~•|| Capítulo 09 ||•~

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Na manhã seguinte, acordo antes do despertador tocar — o que já era raro. A ansiedade estava tão viva dentro de mim que parecia outro corpo respirando junto ao meu.
Eu levantei,  tomei banho rápido, passei um hidratante com cheiro suave de baunilha, vesti uma camisa clara, calça social, e prendi o cabelo num coque baixo, simples e bem arrumado.

Enquanto colocava o jaleco dobrado no banco do passageiro — eu não o usaria na visita, mas gostava de tê-lo por perto —
Respirei fundo e murmurei para mim mesmo:

— Vamos fazer isso direito.

O carro deslizou pelas ruas ainda úmidas do começo da manhã. O sol nascia tingindo o céu com tons de pêssego e mel. A vizinhança onde os filhos do Shadow viviam era simples, mas arrumada. Casas pequenas, jardins com flores resistentes, bicicletas encostadas nos portões.

Eu estaciono em frente a uma casa de muros baixos, pintada num azul já desgastado pelo tempo. Uma árvore grande na calçada fornecia uma sombra acolhedora.

Apertei a campainha.

A porta se abriu quase imediatamente.

Uma mulher bem alta, mais ou menos da minha altura, de pele bem clara como porcelana, e cabelos lisos e tão claros que pareciam cascatas de névoa.

— Você deve ser o Dr. Pure Vanilla — disse ela sem rodeios. — Entre, por favor.

Sorri educadamente.

— Obrigado por me receber.

Ela gesticulou para mim entrar, mas antes que ele pudesse dar dois passos, ouviu correria. Passos pequenos. Barulho de risos.

E então ela surgiu correndo pelo corredor.

Candy Apple.

A garotinha de quatro anos tinha a pele clarinha, as bochechas naturalmente rosadas e os cabelos tão claros que pareciam quase brancos, como se fossem fios de açúcar cristal no sol da manhã. Usava um vestidinho amarelo e meias de coelho.

Ela parou na minha frente, encarando-me como se estivesse analisando cada átomo do meu corpo.

— Quem é você? — perguntou com a naturalidade desarmada das crianças pequenas.

Me abaixo um pouco, sorrindo.

— Eu sou o Vanilla. Um amigo do hospital onde o seu pai está.

Candy Apple inclinou a cabeça para o lado. Depois, apontou para ele:

— Seu cabelo é igual ao meu… mas o seu é de adulto.

Eu ri — um riso suave, que saiu sem esforço.

— É, talvez seja um pouco parecido.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, passos lentos, arrastados, surgiram atrás dela.

Black Saphire.

O adolescente de dezesseis anos era quase tão alto quanto eu. E isso me chocou um pouco. Moreno, de cabelos negros e lisos que caíam um pouco sobre os olhos — olhos escuros, fundos, cansados demais para alguém tão jovem. Provavelmente virava noites em algum aparelho eletrônico.  Usava uma camisa larga e calça de moletom. Nas mãos, girava um chaveiro antigo como se aquilo o mantivesse ancorado ao chão.

𝐋𝐨𝐫𝐚𝐳𝐞𝐩𝐚𝐦 𝐕𝐢𝐯𝐨 (𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰𝐯𝐚𝐧𝐢𝐥𝐥𝐚 𝐞 𝐏𝐮𝐫𝐞𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰)Where stories live. Discover now