Capitulo 28

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Eu soube, no momento em que abri meus olhos e dei de cara com o teto branco de luzes frias, que o pior tinha acontecido

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Eu soube, no momento em que abri meus olhos e dei de cara com o teto branco de luzes frias, que o pior tinha acontecido. Contudo, não estava mais com medo, quando as perguntas vieram, eu respondi de modo automático, percebi que foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

Quando uma neurologista entrou para me examinar, me arrependi por cada detalhe que eu dei do acidente enquanto meu braço era engessado, naquele momento eu ainda não compreendia... que já tinha acontecido.

— Disse que tudo começa com um cheiro de álcool, consegue me dizer por quê? — Perguntou a Dra. Brooklin. Revirei os olhos cansada de tantas perguntas, e me perguntei se ela teria anotado aquilo também.

Estava tão anestesiada com tudo que, eu simplesmente falava sem nenhum medo, como geralmente acontece. Me negava a acreditar que aquela médico me passava tanta confiança e segurança assim. Então encarando o teto, como em uma sessão de terapia, eu relatei tudo.

O que eu sentia.

Quando acabava.

O que eu via.

Quando dei por mim, nossa conversa havia rasgado a madrugada, e ela já não anotava mais nada. Estava interessada demais em ouvir tudo o que eu tinha pra falar. Intrigada, curiosa... e disposta a me ajudar.

— E como você controla? Quando e como decide que não quer passar por isso? — Ri amarga.

— Não sei eu só... não penso nisso. É como uma estrada escura que eu sei o que acontece se entrar nela, então eu não entro.

— Então você não controla... você evita.  — Pontuou.

— Não controlo, quando acontece, acordo no hospital, fim. — Ela suspirou pesadamente.

— Nesse exato momento eu estou com uma paciente em coma há dois anos sem uma causa cientifica posterior, e por que eu estou com o caso dela? Porque eu vou além da ciência e medicina, eu cuido da mente, daqueles casos que um conselho inteiro de céticos e pirrônicos moralistas não conseguem explicar.

Espero ela terminar de falar e espero também mais uma resposta, afinal ela faz perguntas para ela mesmo responder.

— Onde você quer chegar com isso?

— Quero chegar no pior. Quando nada mais explica é tolice não considerar, que aquela é simplesmente uma escolha que a pessoa está fazendo, mesmo que inconscientemente. Pelo menos, é nisso que meus estudos se baseiam, mas, conversando com você eu começo a considerar possíveis gatilhos acionados do buraco negro do nosso universo chamado cérebro. — Ri involuntariamente, então Brooklin me questionou com o olhar.

— É porque é assim que eu chamo as lembranças que eu não consigo ter acesso, é um buraco negro. — Explico. Sabendo que era exatamente nesse ponto que ela queria chegar.

— Interessante! Seu cérebro criou uma espécie de proteção contra ele mesmo. O que é natural após um trauma, se chama perca de memória seletiva. É a maneira que sua mente ainda infantil encontrou de superar, é muito difícil para um adulto perder alguém, para uma criança mais ainda. É muito raro vermos casos assim em pessoas mais velhas, na pior das hipóteses desenvolvem uma depressão. É muito mais fácil para o nosso cérebro deletar aquilo que nos fazia sofrer, do que ter que lidar com aquilo e forçar um amadurecimento que uma criança  ainda não está preparada para ter. Existe poucas maneiras de acessar essas lembranças, estão trancadas praticamente a sete chaves, e ainda por cima é como se estivesse uma espécie de...

Fragmentos - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora