Capítulo 9: Sapato Amarelo

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Bárbara já esperava de banho tomado quando a campainha tocou. Helena, sua amiga do trabalho estava parada ao lado de um entregador. Ela estava nitidamente curiosa com a encomenda que nem era dela.

- Senhora Barbara Gomes?

- Sim. – Barbara estranhou e trocou olhares com a amiga que batia palminhas silenciosas. Não havia comprado nada.

- Coloque o RG e assine aqui. – Entregou uma prancheta apontando um retângulo na folha.

Ela pegou, assinou e devolveu. Helena estava na ponta dos pés tentando olhar por cima do ombro do entregador.

- Obrigado. – Ele agradeceu, pegou a prancheta e conferiu. Depois entregou o pacote e foi embora. – Tenha um ótimo dia!

- Para você também. – estava com uma caixa leve de aproximadamente 30 cm, virando de um lado e do outro procurando alguma etiqueta que indicasse quem o enviou.

- O que você comprou? Deixa-me ver? – Helena foi seguindo Barbara para dentro da casa.

- Eu não comprei nada.

- Então abre! – ela quase gritou.

- E se for uma bomba?

Helena tomou a caixa na mão e tentou ouvir algum tic-tac lá dentro, chacoalhou a caixa vigorosamente e tentou ouvir novamente. O embrulho continuava em silêncio.

- Se não explodiu, não é! – e já foi arrancando o papel como se o pacote fosse dela. – Hummm! É um sapato! – disse ao reconhecer a marca, depois abriu a caixa – Amarelo? Eca! Que mau gosto!

- Me deixa ver! – Barbara puxou a caixa e ficou boquiaberta. Era um sapato desses caros, de grife. Da cor amarela, de salto fino e solado vermelho. – É um Christian Louboutin!?

- Ah, mas amarelo? Não tinha um preto? Ei, por que você está sorrindo assim?

- Porque... – disse com os olhos marejados segurando um dos pés de sapato na mão como se fosse um pássaro pronto a sair voando - São lindos!

- Bom, pelo menos são melhores que aqueles surrados que você usava antes. Ainda bem que arrebentaram quando você foi assaltada. – Helena tomou o sapato e o devolveu na caixa. E seguiu para o quarto saltitante. Barbara foi atrás.

Chegando ao quarto, Helena se jogou na cama sem se importar com o comprimento do vestido.

Usava um vestido roxo estilo Twiggy anos 60 com uma faixa branca no centro. Também usava botas pretas até o joelho. Helena tinha os cabelos longos e encaracolados que gostava de usar soltos, desciam como um manto negro em suas costas.

Trabalhavam juntas há alguns meses e Barbara havia convidado para acompanha-la no show da banda de Ricardo.

- Vou usá-los hoje. – disse Barbara abrindo o guarda roupas e olhando para suas roupas.

- O que? Esses sapatos amarelos? – revirou os olhos - Só não use uma roupa verde pra combinar. Vai parecer a bandeira nacional e isso é muito brega! – Helena era muito ligada nessa coisa de moda, apesar de usar roupas dos anos 60.

Barbara riu e virou-se para a amiga.

- Acho que vou de jeans e um top mesmo.

- Ai amiga, com esse corpo de violão, você pode usar qualquer coisa que fica gostosa. – ela virou-se de bruços, dobrou as pernas e balançava, como uma adolescente.

- Você acha que essa blusa me deixa muito, você sabe... – colocou a blusa na frente do corpo e apontou com o queixo para os seios.

- Use aquela preta de renda. Fica linda em você. - Pegou o sapato amarelo e ficou analisando. – Se você não comprou, quem te deu esse sapato? Foi o gato do treino, não foi?

- Foi sim. – Barbara virou-se para o guarda roupa e começou a vasculhar, procurando a blusa que a amiga indicou. Ela era preta, de renda e forrada, com um decote em V não muito profundo e uma faixa de cetim abaixo do busto. A partir daí, a blusa abria-se num "A" ficando mais larga, como uma bata.

- E você reclamando que ele parecia um polvo pra cima de você...

- Quem? – Barbara encontrou a blusa que procurava. Tirou a que usava, ficando só de sutiã e a vestiu.

- O cara que te deu o sapato!

- O Brunno? – estranhou.

- Não era Ricardo o nome dele?

- Ricardo é o irmão!

- Mas você não treinou com o Ricardo, não era ele que parecia um polvo? – Barbara raramente contava seus finais de semana, falar sobre o treino com Ricardo foi uma exceção. Pois Helena chegava toda segunda feira cheia de histórias animadas sobre suas aventuras do fim de semana, que sempre se resumiam em baladas e rapazes.

- Sim, esse é o Ricardo.

- Não foi ele que te deu o sapato? – essa conversa estava bem confusa.

- Não! Foi o Brunno.

- Como você sabe? Não tem cartão, não tem nada! E você disse que o irmão dele parecia super interessado em você, tanto que estamos indo nesse show para vê-lo. Pode ter sido ele.

- Mas não foi. Foi o Brunno. – Barbara agora vestia a calça que ficava bem ajustada no corpo e por isso precisava trocar o peso de perna enquanto ia subindo pelas coxas.

- Por que você tem tanta certeza?

- Porque o sapato é amarelo.

- Ainda não entendi.

Barbara se virou, pegou o sapato e o calçou. Foi até o espelho e conferiu se a caça estava bem ajustada no bumbum, se a barra estava num comprimento bom agora que estava de salto e se o decote estava muito vulgar e concluiu que estava bonita. Tudo estava em harmonia.

- Porque ele sabe da história do sapato amarelo da minha mãe. – deu de ombros, mas no íntimo estava radiante. – Você acha que ficou bom?

Helena se levantou e foi até a amiga. Ficou ao lado dela no espelho e ajeitou os cachos do próprio cabelo e depois passou o dedo num cantinho dos lábios onde o batom estava borrado.

- Você está sexy e linda.

- Você acha que se eu ficar sexy e linda, ele vai querer algo mais comigo? – Bárbara estava insegura.

- O Ricardo? – Helena provocou.

Bárbara revirou os olhos e soltou um suspiro. A amiga riu e se virou para ela, tirou o cabelo ruivo da frente do decote e colocou atrás dos ombros. Depois ficou atrás dela, segurando em seus ombros para que ela se visse por inteiro no espelho.

- O Brunno vai se apaixonar assim que botar os olhos em você. – disse ajeitando o cabelo de Bárbara mais uma vez. – Até eu estou me apaixonando.

E as duas gargalharam.

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Recadinhos: O primeiro nome dessa história foi "Sapato Amarelo", mas achei que não ia chamar tanta atenção. Acabei trocando por um que adorei. Só falta mesmo fazer uma sinopse decente.

Se você quer saber o por quê do Sapato Amarelo, é porque essa história era uma fic do Batman. E Barbara, obviamente, é a Batgirl. A personagem usa uma bota amarela, então tentei encaixar várias características no livro também.  Até que não ficou ruim. 
Essa semana, inclusive, vi uma moça de vestido preto e sapato amarelo e ri sozinha.

Como amar um cactoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora