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            Este domingo seria longo e produtivo. De início precisaria acordar cedo para ir até a casa de minha tia buscar o presente da Duda, que havia encomendado há alguns dias. Minha tia trabalhava com bordados, o que ela mais costumava vender era em almofadas, que era o caso da minha encomenda.

Por mais simples e clichê que pudesse ser, esse era o presente que minha melhor amiga havia escolhido e era claro que eu a presentearia da sua forma preferida.

— Você poderia me levar para buscarmos o presente da Duda? — Perguntei para mamãe que estava sentada ao meu lado na mesa do café.

— Claro. — Respondeu sorridente. — Poderíamos aproveitar para almoçarmos fora nós três.

Papai parece ter ficado animado com a sugestão, o que era mais uma atitude estranha vindo de ambos. Era como se eles estivessem a ponto de aprontar alguma coisa.

— O que aconteceu? — Perguntei para o meu pai pela quinta vez enquanto almoçávamos.

— Nada. — Respondeu dando de ombros. — Só consegui um sócio para a empresa.

— Um sócio que conseguirá investir bastante. — Mamãe completou.

Era claro que sua felicidade era duvidosa, sempre estaria relacionada ao seu trabalho. Isso murchou um pouco minhas expectativas de que eles apenas estariam animados por estarem passando um pouco de tempo comigo. Acredito que seu trabalho era seu maior amor.

— Soube também que ele têm um filho da sua idade. — Contou.

— Você deveria conhecê-lo. — Mamãe sugeriu.

Olhei surpresa para o que ambos estavam querendo dizer mesmo que indiretamente.

— Vocês estão querendo jogá-lo para cima de mim? — Perguntei um tanto com raiva.

— Claro que não. — Papai tentou desconversar. — Vocês poderiam ser amigos.

O tom que ele utilizara, a forma como dissera as palavras, como me encaravam com expectativas, era nítido que suas vontades eram outras. Eles queriam que de alguma forma eu tivesse algo com o tal menino. Provavelmente isso viria a beneficiá-los mais ainda.

Fazia parte da minha rotina adentrar o closet exagerado que mamãe havia mandado fazer para mim, e não encontrar nada que me chamasse atenção. Era como se eu já tivesse utilizado tudo tantas vezes que não me dava vontade de vestir nada.

Como a festa seria durante à noite e haveria música, a melhor opção seria optar por um look mais curto por conta do calor e da flexibilidade.

Optei por uma blusa preta de alcinha com vários girassóis em volta — uma das minhas preferidas por sinal — e meu shorts jeans novo que havia ganhado de mamãe há um mês. A minha primeira opção de calçado era sempre o mesmo: alto, todo preto e fechado.

— Já está indo? — Papai perguntou assim que me viu pisar no último degrau da escada.

— Sim, por que? — Perguntei curiosa.

— Seria muito legal se você conseguisse vir mais cedo para casa hoje. — Respondeu nervoso. — Nossos sócios irão vir jantar aqui esta noite e gostaria que você conseguisse chegar pelo menos para a sobremesa.

— Vou ver o que posso fazer. — Afirmei.

Antes de sair com um ponto de má vontade depositei um beijo na testa de ambos. Meus pais sabiam que eu não gostava de misturar seus trabalhos com a minha vida pessoal e estava mais do que na cara que queriam me apresentar para o filho de seu mais novo sócio.

O que é que tem? (DEGUSTAÇAO)Where stories live. Discover now