Capítulo 06 - Daniel

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― Oi, Pati! Desculpa, mas tive que resolver um problema e acabei esquecendo de ligar para desmarcar com você.

― Não acredito! na minha cama, só de lingerie, esperando por você. Não pode me dar um bolo, Dani. Te dou dez minutos para... ― Mal escuto o que ela tem a me dizer. Do terraço, vejo Marina com seu olhar assustado, como se não pudesse esperar mais um segundo para sair daqui.

O que aconteceu com ela? Eu não esperava encontrá-la assim. Sei que passou anos isolada e, se a conheço bem, em luto profundo. Ela ainda não está preparada para enfrentar o mundo de novo, mas sempre dominou o espaço ao seu redor. Marina se tornou uma mulher frágil, e eu me odeio por ter permitido que isso acontecesse. Nossa! E que lugar é aquele onde vive? Um quarto minúsculo, caindo aos pedaços e com uma companheira que mais parece um dos bois lá da fazenda.

― Desculpa, mas é um problema com a minha irmã. Eu tenho mesmo que resolver isso. Compenso você um outro dia, ok? Boa noite.

― Mas...

Desligo a chamada e volto para a mesa, ao mesmo tempo em que o garçom se aproxima.

― Camarão na manteiga de pistaches com risoto trufado para ela. Um filé mignon mal passado para mim e duas águas sem gás. Obrigado.

O olhar de Marina se desvia rapidamente do cardápio e me encara, surpreso. Tenho certeza que é porque lembrei de seu prato favorito. Felicito-me mentalmente. Em questão de segundos, sua fisionomia passa de encantadoramente surpresa para irritantemente nervosa.

― O que foi? ― Pergunto, inocente.

― Você não se cansa disso?

― Disso o quê?

― De intervir, droga! ― Ao perceber que gritou, Marina olha para as outras mesas, buscando a garantia de que não incomodou ninguém. Respira fundo e tenta se acalmar. ― Entenda, você não é meu irmão. Não pode ficar me dando ordens e controlando a minha vida. Em menos de vinte e quatro horas, você subornou a minha amiga para me prender a você nas aulas de português, me forçou a pegar carona no seu carro importado e me fez sair de casa à força para comer algo que você mesmo escolheu. Não basta o que já fez?

"O que eu já fiz? Do que ela está falando?"

― Você esqueceu de mencionar que salvei sua vida daqueles marginais. Aliás, de nada por aquilo. ― Sorrio, mas no fundo, a vontade de matar aqueles cretinos volta com ainda mais força. ― Olha, é claro que não sou seu irmão. Acho que nós dois concordamos neste ponto, mas isso não impede que eu queira te ajudar de alguma forma ou estudar com você. Eu sei que não éramos tão próximos no passado, mas estamos na mesma faculdade, fazendo algumas disciplinas juntos. Não quero e não vou fingir que não te conheço, quando nossos pais são casados e já até moramos no mesmo apartamento. Eu te conheço há anos, porra! E é por isso que eu preciso saber porque você está morando naquela casa velha, quando poderia pagar por um apartamento igual ou melhor que o meu.

Marina se afasta da mesa, apoiando as costas na sua cadeira e cruzando os braços. Seu olhar me desafia.

― Ah! Vai dizer que o seu papaizinho não te contou?

― SEU pai. Ele me adotou e eu agradeço por isso, mas ele continua sendo o SEU pai.

― Já falei para você que ele me abandonou no momento que mais precisei. Ele não é meu pai.

― Ok! Entendi! Não acho que tenhamos que discutir isso. Pelo menos não agora. O que preciso saber é o motivo de você dividir uma lata de sardinha com um baiacu.

― Isso definitivamente não é da sua conta.

Preciso jogar baixo.

― Ah! Não é da minha conta? E se eu não comprar a tal saia da Clara, a não ser que você me conte? ― Ela não seria capaz de deixar a amiga na mão, seria?

ImperfeitosWhere stories live. Discover now