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📍 Dᴜʟᴜᴛʜ, Mɪɴɴᴇsᴏᴛᴀ
Enquanto esperava pelo voo, notei que minha avó estava inquieta. Suas mãos enrugadas se moviam sem propósito sobre a barra do casaco — como se aquele gesto pudesse silenciar os pensamentos barulhentos em sua cabeça. Seus olhos pareciam carregar mais do que apenas preocupação. Ela queria dizer algo, mas hesitava.
— Tem certeza de que voltar é o melhor pra você? — ela perguntou, sem rodeios. — Aquela cidade... não vai te fazer bem.
A pergunta ficou no ar por alguns segundos, pesada. Eu não sabia como responder. Talvez porque não tivesse certeza de nada — só da necessidade que me empurrava pra frente. E essa necessidade, por mais irracional que parecesse, falava mais alto que o bom senso.
— Preciso fazer isso. — respondi, sem drama. — É só... algo que preciso enfrentar. Fugir não tem funcionado — escutei seu suspiro. — eu não sou mais uma adolescente. — Conclui, não havia mais espaço para as fugas do passado, fugir não traria meu pai de volta e nem me faria entender o que realmente aconteceu naquela noite.
Depois que meu pai morreu, ainda tentei ficar com minha mãe. Cinco meses. Esse foi o prazo da nossa tentativa fracassada de convivência. A dor falava línguas diferentes entre nós — e nenhuma delas era compreendida. As brigas eram constantes, os silêncios, piores. Até que eu fui embora. Escolhi minha avó. E minha mãe não tentou me impedir. Só deixou que eu fosse. Como se, no fundo, também não soubesse mais como continuar sendo mãe.
Amélia Moretti. Minha avó paterna. A mulher que me segurou quando tudo desabou e o mundo inteiro fingia que eu devia seguir em frente.
Encarei seus olhos marejados e forcei um sorriso fraco, tentando passar uma confiança que eu mesma não sentia.
Quando chamaram meu voo, ela se levantou devagar. Seu abraço foi longo, como se ela quisesse memorizar meu cheiro, meu toque, tudo. Meu pai foi seu único filho. E eu, sua única neta.
E isso, tornava a despedida mais dolorosa. Eu queria ficar com a minha vó mas fugir do meu trauma, tornará impossível superar e entender tudo. Além disso, fugir da minha mãe também cria mais obstáculos.
Duluth ficou para trás rapidamente, engolida pelas nuvens acinzentadas. Por mais que a cidade fosse pequena e fria, foi lá que eu me escondi nos últimos quatro anos. Onde as perguntas eram mais silenciosas, e os fantasmas, mais distantes. Agora, estava indo de volta para o centro de tudo. Chicago.
A paisagem pela janela era só um borrão. Minha cabeça, no entanto, estava mais nítida do que nunca.
Voltar era aceitar que a história não terminou direito, que a versão oficial não me basta. Que a nova vida da minha mãe, com um homem que mal conheço e não confio, não me parece casual.