Capitulo 2 - Dias infernais -Degustação

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Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo
Só sente falta do sol, quando começa a nevar
Só sabe que a ama quando a deixou ir
Só sabe que estava bem quando está se sentindo pra baixo
Só odeia a estrada quando está com saudade de casa
Só sabe que a ama quando a deixou ir
E você a deixou ir

Let Her Go - Passenger.

Rafael.

       A penumbra da sala anuncia a que ponto cheguei. A única luz que vejo é as dos faróis dos carros que passam freneticamente lá fora. Em pleno sábado, e eu aqui neste apartamento, jogado em meu sofá, olhando para lugar algum, procurando um motivo que me faça ter animo de levantar-me e fazer alguma coisa por mim mesmo.

Gostaria muito de encontrar o cantor Cézar Augusto e parabeniza-lo pela canção que ele compôs e eu nunca achei que fosse me identificar tanto. A Merda do "As luzes da cidade acesa, clareando a foto sobre a mesa, e eu comigo aqui trancado, neste apartamento", nunca fez tanto sentido. Sempre tive raiva desta música, e agora parece que é a musica da minha vida.

Aquele maldito almoço na minha cabeça. Penso em como a vida muitas vezes nos golpeia. As mudanças acontecem sempre, e nunca avisam quando vão chegar. Em um momento estamos bem fazendo planos e um segundo depois, vemos tudo aquilo ir por agua a baixo, ou simplesmente não sair como imaginamos.

Sempre valorizei minha amizade com Daniel. Porque não somos apenas amigos, mas somos irmãos. Daniel faz parte da minha vida. Sempre esteve comigo em todos os momentos, dos piores aos melhores.

Sou de uma família pequena. Coincidentemente não tive meu pai, mas tive minha mãe, que valeu pelos dois. Mas que hoje infelizmente não pode estar comigo. Não quero dramatizar, mas também não posso suavizar o fato de ter perdido minha mão e minha única irmã em um acidente de carro.

Aqueles momentos em que achamos que nada de ruim acontece com a gente e só acontece com outros passou na minha vida. Um furacão veio, e saiu arrastando tudo, tirando as coisas de ordem e deixando uma bagunça total. Bagunça essa que procuro consertar e arrumar até hoje.

Sempre fui muito cauteloso na hora de dirigir. Mas nesse dia, a cautela foi substituída pela imprudência. Estávamos em uma festa de casamento, destas da roça. Esses casamentos que você conhece seus parentes mais distantes e escuta sua mãe falar: "Comprimente seu primo', e na verdade aquele dever ser o primo terceiro do seu primo terceiro, se é que você consegue me entender.

Naquele dia Ana, minha irmã estava eufórica com o casamento, e com a prova que ela faria que se saísse bem, garantiria a vaga no tão sonhado curso de enfermagem.

Ela já estava estudando há tempos, e tinha certeza que ela passaria. Já eu, não podia dizer o mesmo! Aquela festa estava me matando. Já não aguentava mais olhar, aquele tanto de menino correndo para cima e para baixo, desenfreados, sem ninguém para segura-los. A única coisa que me deixou bem legal, foi a quantidade de doces que serviam.

E sim, doces eram à vontade...

Ana, logo apareceu, querendo ir embora. E apesar de termos combinados que só iriamos no outro dia pela manha bem cedo, acabei cedendo ao pedido de minha irmã, que me convenceu que chegar de madrugada era melhor que pela manha. Assim ela descansaria um pouco antes da prova.

Chamei minha mãe, que mesmo meio a muxoxos, entrou no carro. Ana estava sorridente, e mesmo que eu pudesse me manter sério, eu não conseguia. Ana tinha esse poder! Fazer-me feliz, apenas com o olhar e seu sorriso.

Sempre - DEGUSTAÇÃO.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora