Estacionamos na frente de um chique restaurante à beira mar.

- Vamos... Você precisa comer algo! - Diz Rafael com o mesmo tom autoritário de antes, enquanto prendia nossos capacetes.

Ele queria que eu entrasse naquele restaurante? A conta certamente daria mais alta do que o valor que ganho no mês. Ele estava pensando em pagar com dinheiro celestial ou teríamos que lavar pratos?

- Confie em mim! - Mais uma vez ele responde minha pergunta silenciosa.

Eu confio! Ele me conhecia tão bem a ponto de saber o que estou pensando antes que eu falasse? Segurei a mão que ele estendeu em minha direção, demonstrando que eu confiava no anjo que salvara minha vida.

Só reparei que estava com fome quando o cheirinho gostoso da comida invadiu meu olfato. Eu não havia me alimentado desde o assalto na padaria. Nem me atentei... É claro que ele percebeu. Mais uma prova que andava me vigiando...

Me assustei com os preços no cardápio. Nem precisava daquilo. Frescura! Eu comeria em uma lanchonete qualquer... Espero que valha o preço. Ao menos chegou rápido e o cheiro era mesmo de abrir até um apetite como o meu nos últimos tempos.

Caramba! Que comida gostosa! Até Rafael parecia admirado... Calma aí... anjos comem?

- Eu não sabia que anjos comiam. - Falei, levando meu copo à boca. - Tem comida no céu?

- Não. - Ele ri.- Estou na minha forma humana, por isso estou comendo, Laura.

- Me conta... Sobre o céu.

- Eu não posso...

- E pode interferir no livre arbítrio das pessoas em se suicidarem? - Que delícia esse molhinho!

- Não, não posso. - Seu semblante ficara triste de repente.- Mas isso é um assunto meu. Você não tem com o que se preocupar.

- Okay. - Resolvi mudar o rumo da conversa. Não queria aborrecê-lo.- Será que você poderia me responder então o que quis dizer com "sempre fui eu quem escolhi suas amizades"?

- Lembra na sétima série, como você queria por toda lei ser amiga da Carine? - Ele ri, tirando a mexa de cabelo que insistia em querer cair nos olhos.- ... Ela era a menina mais popular da escola, mas era podre por dentro, acredite! Fiz um favor à você colocando aquele papelzinho no caderno dela.

- Que papelzinho? - Eu lembrava muito bem da Carine. Eu queria ser amiga dela no início, mas depois viramos praticamente inimigas. Insuportável aquela garota!

- Um papelzinho que a ofendia um pouco... - Ele solta um riso alto, olhando para os lados em seguida.- ... Assinado por você!

Rimos juntos.

- E me diz que ser amiga da Suelem não foi uma excelente sugestão minha? - Ele pisca um dos olhos para mim.

Que olhos lindos ele tinha! Piscando daquele jeito então... Passei um guardanapo na boca me certificando que não havia baba escorrendo.

- Ah... O armário dela não era ao lado do meu de propósito?

Era bom saber que sempre tive alguém cuidando e se preocupando comigo. Só não conseguia entender porque, mesmo assim, minha vida não havia dado certo.

- Não! - Ele respondeu, me lançando um sorrisinho faceiro.

- E onde você estava quando eu fui humilhada na formatura da oitava série? Ou quando meus pais morreram? Ou quando eu tive que trancar a faculdade? Ou... - Abaixei o rosto e cobri os olhos com as mãos para esconder as lágrimas.

Anjo Meu Onde as histórias ganham vida. Descobre agora