Praia de Copacabana

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Os tiros pareciam estar cada vez mais perto. Matheus decidiu então esconder-se em uma caçamba de restos de obras, mas infelizmente a façanha não deu certo. Ele foi puxado por um dos bandidos e praticamente arrastado por quase dois deles até um carro velho e sujo, de onde vinham os disparos. A rua parecia um domingo de final de copa do mundo, vazia e silenciosa. Ele respirou fundo e pensou: vou morrer.
Mas para a felicidade de Matheus, a sorte estava ao seu lado. Um veículo blindado do BOPE, em plena luz do dia, desviava dos carros para subir a serra. Os bandidos olharam fixamente nos olhos do policial e um deles cuspiu em sua cara. Porém, outro fora mais cruel. Ele tirou o fuzil da mão de um dos marginais e deu com ele na cara de Matheus e antes que o BOPE percebesse a movimentação, ele deu um tiro no pé do rapaz. Matheus gritou como se não houvesse o amanhã, presenteando o bandido com sua agonia.
Em segundos, nenhum deles já se faziam presentes. Matheus começou a rastejar até chegar à um poste e conseguir levantar. Sua raiva era tanta que instantaneamente a dor desapareceu. Ele viu um segundo caveirão despontar na avenida, também em direção à serra. Ele pediu que parassem e entrou no veículo de guerra.
— Eu sei onde esses vagabundos estão! — Ele falou com raiva, quase gritando. —
Em cinco minutos fizeram o zigue e zague da estrada e quando chegaram ao segundo conjunto de favelas da região ele mandou que parassem. Matheus pegou um fuzil da mão de um dos policiais e começou a subir a parte da comunidade que o veículo não suportaria.
Foi seguido por mais cinco soldados fortemente armados.
Matheus conhecia tudo e todos daquela favela, afinal, morava ao lado. E tirando vantagem disso, foi até a casa de uma das mulheres do chefe do tráfico e a pegou pelos cabelos. — Liga para o seu marido agora antes que eu enfie uma bala na sua cara! — Ele gritava sacudindo-a. —
Aos prantos, a mulher ligou para o traficante, que sem pestanejar entrou em casa às pressas, dando de cara com Matheus sentado no meio da sala, ensanguentado e a mulher do sujeito deitada no chão, tremendo com os olhos inchados de tanto chorar. Com agilidade, Matheus pegou a pistola do coldre de um dos policiais e atirou no joelho do marginal.
— O que é isso Pleyba? Não sabe segurar seus cachorrinhos? Fazer bagunça no asfalto não pode. — Ele disse ao atirar no outro joelho. —
— Eu não sabia chefe! Eu juro que não sabia! — Choramingava ele. —
— O morro é teu porra! Como tu não sabia? — Esbravejou Matheus. —

O sujeito sabia que sua hora havia chegado, tentou resmungar e dizer algo que o salvasse, mas nada dava ser.

— Se você me matar, vai vir outro e mais outro, sabe que isso só nos fortalece! — Ele disse tremendo. —
— Eu posso não acabar com o tráfico, mas vou dar um recado à ele. —
Matheus respirou fundo e deu dois tiros na cabeça do chefe do Complexo do Lins. — Tudo aconteceu muito rápido, ele desceu o morro, desmaiou e acordou no hospital. Seus olhos não conseguiam distinguir as pessoas, mas quando conseguiu, notou três pessoas no local. Sua mãe rezava ao seu lado e seu pai conversava com um médico no lado de fora do quarto. Tudo visto pelo vidro. Eliana, que abriu o sorriso mais lindo do mundo quando o viu acordar. —
— Como sabia que eu estava aqui? — Ele perguntou com a voz rouca. —
— Eu vi você sendo levado para a ambulância na tv. — Ela respondeu passando lhe a mão nos cabelos. — Ele sorriu. —
— Sua mãe teve um pico hipertensivo quando viu você aqui, ela chegou essa manhã do cruzeiro. — Eliana disse com uma voz tão calma que quase o fez dormir novamente. —
Matheus colocou a mão no rosto. Sua mãe já odiava seu trabalho, agora com certeza ela faria um pacto com o Diabo para tirá-lo da polícia, se fosse preciso. — Ela não soube quando tomei o primeiro tiro e eu queria que fosse assim no segundo. Quem contou? — Perguntou ele. —
— Matheus, você está passando na televisão a manhã inteira, ninguém precisou contar! — Eli disse o óbvio. —
Ele bufou.
Sua mãe entrou logo em seguida e beijou lhe todas as partes possíveis e impossíveis para se beijar em seu rosto.
— Nunca mais me dê um susto desse menino! — Ela dizia em prantos. —
A parte mentirosa da imprensa dizia que Matheus estava entre a vida e a morte, mas a verdade era que ele iria embora na manhã seguinte, já que nada importante fora afetado em seu pé.

Dança Perigosa - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora