fraquejaram, fazendo com que eu caísse novamente. O mundo escureceu diante dos meus olhos.

Orocovis, 22 de junho de 2020, 09:00 AM.

Acordei com os gritos de papai.

—Sophia rápido venha aqui! Aconteceu alguma coisa, venha rápido! —Tia Sophia saiu correndo da casa, curiosa fui verificar o que era. Corri para o lado de fora. Alguns cavalos estavam estirados no chão ensanguentados. Assustei-me imediatamente enjoada, coloquei a mão na boca e assustada caminhei levemente para trás, despercebida e apavorada esbarrei em alguém.

—Tenho certeza de que não foi um chupa cabra. —Informou Alana com os braços cruzados.

Atemorizada me afastei quase correndo.

—Ei! Aonde você vai?

—Não importa. —Ignorei Alana e comecei a correr fugindo.

Eu precisava desesperadamente de uma pausa, uma chance de recuperar o fôlego e processar todas as informações que inundaram minha mente. Era como se meu cérebro estivesse sobrecarregado e à beira de um colapso. A quantidade de tragédias que se abateram sobre mim em um curto período de tempo era simplesmente avassaladora. Não havia respostas para as perguntas que surgiam a todo momento, nem sequer uma pista de como controlar as reações estranhas do meu corpo. E aquela dor de cabeça lancinante, como uma agulha perfurando meu crânio, parecia ser um sinal claro de que nada melhoraria tão cedo. Lembrei do que li na internet sobre como os contaminados poderiam perder a consciência. O mero pensamento disso foi o suficiente para aumentar minha ansiedade e o medo do desconhecido.

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