Capítulo 2: Estrela Titã

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Ricardo estava sentado, cotovelos apoiados no balcão do bar e a cabeça baixa encarando o copo de uisque ali. Não sabia o que fazer, pra onde ir ou fugir. A verdade é que tinha errado feio.

Sair brigado com Brunno nunca foi sua intenção, mas aquela situação estava ficando insustentável. Brunno no início, quando se conheceram, estava obcecado em descobrir a relação entre a morte dos pais dele e os seus, mas depois, esfriou. Como se tivésse descoberto algo e não quisesse revelar, algo que era tão absurdo que não queria levar adiante.

Ricardo ainda morava no circo quando soube da morte do casal Cândido. Naquela época, esse nome era algo distante de sua realidade. Ricardo, com 5 anos de idade, era um garoto extrovertido e hiperativo. Gostava de escalar as redes estendidas para concertar, de usar o trapézio como balanço, de correr com os cachorros treinados do circo.

Sua infância era agitada demais pelos jogos infantis para contabilizar as visitas que seu pai sempre recebia do homem de terno. Anos depois de sua ausência é que se deu conta e perguntou aos pais. Eles apenas se entreolharam e disseram que o homem tinha ido embora. E para uma criança, não eram necessarias maiores explicações.

Só depois da morte dos próprios pais que soube, o homem de terno era o Sr.Candido.

Não sabia, mas Brunno e Ricardo já haviam se conhecido antes, quando os pais de ambos eram ainda vivos. Ricardo era praticamente um bebê e Brunno ainda era uma criança curiosa deslumbrada com as cores do circo.

Mas para Ricardo, a primeira vez que se lembrava da figura de Brunno em sua vida foi no enterro de seus pais. Nunca havia se perguntado quem arcou com as desespeas e não era de se esperar que uma criança de 12 anos estivesse preocupada com isso. Mas Brunno estava lá, impecavelmente de terno e cabelo com gel, alinhado num jeito meio esquisito, muito esticado para o lado.

Cumprimentou-o, deu-lhe os pesames e foi direto ao assunto.

- Acho que seus pais foram assassinados.

Era estranho alguém falar isso assim, na lata. Mas Brunno era assim: direto.

Ricardo só voltou a chorar.

- Desculpe, o Brunno não sabe como e quando falar as coisas, certo Brunno? Peça desculpas ao seu amigo. – corrigiu Alfredo, abraçando o menino que chorava.

Brunno revirou o bolso e entregou um lenço para Ricardo.

- Desculpe.

E foram embora sem mais palavras.

Mas aquelas palavras no enterro não deixaram Ricardo em paz, desde aquele dia ficava remoendo o acidente, o antes, o enterro. Arrumou sua mochila e partiu. Descobriu onde Brunno morava e quando apareceu em sua porta, já era esperado.

Dessa vez foi Ricardo que ficou boquiaberto com o lugar. Era grande, alto, cheio de cômodos, quase um castelo. Ricardo ganhou até seu próprio quarto!

Foram bons anos aqueles primeiros, apesar dos pesares.

Ficaram amigos, depois irmãos. Brunno adotou legamente Ricardo para evitar qualquer problema e comentários. Passaram noites investigando, estudando, aprendendo.

Até que um dia Brunno não quis mais falar no assunto. Desistiu.

Aquilo nunca ficou claro para Ricardo, foi quando brigaram e ele foi embora atrás de novas pistas, de mais explicações.

Foi em Campinas que conheceu o pessoal da banda. Estava num bar, desanimado com a pista que não deu em nada, quando ouviu a música. Em seguida veio o som da voz de Estela. Teve que virar-se e olhar. A voz era tão espetacular quanto sua dona.

Como amar um cactoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora