8 / Beijo

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Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando acatei o pedido de Sophie

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Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando acatei o pedido de Sophie. O bom senso me fugira decerto. Só assim para eu me permitir cometer um deslize desta magnitude.

O relógio marcava 4h. Nenhum cliente à vista. Uma freira alcoolizada dançava à minha frente, e eu dava corda. Divertia-me e, por isso, deixava rolar. No fundo, queria ver até onde ela iria.

E se ela iria longe o suficiente para saciar minha curiosidade.

Seus braços se erguiam, dançavam no ar. Depois se abaixavam, junto com o seu corpo como um todo. Suas mãos acompanhavam seu rebolado hipnotizante. Vez ou outra, elas percorriam seu corpo, como se ela estivesse, de fato, sensualizando. Até parece que ela faria isso. Delineavam levemente as curvas escondidas pelas roupas folgadas e nada lisonjeiras.

Meus lábios secaram em decorrência do quão boquiaberto fiquei. Tive de umedecer os lábios enquanto a observava, o que parecera uma demonstração ainda maior do quão interessado em sua dança eu estava.

Não bastava ter me sentado — graças à exaustão que me impediu de acompanhá-la até o fim — e continuado a observá-la, eu precisava lamber os beiços e parecer um tarado cheio de fetiches recebendo uma dança privada de uma mulher fantasiada de freira.

Eu devia ter sido melhor que isso. Eu não tinha idade para querer fazer experimentos sociais com uma moça ingênua. Nem combinava comigo este papel de aproveitador.

Ainda assim, quase me rendi à inconsequência. Não era todo dia que uma mulher praticamente coberta dos pés à cabeça despertava em mim desejos tão obscenos. E deixava-me indefeso contra seus encantos.

Eu precisava de muito pouco para me cativar. Verdade seja dita. Bastava-me um olhar, um sorriso, para uma completa rendição. Com ela não estava sendo diferente. Até o toque em meu antebraço quando ela inventou de pedir vodca com tônica me espevitou.

Nunca quis tanto ter um coração de pedra só para me blindar destes sentimentos. Afastar-me emocionalmente seria uma boa pedida. Mas não fazia meu estilo. Nem sei se eu conseguiria cumprir um compromisso desses.

Por não ter o que precisava nem para ser um homem de gelo, nem para esmagar aquela rata, resignei-me. Após entregá-la para a segurança de seu lar, voltei para casa de mãos abanando, como vinha fazendo todos os dias pelos últimos anos.

Sim, estava bastante acostumado a encontrar a solidão no caminho de casa. Não mais levava mulheres para meu apartamento, nem quando eu descolava uma rodada de sexo sem compromisso — aliás, em especial nesses casos. Não podia me dar ao luxo de começar a brincar de casinha e me encher de esperanças (só para depois quebrar a cara).

Exausto e sentindo o prenúncio de dores nas juntas, cortesia de dançar até o esgotamento, cruzei a sala a passos arrastados, tirei as roupas ainda em movimento, jogando-as em qualquer canto, e me enfiei no banheiro.

Enquanto tomava um banho frio para expurgar a carga pesada da noite, por um minuto consegui me enganar. Por um instante pensei que conseguiria terminar meu banho na mais perfeita paz. Errei feio.

Fosse me ensaboando ou deixando a água correr pelo corpo, o pensamento me perturbou como uma agulha a me espetar — de tão inconveniente e levemente doloroso. Você devia ter beijado a garota, ele dizia.

Isso era o que meu corpo me dizia com afinco — com uma determinação invejável, típica de mim. Jamais seria algo ao qual eu pudesse me permitir. Era uma cilada. Mais uma arapuca do amor. Havia uma armadilha dentro da armadilha e eu sabia qual era.

Era eu mesmo. Eu e minhas vontades. Ou melhor, àquela altura, necessidades.

Se eu a beijasse, não iria parar por aí. Não com o fogo me consumindo de dentro para fora. Muito menos com aquele rostinho me olhando com a indecência do mundo inteiro.

Se eu a beijasse, já não ligaria para eventuais castigos divinos ou algo parecido. Colocaria a consciência em uma gaveta, trancaria a sete chaves, e deixaria para lidar com ela em outro momento só para não estragar a diversão.

Se eu a beijasse, desejaria repetir a dose. Um beijo atrás do outro. Incontáveis vezes. De forma contínua, mesmo se perdesse o fôlego. Até não poder mais. Somente nessa intensidade eu me satisfaria.

Se eu a beijasse... Ah, se eu a beijasse!

A ideia era tão errada que eu queria que fosse certa. Certa e plausível. Em qual universo uma freira iria querer me beijar? E digo mais: em qual universo a irmã de um amigo meu iria querer me beijar?

Se havia alguém com azar de sobra nesse campo, esse alguém era eu. Era expert em levar fora da irmã do Vacchiano. E, caso tentasse um dia — por algum acesso de coragem, estupidez ou ambos — levar meus pensamentos adiante e torná-los ações, me tornaria especialista em receber "não" da irmã do Dubois também.

Não havia por que me ater a esses pensamentos inconvenientes de um banho que se tornara reflexivo demais para o meu gosto. Ainda assim, me ative. As ideias ficaram inculcadas na minha mente e, mesmo depois de me vestir, lanchar e me render ao sono, flagrei-me pensando nelas. Nela, em específico.

Virei e revirei-me na cama, tentando afastá-la na marra. Contudo, quanto mais eu tentava, menos efeito obtinha. Era como querer vencer a escuridão com apenas um palito de fósforo e a ilusão de que uma andorinha voando só é capaz de fazer verão.

No fim, acordei injuriado, extremamente mal-humorado — dado o péssimo dia de sono — e ainda em desassossego. Diante desse cenário desastroso, começava a me questionar o quão mais difícil ficaria lidar com a "proibida pra mim" dali para frente.

Para piorar, eu nem poderia clamar por uma ajudinha de cima. O Céu não estaria do meu lado.

É, meu amigo, tu tá sozinho nessa :'(

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É, meu amigo, tu tá sozinho nessa :'(

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Beijos mil 🩷

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