CAPÍTULO 3 - AMIZADE NÃO SE COMPRA

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Laura Antunes Siqueira era uma garota comum – ao menos na percepção dela. Não era linda, mas também não se considerava feia, comum. Tinha os olhos castanhos da mesma cor dos seus cabelos, era baixinha, não passava de 1,60 m, e possuía um corpo estilo as divas dos anos 50 e isso ela adorava – Marilyn Monroe era o máximo!

Laura não tinha nenhum tipo de complexo, era amada por seus pais e irmão mais velho, que acreditava ser seu guardião pessoal. Embora não fosse, de certa forma, ciumento, seu irmão gostava de saber onde ela ia, com quem se relacionava e de entrevistar qualquer pretendente que se aproximasse a menos de dois metros de distância da sua irmã favorita. Lógico que isso somente aconteceria caso ele visse alguém se aproximar: seu irmão não era lá muito conhecido como sendo um atento observador.

Na verdade, Laura não imaginava, mas era um sucesso entre os meninos da sua escola. O que acontecia era que eles não tinham coragem de se aproximar dela. Achavam ela legal, embora parecesse sempre distante. Ela não dava grande abertura para alguém chegar perto com outra intenção que não fosse de amizade, então eles ficavam amigos dela. Era uma garota simpática, bem-humorada e, embora falasse com todas as tribos escolares, tinha o seu círculo pessoal de confiança bem delimitado. Além da sua família, as outras pessoas que possuíam a total confiança de Laura eram seus dois melhores amigos: Beatriz e Adrien.

Beatriz, uma loira alta e magérrima, era constantemente abordada por todos os garotos, na escola e fora dela. Amiga de verdade que brigava por quem gostava, Bia, para os íntimos, defendia com unhas e dentes aqueles que amavam, mesmo deixando claro quando discordava de suas ações. Ela era uma pessoa sensível, sincera e observadora.

Há cerca de dois anos, os pais de Beatriz se separaram, o que a fez passar, provavelmente, pelo momento mais difícil da sua vida. Seu pai mudou-se para uma cidade não muito distante, fazendo que ela fosse visitá-lo com frequência. Apesar do divórcio, seus pais mantiveram uma amigável convivência e isso fez com que Beatriz se acostumasse rapidamente a nova situação.

Adrien fechava o pequeno e seleto círculo. Sua mãe, apaixonada pelo ator estadunidense Adrien Brody, não teve dúvidas quando soube que estava grávida de um menino. O pai de Adrien, mesmo achando o nome um tanto quanto exótico, não fez nenhuma objeção a escolha.

Ambos, pai e mãe, eram tão maravilhosos e apaixonados, que a teoria de Laura e Bia era que Adrien tinha sido artificialmente inserido no corpo de Dona Fátima por alienígenas. Só assim para explicar a criatura irritante que ele poderia ser de vez em quando. Antes, elas cogitavam a teoria da adoção, mas logo desistiram. Adrien era a versão muitos anos mais nova do seu pai.

De toda forma, embora Adrien não fosse nem um pouco parecido com seus pais no que se refere a suavidade na fala e na tranquilidade de convivência no meio social, era muito amado por suas amigas. Ele era um jovem alto, moreno e magro, jogador do time de basquete da escola, e também era ferozmente protetor com as suas garotas, como ele costumava dizer.

Os três eram inseparáveis desde o jardim de infância e, por terem a mesma idade, vinham sendo alocados sempre na mesma sala, da mesma escola. No último ano do Curso Médio não poderia ser diferente. Até serem brutalmente separados pelo destino cruel do Curso Superior, enfrentariam juntos o último ano de colegial.

***

Foi como um furacão que Laura entrou na sala de aula após seu encontro com o Shrek lá de fora, indo diretamente para os braços dos seus inseparáveis amigos.

– Humpf, babaca!

– Epa, calma aí gracinha, eu ainda não falei nada hoje, não mereço o insulto! – disse Adrien ao mesmo tempo em que Bia exclamava:

– Bom dia, flor! O que foi que você disse, Laurinha? – perguntou Bia.

