The Only Exception

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05 de setembro de 2014
Londres
Dormitório da Universidade de Oxford

Os pôsteres colados tortos na parede formavam uma espécie de constelação particular. Dorothea Lange, Steve McCurry, Henri Cartier-Bresson. Rostos, guerras, silêncios congelados em papel fotográfico. Harry os observava como quem encara um espelho distante, tentando adivinhar se algum dia seu nome também pisaria aquele território quase sagrado.

Sentado na beira da cama estreita, o cacheado girava distraidamente a câmera entre os dedos. O clique seco do obturador, mesmo sem filme, era reconfortante. Um som pequeno, mas honesto.

Ele retirou os fones de ouvido quando a voz da diretora ecoou pelos alto-falantes do prédio, excessivamente animada, anunciando o quanto estava satisfeita com mais um ano letivo caminhando para o fim e com a chegada constante de novos alunos. Era um discurso que se repetia com pequenas variações, como um refrão cansado. Toda semana alguém novo. Toda semana o mesmo entusiasmo protocolar.

Harry suspirou.

Nos últimos meses, a vida parecia rodar em modo automático. Acordar cedo, aulas, treino, trabalhos, estágio, dormitório. Quatro meses comprimidos em uma rotina previsível demais para alguém de dezenove anos. Ele encarava o teto branco enquanto um verso ecoava em sua mente, insistente como um sussurro antigo:

Um dia você deixará esse mundo para trás, então viva uma vida da qual você irá se lembrar.

Mas ali estava ele. Harry Edward Styles, no auge de uma juventude que deveria pulsar mais alto. Estudante de fotografia em uma das melhores universidades de Londres. Filho de uma família influente, com uma vida cuidadosamente alinhada desde o berço. Tudo dava certo. Talvez certo demais.

O estágio em uma renomada empresa de modelos era o tipo de oportunidade que muitos matariam para ter. Nos raros momentos livres, ele visitava a família em Mayfair, sorria nos jantares longos, respondia às perguntas esperadas. O filho perfeito, educado, talentoso, promissor.

Harry havia dedicado tanto tempo tentando corresponder a esse papel que, em algum ponto, deixou de viver qualquer coisa fora dele. Nunca se apaixonou. Nunca soube, de verdade, como era ter o peito bagunçado por alguém.

Ele apoiou a câmera sobre a mesa e passou a mão pelos cachos, inquieto. Havia algo faltando. Ele só ainda não sabia o quê.

....

Doncaster

Louis estava espremido no pequeno sofá verde-musgo, com Lottie de um lado e Fizzy do outro, os joelhos quase se tocando por falta de espaço. A sala era modesta, mas viva. O tipo de lugar onde tudo parecia ter história, mesmo os defeitos.

No canto, Mark, seu padrasto, se ajoelhava diante de uma vitrola antiga, ferramentas improvisadas espalhadas pelo chão. Daisy e Phoebe estavam sentadas no tapete, olhos grudados na televisão enquanto Hora de Aventura preenchia o ambiente com cores exageradas e risadas sem sentido. Era, invariavelmente, o desenho favorito de todos ali.

Louis, por exceção, estava alheio a tudo.

Segurava um exemplar gasto de O Morro dos Ventos Uivantes, os dedos marcando páginas já conhecidas, mas nunca cansativas. Ele se perdia em cada linha, em cada intensidade quase cruel que Emily Brontë havia colocado no papel. Amava como a história era bruta, como os sentimentos não pediam permissão para existir. Louis gostava dessa honestidade quase desconfortável.

Para ele, ler não era apenas escapar. Era sentir.

— Consegui! — Mark anunciou, triunfante, levantando-se diante da vitrola de madeira como se tivesse acabado de vencer uma batalha pessoal.

Louis ergueu os olhos do livro no exato momento em que um chiado antigo preencheu o ar, seguido por uma melodia suave, levemente distorcida pelo tempo. Um sorriso pequeno surgiu no canto de sua boca.

— Finalmente — comentou Lottie, rindo.

A música se espalhou pela sala, misturando-se às vozes do desenho animado e às conversas soltas. Louis fechou o livro devagar, apoiando-o no colo. Por alguns segundos, apenas escutou.

— Podemos ouvir Katy Perry? — Lottie perguntou, já remexendo em uma pilha de discos, os dedos ansiosos.

— Não, Lottie. A gente tem que ouvir Edith Whiskers — Louis respondeu, levantando-se para pegar um disco surrado, a capa marcada pelo tempo e pelo uso constante.

— Calma, pessoal — Mark interveio, sorrindo com aquela paciência que parecia inesgotável. — Temos todo o tempo do mundo. Dá pra ouvir Katy Perry, dá pra ouvir Edith, dá pra ouvir um monte de coisa. Um de cada vez, ok?

O acordo foi selado com risadas.

Mark foi o primeiro a escolher. Assim que colocou o disco para tocar, um clássico dos anos 90 preencheu a sala. Dancing Queen começou a soar pelas paredes amarelas, e o ambiente inteiro pareceu ganhar outra energia. Mark puxou as meninas para dançar no meio da sala, girando Daisy e Phoebe enquanto elas riam alto, desajeitadas e felizes.

Louis observava tudo do sofá, rindo daquela cena caótica e perfeita ao mesmo tempo. Jay registrava cada momento com sua pequena câmera analógica, capturando risos borrados e movimentos fora de foco.

— Vem, Lou — Mark disse, estendendo a mão para ele.

Louis hesitou por um segundo, depois se levantou. Estava com um pijama antigo, confortável demais para se importar com qualquer julgamento, e meias listradas que escorregavam levemente no chão. Ele segurou a mão do padrasto e se deixou levar pela música, dançando sem ritmo, sem técnica, apenas sentindo.

Louis William Tomlinson, de dezoito anos, acabara de conquistar uma bolsa integral para a Universidade de Oxford, onde cursaria música. Desde os oito anos, a música fazia parte de quem ele era. Lembrava-se perfeitamente da primeira vez que ouviu a mãe tocar violão. O som simples, quase tímido, foi suficiente para mudar tudo.

Aos nove anos, ganhou seu primeiro violão de Mark, que havia trabalhado quase quarenta e oito horas seguidas para conseguir comprá-lo. Aos doze, ganhou um piano em um sorteio no hospital onde sua mãe trabalhava. Para Louis, aquilo sempre pareceu destino.

Ele cresceu ouvindo Bon Jovi, Edith Whiskers e Coldplay, músicas que o acompanhavam nos dias bons e nos ruins, nos silêncios e nas pequenas vitórias.

— Essa casa virou um verdadeiro caos — Jay comentou, rindo enquanto filmava a cena diante de si.

Louis estendeu a mão para a mãe, puxando-a para junto deles. Jay não resistiu, largou a câmera sobre a estante e se juntou à dança descompassada, todos rindo, tropeçando, errando os passos.

A família de Louis nunca teve fortuna. A casa não era grande, nem impecável. Mas havia algo ali que dinheiro nenhum compraria. Entre paredes simples e móveis gastos, existia riso, afeto e uma forma de amor que se reinventava todos os dias.

E, naquele momento, isso era mais do que suficiente.

The RiptideWhere stories live. Discover now