~•|| Capítulo 07 ||•~

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— PARA. — repetiu, mais alto.

Continuo.

Ai, que maldoso eu sou. MUAHAHAHAHA.
Shadow apertou os olhos, como se estivesse ouvindo alguém arranhar um quadro negro.

— Isso está errado — murmurou Shadow, a voz tremendo entre irritação e incredulidade.
Toco outra vez aquela nota natural que deveria ser sustenido.

Foi a gota.

Shadow levantou de vez, caminhou até mim com passos desconexos, nervosos, quase descoordenados — como alguém cuja sanidade dependia daquilo.

Tomou o violino de mim com uma rapidez surpreendente, segurando com firmeza, mas sem violência. Só... desespero técnico.

— É assim que se toca — disse, a voz baixa e tensa.
E tocou.

Uma única nota.
O lindo, fá sustenido.
Nota Perfeita.
Cristalina.
Precisa.

O som cortou o ar como se trouxesse oxigênio para o próprio quarto.

Fiquei em silêncio, imóvel — não por medo, mas pela beleza.

Shadow tocou mais duas notas. As certas.

E depois empurrou o violino de volta para as minhas mãos, como se aquilo queimasse.

— Não estrague isso de novo — disse, voltando para o canto do quarto, ofegante, como se aquela correção tivesse cobrado energia demais.

Guardei o violino calmamente.

E, pela primeira vez em mais de uma semana...Shadow tinha falado comigo. Não insultado, não rido, não se calando.
Falado. Corrigido. Participado.

Era pouco.
Mas era tudo.

E eu, do lado de dentro do peito, senti um pequeno alívio crescer — quente, sutil e inesperadamente esperançoso.

Shadow tinha reagido.
Tinha quebrado o muro.
Mesmo que fosse para dizer:
"Você está fazendo errado."

Ainda assim...
era um começo.

Permaneci alguns segundos parado, com o violino ainda quente nas mãos depois do toque de Shadow. O quarto parecia outro — como se o ar tivesse ganhado textura, como se algo invisível tivesse sido deslocado do lugar.

Shadow estava sentado novamente no canto, joelhos contra o peito, encarando o chão como se nada tivesse acontecido.
Mas eu sabia.
Tinha acontecido. Eu quase tava dando pulinhos de alegria que nem a Lily.

Foi ali, naquele silêncio denso, que decidi arriscar mais um passo calculado.

— Shadow... — chamo baixinho, com a voz calma e neutra.

Os dedos de Shadow pararam de tamborilar no próprio joelho, mas ele não levantou o rosto.

Abri a pasta de partituras que trouxera — mas não eram partituras aleatórias. Eu tinha escolhido de propósito melodias com estruturas confusas, marcações trocadas de compasso, pequenas anotações rabiscadas. Algo que irritaria o perfeccionismo técnico de qualquer músico, especialmente um sensível como Shadow Milk. Eu tenho que parar de ser maldoso, Meu Bom Deus...

— Preciso de ajuda com uma coisa — disse, me aproximando devagar, deixando que o papel fizesse barulho para Shadow ouvir.
Shadow finalmente ergueu o olhar, lento, desconfiado, ainda irritado da música errada de antes.

Puxo a cadeira e me sento, abrindo a pasta em meu colo.

— Consegue me ajudar a ler essas partituras?

Se fosse qualquer outro paciente, a pergunta pareceria genuína. Mas ali, naquele contexto... Shadow sabia que era provocação. Sabia que eu sabia ler uma simples partitura. Sabia que estava sendo puxado para fora do próprio silêncio.

𝐋𝐨𝐫𝐚𝐳𝐞𝐩𝐚𝐦 𝐕𝐢𝐯𝐨 (𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰𝐯𝐚𝐧𝐢𝐥𝐥𝐚 𝐞 𝐏𝐮𝐫𝐞𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰)Where stories live. Discover now