— O que foi isso? — Perguntou Eliane, após conseguir respirar normalmente. –

— Da próxima vez que for à casa de um homem, na chuva e sem luz, certifique-se de não beijá-lo antes. — Ele disse de um jeito divertido. —

Ela riu.

Matheus estalou o ombro e soltou um gemido de dor.

Os dois ficaram a noite toda conversando no escuro, nus, enquanto rolavam pelo chão, agora com a janela aberta sentindo a brisa fria entrar e tomar conta do ambiente. Ao amanhecer, tomaram banho juntos e mais uma vez amaram-se como nunca. Eliane não queria ir para casa, pois nos braços de Matheus, sentia-se em seu lar.
O policial pela manhã trocou as ataduras do pé e tomou um analgésico para dor. Conseguiu convencer Eliana a ir para casa, já que os pais da menina ligaram cerca de trinta vezes. Apesar dos protestos, Matheus fez questão de dirigir até Copacabana, para deixa-la sã e salva.

Quando chegaram como de costume à portaria da menina, Eliana virou-se para Matheus e lançou lhe um sorriso tímido.

— Eu estive pensando, será que eu posso conhecer os seus pais? — Questionou ele desligando o carro e olhando-a, com expectativa. — Quero que eles saibam que você está segura comigo. — Completou ele. —

Eliana ficou indecisa, mas assim que assimilou as palavras do rapaz, assentiu tranquilamente.

O prédio por dentro era antigo, o elevador ainda tinha porta manual, mas tudo absolutamente bem conservado. Os dois andavam pelo corredor do andar da bailarina, um tanto tensos. Eliana por um lado, pensava em como seria a reação do pai ao descobrir que estava saindo com um policial e Matheus queria ter a coragem que tinha para subir morros, naquele momento.
O barulho da porta se fez presente e Eliana entrou em casa, o silêncio tomava conta do local e a única pessoa que podia ser vista no ambiente era uma senhora tomando café na janela do apartamento. A menina correu até ela e deu-lhe um beijo estalado na testa. Matheus sentiu-se descolado e não sabia onde enfiar a cara, mas assim que conseguiu notar um senhor de aproximadamente cinquenta anos e barriga avantajada chegar na sala, seu coração parou.

Suas mãos estavam suadas e tudo que conseguia pensar é que deveria demonstrar simpatia e responsabilidade. Eliana correu para o pai e puxou-o pela mão em direção ao rapaz.

— Pai, este é Matheus, meu amigo, eu estava com ele noite passada e gostaria que o senhor o conhecesse. – Ela disse sorridente. —

"VOCÊ DISSE QUE ESTAVA COMIGO NOITE PASSADA SUA LOUCA?", foi o que Matheus pensou, mas só o que conseguiu foi sorrir e levantar a mão molhada para o homem a frente.

— Amigo é? — Questionou o senhor um tanto desconfiado. O aperto de mão foi forte demais, mas tudo estava correndo como o planejado. —

— Sim senhor, eu decidi vir aqui para que saiba que enquanto sua filha estiver comigo, ela estará segura. —

— Hum, sei. – Ele disse olhando-o fixamente nos olhos. —

— E essa é minha mãe, Amanda, ela estava louca para te conhecer. – Eliana disse ao sentir a aproximação da mãe. —

— É um prazer conhece-lo querido. – Disse Amanda, definitivamente, o sorriso fácil de Eliana tinha sido herdado dela. —

— O prazer é meu. — Matheus sorriu de volta. — Eu só queria mesmo conhece-los, tenho ainda reabilitação hoje... — Matheus disse apontando para o pé. —

— O que aconteceu querido? – Amanda perguntou curiosa. —

Nervosa com a situação, Eliana cortou o rapaz.

— Ele machucou jogando bola mãe, foi isso... — A menina tentou explicar. —

Leonardo, pai de Eliana, não tirava os olhos do policial.

— Deve ter sido uma bola de aço, filho, seu pé parece estar acabado. – Sem piscar, o homem rebateu. —

— Foi uma jogada ruim. — Matheus não conseguia falar, apenas pensar freneticamente. —

Matheus sentia aquele ambiente perfeito demais, os sorrisos das pessoas eram secos, não chegavam aos olhos. Falsidade, conseguiu assimilar.

Quando conseguiu sair da casa de Eliana após um rápido beijo na portaria, ele não conseguiu arrancar com o carro. Ficou ali, pensou que Eliana havia mentido à toa, pois Matheus e Leonardo já se conheciam há tempos. Leonardo Maroni era o juiz mais ficha suja que já conhecera. Libertou gente barra pesada por muito dinheiro. Será que Eliana sabia? Questionou-se. Não, pensou, ela era humanitária demais para concordar com toda aquela sujeira.

Mas cabia a ele, contar ou não, a realidade de sua própria família.

Dança Perigosa - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now