O corredor de segurança máxima estava silencioso quando eu chegou. O vigia da porta fez apenas um aceno de cabeça, abriu a tranca pesada e murmurou:
— Se precisar sair, bata na porta por dentro.
Eu respirei fundo, mais fundo do que queria admitir, e entrei.
A primeira coisa que vi foi o lugar onde, no dia anterior, Shadow estivera deitado sobre a mesa, feito um animal preguiçoso observando sua presa.
Mas hoje...
Hoje Shadow estava sentado no chão, as pernas longas dobradas de uma maneira estranhamente elegante, a cabeça inclinada para o lado, enquanto seus dedos posicionavam calmamente as peças de um jogo de xadrez.
Um tabuleiro de madeira gasto, peças desiguais, algumas lascadas — coisa que claramente não deveria estar ali. Eu não tinha ideia de como Shadow conseguira aquele jogo, e preferiu não perguntar naquele exato segundo.
Shadow ergueu a cabeça devagar, como se soubesse exatamente o momento em que eu entraria.
O sorriso veio depois.
Aquele sorriso torto, perturbador, que parecia carregar a promessa de que alguma coisa muito errada já estava para começar.
— Vanilly! — ele anunciou, abrindo os braços como se estivesse saudando um velho amigo.
Travo por dois segundos antes de responder.
— É Vanilla, Shadow.
O paciente piscou, inclinando ainda mais a cabeça.
— Foda-se, Vanilly. — Ele apontou para o tabuleiro com o queixo. — Vem logo. As brancas são minhas.
Nenhum médico prudente faria aquilo, mas como não sou, me aproximo devagar, sentando na cadeira de metal que havia no canto. Shadow, no entanto, bateu a mão aberta no chão ao lado de si.
— Aqui. — Ele disse, impaciente. — Não gosto de jogar com gente sentada tão longe. Parece... vigilância.
Engoli seco, mas me sentei no chão, alinhado ao tablado. A madeira rangia sob nós dois. Shadow segurou um peão branco entre os dedos e murmurou:
— Eu começo.
Ele moveu o peão sem tirar os olhos de mim. O silêncio que se instalou foi pesado. Tenso. Vivo.
Respirei fundo, tentando lembrar de cada aula de abordagem psicodinâmica para pacientes agressivos.
Movi um peão também.
Shadow sorriu como quem vê um filhote tentando rosnar.
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𝐋𝐨𝐫𝐚𝐳𝐞𝐩𝐚𝐦 𝐕𝐢𝐯𝐨 (𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰𝐯𝐚𝐧𝐢𝐥𝐥𝐚 𝐞 𝐏𝐮𝐫𝐞𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰)
FanficSempre dizem que "ninguém é de ferro" e aprendemos isso de maneiras diversas. Mas se um psicólogo teve momentos traumáticos que ainda não cicatrizaram, seria certo se ele tratasse alguém pior? Qual a diferença entre esquizofrenia e ansiedade? Nenhu...