– Eu disse babaca, e não é com você Adrien, é com um ogrozinho que eu esbarrei no corredor! – Laura respondeu, sendo logo respaldada pela amiga:

– Então tá, cadê o babaca? Você precisa me mostrar pra eu insultá-lo com mais gosto!

– Mas Bia, você não sabe nem se o pobre babaca-barra-ogrozinho tem realmente culpa para ser insultado por Laura.

– Não quero nem saber, se a flor diz que ele é um ogrozinho babaca, eu concordo e pronto, não preciso de mais explicação, só preciso conhecer o boy, não deve ser veterano... Ou é Laurinha?

– Não, não é, nunca vi mais magro! – nem mais atraente, com aquela pose de bad boy, pensou Laura, mas nunca diria isso em voz alta.

– Tá bom, Beatriz, se você não tem interesse em saber o que aconteceu para fazer com que Laura chame alguém de babaca, além de mim ou do irmão dela, eu quero. Se esse cara fez algo inapropriado, preciso exigir uma satisfação urgentemente!

– Meu herói! – cantarolou Laura dando um abraço apertado em Adrien – Mas sério gente, calma, não foi nada demais. Eu vinha andando distraída pelo corredor, quando esbarrei no garoto que estava encostado perto da porta da sa...

Bia cortou a narração do fato questionando:

– Você esbarrou, inocentemente, num carinha novato. Ookeeiii... Você estava lendo? Ouvindo música? Teve alguma crise de labirintite? Ooou só desviou o caminho mesmo?

– Biaa, posso terminar? Eu esbarrei sem querer, como já disse! Você sabe muito bem que eu sou meio destrambelhada. Então, continuando, eu vinha para aula e esbarrei no novato, meus livros caíram todos e vocês acham que ele me ajudou? Nãooo, o mal educado teve a audácia de, além de não me ajudar, falar com uma voz de locutor de rádio "você não olha por onde anda? ". Grosso – Senhor! – Que cara grosso, completo ogro. Agora pronto, já podem ficar do meu lado, como melhores amigos devem fazer!

Mal terminou a frase, o tal Shrek entrou na sala e algumas – ou melhor – muitas cabeças viraram na sua direção, inclusive dos amigos de Laura.

– Humm, gatinho novo na área... É ele o odiado ogro? – Bia disse com o sorriso do gato de Alice, devidamente virada para Laura, que enrubesceu e retrucou:

– É ele. Você achou gatinho? Eu nem tinha visto direito, mas agora prestando mais atenção estou mudando de ideia, ele não parece o Shrek, ele se assemelha mais ao Corcunda de Notre Dame!

– Uhum...

– Bia, você é minha amiga, tem por obrigação me ajudar a atacar.

Enquanto as duas continuavam a discussão, o novato sentou na última fila de cadeiras, sem fazer qualquer contato visual com ninguém na sala. Adrien, sempre muito perspicaz, achou que aquele calouro era um pouco esquisito, mas poderia ser apenas um preconceito inicial por saber que o dito cujo tinha sido mal-educado com uma de suas melhores amigas. De qualquer jeito, manteria um olho nele. Nunca se sabe quando se pode ter um assassino em potencial perto de você.

As discussões e divagações do trio foram interrompidas quando o último sinal tocou e a professora de português entrou na sala carregada de livros. Mesmo sendo o último ano na escola, o primeiro trabalho passado pela professora foi uma excitante redação cujo tema era: Como foram as suas férias e o que você espera do ano escolar que se inicia. Com um sonoro e coletivo "Ah, não! ", a turma começou seu trabalho em um silêncio conformado.

Laura ainda estava bastante alheia na sala de aula. Lembrava que, antes de entrar, tinha pensado que esse ano teria tudo para ser diferente, potencialmente espetacular. Porém, ao se deparar com a tarefa mais sem imaginação de todas, chegou a conclusão que, na verdade, seu último ano seria apenas mais um ano comum a contar na sua curta vida estudantil. Contudo, decidiu que isso não deveria ser algo ruim, embora também não fosse nada espetacular. Seria normal, corrente. Seria, se tudo continuasse no mesmo ritmo, quase entediante. O que era bom, refletiu sem entusiasmo.

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Acaso Destinado (AMOSTRA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora