•~•~•~Ecos da chuva~•~•~•

5 1 0
                                        

~Alicia~

   A chuva cai sem pressa, deslizando pelo vidro do carro como se quisesse apagar o que aconteceu algumas horas atrás.

Paris inteira parece mergulhada num silêncio pesado. - o tipo de silêncio que vem antes de algo ruim.

Encosto a cabeça na janela e observo meu reflexo distorcido na água. Cabelos desalinhados, olhar distante. Não sei dizer se estou cansada ou apenas...vazia.

Não devia ter sentido nada.
Mas senti.

A imagem de Raven insiste em voltar. Faz anos desde a última vez que a vi, e mesmo assim, é como se o tempo tivesse mudado a superfície, não a essência.
Ela continua sendo um problema.
Bonito, perigoso e irritante.

O carro para em frente à mansão. Não espero o motorista abrir a porta; desço sozinha, a chuva molhando o casaco escuro, o ar frio bate no rosto, e por um instante, tudo parece suspenso.

A casa está silenciosa.
O tipo de silêncio que grita.

As paredes me observam - ou talvez seja o peso das lembranças. Subo as escadas devagar, os saltos ecoando pelo corredor até o escritório. O cheiro de whisky e tabaco ainda está lá, o mesmo que sempre anunciava a presença do meu pai.

Jogo o casaco sobre a poltrona e acendo o abajur. A luz amarelada revela a bagunça organizada da mesa - papéis empilhados, um copo pela metade, uma arma descarregada.

Sento.
Respiro.
Quase esqueço que o mundo lá fora existe.

Até o celular vibrar.

Olho a tela: número desconhecido.
Abro a mensagem.

"Eles estão mortos"

Por um segundo acho que li errado. Mas a frase continua ali, fria, imutável, como uma sentença.

Seguro o aparelho com firmeza, o coração latejando no peito – não por dor, mas por alerta. Digito uma única palavra.

"Quem?"

A resposta veio rápida, como se já estivesse esperando:

"Karter Moreau e Lucien lefèvre. mesma noite. Mesmo lugar."

Meus dedos paralisaram.
O copo na beira da mesa cai E se espatifa no chã, o líquido escorrendo em um vermelho escuro. Não me movo.

Meu pai.
E o pai dela.

Ambos mortos.
Na mesma noite.

Por um estante, o ar parece desaparecer. Depois o instinto volta. Me levanto, encaro a janela e observo o reflexo da cidade molhada.
Não há lágrimas.
Não há choque.
Apenas cálculo e ódio.

Eles sempre disseram que o poder cobrava caro. Mas nunca imaginei que o preço seria esse.

Fecho o punho e deixo a respiração sair devagar.

Raven.

De alguma forma ela vai saber. E quando souber...nada voltará a ser como antes.

Porque o reencontro dessa noite não foi uma coincidência.
Foi um aviso.

E eu pretendo entender o que ele significa – nem que isso custe o resto da minha humanidade.











cinzas da paixãoDove le storie prendono vita. Scoprilo ora