Capítulo 17

2.2K 150 49
                                    

Às sete horas Faith já estava pronta. Escolheu um vestido branco com detalhes de renda no busto, que lhe cobria as coxas até pouco acima dos joelhos. Os cabelos estavam escovados e soltos. Seu rosto estava limpo e os lábios, cobertos por um batom rosa pálido. No pescoço usou duas gotas de seu perfume favorito.

Tentando não parecer ansiosa, deixou o quarto e desceu com similada distração. Nicole e Joseph conversavam, sentados no sofá. Helen e Mason estavam no quintal. Seu pai, sentado à escrivaninha, limpava seu rádio. Sua mãe, na cozinha, cuidava dos últimos detalhes da paella que seria servida no jantar.

Depois de ter sua ajuda recusada por Constance, Faith voltou à sala, sentindo-se deslocada. Parecia que os braços lhe sobravam, as mãos não tinham pouso fixo. As pernas impacientes clamavam por serem amolecidas de vez para serem salvas da agonia da espera. O coração batia numa velocidade imprópria e sua mente, a todo instante, pregava-lhe peças. A cada minuto acreditava ter ouvido o ranger baixo do portão ou passos no caminho de cascalho que levava até a porta principal. Ao verificar o relógio sobre a lareira viu que se passara apenas dez minutos.

Morreria de ansiedade antes do jantar e a culpa seria daquele padre irritantemente pontual; decidido a perturbá-la com toques e palavras sussurradas. Poderia estar errada sobre o corretivo, mas seus ombros ainda queimavam onde as mãos dele apertaram. Nem mesmo uma sessão de banho demorado e íntimo livrou-a da sensação. E agora ele não vinha. Não vinha nunca!

Melhor se ocupar. Refreando o desejo de estalar os dedos – o que denuciaria sua impaciência –, aproximou-se do pai e puxou conversa sobre a pescaria. O assunto tomaria horas se fosse preciso, mas serviu bem até que ouvisse três toques firmes e breves à porta. Esteve tão distraída que nem o ouviu chegar.

– Abra a porta, Faith – Elliot pediu, enquanto se levantava para receber seu convidado.

A moça invocou uma força que nem sabia ter para atendê-lo. Quando chegou ao seu destino, odiando o vestido escolhido e recriminando-se por não ter usado um batom mais atraente, ela inspirou profundamente e abriu a porta. Parada diante de Jonathan, Faith sentiu como se não o tivesse encontrado mais cedo. Seu coração se encheu de contentamento enquanto seus olhos registravam cada detalhe daquele homem bonito à sua frente.

Buona sera, Faith – murmurou ele. Elevando a voz para que todos o ouvissem, repetiu: – Boa noite!

– Boa noite! – Faith murmurou e ouviu o pai dizer, exatamente às suas costas: – Entre senhor, por favor!

A moça lhe deu passagem, resistindo ao desejo de farejá-lo para sentir um pouco mais daquele cheiro bom de sabonete que os homens exalavam ao sair do banho. Como fora tonta ao imaginar que ele carregaria algum odor de perfume! Com certeza padres não se davam a esses luxos. De toda forma, nenhuma fragrância lhe fazia falta, determinou apaixonada.

– Sou Elliot Green.

Faith viu o pai cumprimentar e estender a mão, avaliando Jonathan descaradamente.

– Jonathan De Ciello. – Este apertou a mão estendida.

– O novo padre. – Elliot ainda segurava a mão, analisando seu rosto. – Quando Constance me disse que era jovem não imaginei que fosse tanto.

– Eu lhe disse que ele tinha a idade de nosso filho, querido – lembrou-o Constance, vindo da cozinha para cumprimentar o recém-chegado. Por fim, Elliot soltou a mão de seu convidado, deixando que ele seguisse para o meio da sala onde recebeu os cumprimentos de todos. Atraídos pelo tom das vozes, Mason e Helen vieram do quintal. A moça, antes mesmo de falar com o padre, procurou a amiga com os olhos, como se desejasse ver-lhe a reação. Faith, ainda se recuperando da costumeira privação de sensibilidade, apenas lhe piscou.

Enigma - Segredos & Mentiras [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora