— Tudo bem — disse, cruzando uma perna sobre a outra e apoiando o bloco de notas no colo. — Mas eu quero tentar entender você, Shadow. Não como um caso. Não como "o paciente do quarto de segurança máxima". Mas como uma pessoa. E você pode responder ou não. Eu só vou perguntar. E tudo bem se você disser não.
Shadow ficou em silêncio. Sabia que aquilo, para alguém como ele, já era metade da vitória.
Então começo:
— Você disse ontem que as brancas eram suas — disse, tentando puxar algo neutro. — Você sempre joga de brancas?
Shadow deu um riso pelo nariz.
— Claro. Quem joga de pretas é quem gosta de perder.
Mordi a língua para não comentar que estatisticamente as brancas realmente ganhavam mais. Shadow provavelmente ficaria irritado com o óbvio. Em vez disso, disse:
— Você é competitivo?
— Não. Eu só gosto de ganhar. Competitividade é coisa de gente que acha que tem chance de perder — respondeu Shadow, sem hesitar.
Ok. Não era exatamente hostil. Era só... Shadow sendo Shadow. Continuo:
— Você sente falta de dar aula?
Shadow virou o rosto devagar, como se estivesse sendo puxado para trás no tempo. Algo no ar enrijeceu. A voz dele perdeu um pouco do sarcasmo habitual ao responder:
— Não.
Mas percebi que o "não" não era um "não". Era um muro. Um tijolo colocado à força. Eu não insistiu no tema. A mudança de tom de Shadow era um aviso claro.
— Certo — murmurei — Eu queria falar sobre uma coisa que você mencionou ontem. Você falou sobre—
Shadow virou a cabeça imediatamente, os olhos estreitos.
— Não vai perguntar dos meus filhos — disse, num tom firme e cortante.
Pisco.
— Shadow, eu não ia perguntar nada invasivo. Só queria conversar. Você mencionou que—
— Eu sei o que eu mencionei — interrompeu ele, a voz ficando mais baixa, mais perigosa, mas não ameaçadora... apenas cheia de espinhos. — Não fala deles.
Pensei em recuar, mas não completamente. Precisava tentar. Justo, profissional, humano.
— Tudo bem — disse, devagar. — Eu só ia perguntar os nomes.
Shadow me encarou por longos segundos. O ar ficou pesado, mais pesado do que em todas as visitas anteriores. Ele parecia medir cada detalhe do meu rosto, buscando falhas, intenções escondidas, algum motivo para confiar ou para expulsar.
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𝐋𝐨𝐫𝐚𝐳𝐞𝐩𝐚𝐦 𝐕𝐢𝐯𝐨 (𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰𝐯𝐚𝐧𝐢𝐥𝐥𝐚 𝐞 𝐏𝐮𝐫𝐞𝐒𝐡𝐚𝐝𝐨𝐰)
FanfictionSempre dizem que "ninguém é de ferro" e aprendemos isso de maneiras diversas. Mas se um psicólogo teve momentos traumáticos que ainda não cicatrizaram, seria certo se ele tratasse alguém pior? Qual a diferença entre esquizofrenia e ansiedade? Nenhu...
~•|| Capítulo 06 ||•~
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