cinzas da paixão

•~•~•~o reencontro~•~•~•

~Alicia~

Paris como sempre estava cinza, fria e silenciosa, como se o mundo tivesse decidido segurar a respiração. Eu caminhava pelas ruas estreitas, passos medidos, olhos atentos a cada detalhe, mas todos voltados para ela.

Raven

Parada sob a luz trêmula de um lampião, os cabelos negros caindo em ondas perfeitas, os olhos verdes fixos no meu rosto. Ela não sorriu, mas havia algo na forma que ela me encarava que me fez prender a respiração - mesmo que eu não admitisse.

- Alicia? - sua voz saiu hesitante, tentando manter firmeza.

- Raven - seco, neutro, sem emoção.

Ela recuou levemente, mas não se afastou. Eu a observava, registrando casa gesto, cada detalhe: postura, expressão, respiração. Nada escapava ao meu olhar calculista.

- Você mudou - disse ela, controladora.

-Nada que valha a pena notar. - respondi, quase cortante.

Silêncio, apenas o vento passando entre nós. Ela tentou me decifrar. Mas não havia nada a revelar. Eu senti saudades, claro. Mas não deixaria que isso transparecesse em minhas palavras ou gestos. Meu rosto permaneceu neutro, Minha postura rígida, como sempre.

Ela inclinou ligeiramente a cabeça, um gesto simples, mas que carregava curiosidade e desafio ao mesmo tempo. Eu permaneci imóvel, mantendo distância, apenas deixando que a tensão entre nós crescesse sozinha. Cada detalhe dela, cada movimento, estava registrado na minha mente, como se estivesse memorizando tudo para um jogo que ninguém mais conhecia.

E ali estávamos, separadas por passos, mas conectadas de uma forma silenciosa e perigosa este encontro não tinha pressa. Cada gesto, cada olhar seria um teste. E eu não pretendia perder.

- Então...você realmente mantém essa postura de sempre. - a voz dela saiu baixa, tentando medir cada palavra.

- Não é postura - respondi - É só...atenção

Ela sorriu, curto quase imperceptível, mas carregado de desafio. E mesmo que eu não admitisse, cada centímetro dela, cada detalhe de seu corpo e expressão ficava registrado na minha mente, como uma marca invisível que eu não deixaria escapar.

- interessante... -disse ela, desviando o olhar por um instante, só para encara-la novamente. - Você observa tudo, mas não revela nada. É exaustivo te enfrentar assim.

- não estou aqui para revelar nada. -murmurei. - estou aqui apenas para ver.

O vento aumentou, arrastando folhas pelo chão, e Raven deu um passo leve para o lado aproximando-se da luz do lampião, o que me obrigou a ajustar minha postura.
Cada movimento seu parecia um teste silencioso, uma provocação sutil. Eu sentia algo - talvez lembranças, talvez curiosidade - mas mantive a expressão neutra. Nada escaparia de mim.

E ali continuamos, separadas por passos, mas ligadas por algo invisível e intenso. Paris parecia indiferente, mas cada sombra projetada pelo lampião parecia conspirar a nosso favor, criando um palco perfeito para esse reencontro silencioso.

E naquele instante ficou claro: esse reencontro não era sobre palavras ou aproximação. Era sobre atenção. Sobre observação. Sobre cada detalhe silencioso que carregava o peso de anos sem contato.

E eu não pretendia perder nada.